Como pais podem trabalhar a depressão na adolescência?
Segundo especialistas, é crucial compreender que esse sentimento de desespero e angústia pode variar de acordo com o ambiente político e cultural
A adolescência é uma fase caracterizada por intensas mudanças físicas, emocionais e psicológicas. Nesse período, é comum que muitos jovens passem por momentos de angústia e mal-estar, o que pode ser confundido com depressão. Em uma entrevista concedida ao g1 em 2018, o psicanalista Mário Corso explicou que essa fase da vida é marcada por um "mal estar da civilização", onde os adolescentes começam a perceber as realidades do mundo de maneira mais clara e crítica.
A depressão na adolescência pode ser uma parte das transformações naturais dessa fase. Segundo especialistas, ela não necessariamente configura uma doença ou transtorno mental. Porém, é crucial compreender que esse sentimento de desespero e angústia pode variar de acordo com o ambiente político e cultural. No Brasil e em vários outros países, a falta de esperanças pode agravar essa percepção negativa da vida entre os jovens.
Como diferenciar sintomas de depressão e os da adolescência?
Identificar a depressão na adolescência nem sempre é fácil, pois muitos dos seus sintomas são comuns dessa etapa da vida. Sinais como irritação, ganho ou perda de peso e apatia são facilmente encontráveis em adolescentes, mas também podem indicar um quadro depressivo.
A chave está em manter um canal de diálogo aberto com os jovens para que os pais possam observar nuances e mudanças comportamentais que vão além das típicas oscilações emocionais. Ficar atento aos detalhes pode fazer toda a diferença.
O suicídio em adolescentes não é necessariamente um resultado direto da depressão. Especialistas como o psiquiatra Elton Kanomata, do hospital Albert Einstein, explicam ao g1 que outros fatores, como predisposição genética e questões de personalidade, podem desempenhar um papel significativo.
Além disso, grupos específicos, como adolescentes LGBTQIA+, apresentam maior vulnerabilidade devido a fatores sociais e estigmatização. Pesquisas indicam taxas mais altas de contemplação e tentativas de suicídio entre esses jovens em comparação com seus pares heterossexuais.
Prevenção do suicídio
Evitar o suicídio não tem uma fórmula mágica, mas algumas medidas podem ajudar. A observação de mudanças comportamentais significativas e a abertura para conversas sobre o tema são passos importantes.
Karina Okajima Fukumitsu, psicóloga e suicidologista, ressalta ao g1 a necessidade de avaliar se essas mudanças são graves e não características da idade. Por exemplo, roupas de manga comprida em dias quentes podem esconder sinais de automutilação. Portanto, os pais devem estar atentos e buscar diálogo.
Além disso, o tratamento psicológico e psiquiátrico adequado é fundamental para ajudar jovens com depressão. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece serviços de apoio por meio dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), onde a combinação de psicoterapia com medicamentos pode auxiliar significativamente.
O remédio pode ajudar nos casos graves, proporcionando condições para que a psicoterapia funcione melhor. No entanto, é importante lembrar que a causa da depressão não é apenas química, mas também comportamental.