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Conquistando os conquistadores: A saga de Rodrigo Bernardinelli

CEO e cofundador da Digibee conta como sua ideia de empreendimento migrou de um e-commerce de orgânicos para um competidor global

1 abr 2023 - 06h00
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Rodrigo Bernardinelli, cofundador da Digibee
Rodrigo Bernardinelli, cofundador da Digibee
Foto: Divulgação

Se houvesse um roteirista por trás da história que levou Rodrigo Bernardinelli e seus dois sócios - Peter Kreslins e Vitor Sousa - à criação da startup Digibee, ele provavelmente chamaria a atenção por sua originalidade. 

Primeiro, a locação: São Paulo - lugar, convenhamos, bem menos sexy que o tradicional Vale do Silício, de onde sai - ou saía - a maioria das ideias disruptivas do universo da tecnologia. Em segundo lugar, o perfil do empreendedor: nada de jovens geniais trajando uma combinação de blusa de capuz, bermuda, chinelo e meias; estamos falando de homens de meia idade, com carreira consolidada no mercado corporativo. Por fim, tampouco havia investimento semente de um padrinho rico após uma envolvente apresentação baseada tão somente em um power point bem diagramado: a mola propulsora foi dinheiro próprio, pedido de demissão  e vontade de empreender.

Em comum com a história de uma startup estão as cabeçadas que os três sócios deram até conquistar em 2022  um aporte de US$ 25 milhões em uma rodada de investimento Series A liderada pelo SoftBank.

A saga da verdura

Antes de contar o que a Digibee é, vou explicar o que ela tentou ser. Tudo começou em 2016, quando Rodrigo, Peter e Vitor, cansados da estabilidade e mesmice que o mundo corporativo oferece - e ofereceu por cerca de duas décadas de suas vidas -, pediram demissão e se uniram para empreender. A ideia era um aplicativo de e-commerce que conectaria produtores de orgânicos a consumidores finais. Em um resumo grosseiro, a proposta tiraria o intermediário - aka redes varejistas - a fim de aumentar os ganhos dos pequenos produtores ao mesmo tempo em que o cliente final pagaria um valor menor pelos produtos. Simples, né? Não.

Para que toda essa engenhoca funcionasse, era preciso que vários sistemas de diferentes pontas -  diversos produtores, empresas de logística, o próprio e-commerce, etc. - conversassem entre si. Para não inviabilizar o negócio, essas conexões deveriam ser automatizadas. E na busca por resolver um problema próprio, desenvolveram uma tecnologia que ficaria com esse trabalho. Pronto. Hora de colocar o carro (do ovo)  na rua loja de aplicativos móveis. Mas antes…

"Para validar nossa ideia - que a gente achava genial - fomos conversar com o Flávio Pripas, que na época era head do Cubo", contou Rodrigo em entrevista a esta que vos escreve e a Silvia Paladino, em nosso podcast sobre os bastidores do empreendedorismo, o Vale do Suplício. E caso você já tenha ouvido falar da Digibee e se questione se esse  Pripas é o mesmo que, hoje, é Chief Strategy Officer da empresa, vou te dizer que sim, é o próprio. Mas não foi essa conversa que o convenceu a deixar sua cadeira no maior hub de startups da América Latina. "Quando a gente começou a explicar tudo o que fazia, ele interrompeu e falou: 'para, para, para. Eu não tô conseguindo entender nada do que vocês fazem. Porque vocês ofertam mobilidade, e-commerce, vendem salada e fazem integração. O que vocês fazem? Vocês deveriam voltar para a casa e pensar em uma única coisa". 

Eles voltaram, sim, para casa. Mas com o sapo entalado na garganta. "A gente saiu tão bravo dessa reunião. Falamos: 'ele não entende porcaria nenhuma'". 

Quer um spoiler óbvio? Ele entendia, sim. 

A saga da peneira

Rodrigo e os sócios peneiraram as ideias. Do lado de cima ficaram as frutas, verduras e o aplicativo de e-commerce. Pelos finos poros da rede, passou a tecnologia, coadjuvante do projeto inicial que tinha como "mera" tarefa viabilizar o negócio. Mera assim, entre aspas,  porque, caso você não tenha familiaridade com o universo de tecnologia da informação, não teria como saber que a dificuldade de integração é uma das principais dores das empresas, consumindo cerca de 50% dos orçamentos da área de TI. 

Talvez você queira entender como esse problema é resolvido. Difícil tarefa a de explicar algo tão técnico. Vamos lá: cada sistema é criado em uma linguagem própria. Para facilitar a abstração, pense que o sistema financeiro de uma empresa fala alemão, e que o sistema de gestão de clientes fala inglês. Para que ambos conversem e se entendam, é preciso transpor a barreira idiomática - e esse "de-para", até pouco tempo atrás, era feito na unha, por um exército de desenvolvedores e arquitetos de informação. Processo lento, custoso e cheio de bugs. A Digibee promete, com sua espécie de "tradutor universal", reduzir esse processo de seis meses para duas semanas. Nada contra a produção agrícola familiar, mas mirando no orgânico, os três acertaram em um mercado mundial de bilhões de dólares. 

"Foi só quando a gente seguiu o conselho e conseguiu focar em uma única coisa - a plataforma de integração - que a Digibee explodiu", conta um resignado Rodrigo. "Um ano depois nos reencontramos e apresentamos a nova versão da Digibee", continua. A resposta de Pripas, segundo Rodrigo: "fazia tempo que não aparecia uma ideia tão bacana assim". Me furtei de checar a veracidade do diálogo porque a ida da Digibee ao Cubo e a sequencial chegada de Pripas à Digibee indicam que se a frase não foi exatamente essa, chegou bem perto. 

A saga da bermuda

A caixa se abriu quando Rodrigo chegou ao Cubo. "É bacana esse negócio de startup. E o Cubo é o maior centro de empreendedorismo da América Latina. As empresas que estão lá fazem parte de uma nata, porque foram escolhidas, passaram por um processo. Ficamos orgulhosos. Eu gostava de falar que estava trabalhando no Cubo, ver aquele ambiente de inovação". Nesse ambiente efervescente saíram muitas conexões de negócios e mudanças na perspectiva desse executivo, que por mais de 20 anos teve seus movimentos engessados sob a pesada camada do terno e da gravata. 

Mas obviamente que essa adaptação não foi às mil maravilhas. "Eu não aguentava mais ver o pessoal dormindo no sofá de entrada do Cubo. Terminava o almoço e o pessoal se jogava lá, com os pés na mesa. Recebemos tanta gente importante, que faz parte do nosso dia a dia de negócios. Esse foi um embate que eu perdi. Para todo mundo parecia certo e certo ficou. Não é porque eu não concordo com a lei que eu não vou respeitar" diz um Rodrigo que, apesar jurar jamais ter dormido na recepção do escritório, rendeu-se à barba por fazer e à bermuda em seu dia a dia - exceto quando visita clientes. 

A saga e a desforra

Como qualquer história de empreendedor que se preze, teve aquele momento crucial em que os sócios precisaram abrir a carteira e colocar dinheiro para a tração inicial. "Empresas sobrevivem a estratégias ruins, empresas sobrevivem até a pessoas ruins, mas tem uma coisa a que nenhuma empresa sobrevive: caixa. Acabou o dinheiro? Acabou. Game over. E nesse período de aprendizado, o dinheiro vai acabando. Quando acaba o dinheiro do projeto, começa a entrar o dinheiro do patrimônio pessoal de cada sócio. E você tem que ter uma resiliência boa para passar por esse Vale do Suplício, que todo o empreendedor precisa passar, e é bom passar para poder engrossar o coro", disse, claramente muito bem brifado com o nome do podcast. 

O coro foi engrossado, mas também recebeu uma dose de hidratante: mais de R$ 50 milhões em aportes de fundos e de empreendedores executivos, como GAA Investimentos, Paulo Veras, fundador da 99, e Laércio Albuquerque, presidente da Cisco na América Latina. 

Mas os planos da Digibee, ex-startup e atual scaleup,  são grandes e precisavam de um orçamento ainda maior. Os US$ 25 milhões da rodada Series A, que mencionei lá em cima, vieram para a verdadeira desforra do roteirista imaginário que, certamente, quer passar um recado para os Estados Unidos e sua imponência na liderança tecnológica mundial. Falando  comigo e com a Sil do escritório da Digibee recém-inaugurado na Flórida, ainda em 2022, Rodrigo explicou que a meta é conquistar os conquistadores. Se antes o Brasil era um mercado para as tecnologias geradas pelos gringos, agora é hora de o mundo consumir a tecnologia nascida aqui. 

"Nós somos uma empresas brasileira indo competir com os gringos. É isso mesmo. É difícil? É super difícil. É um desafio muito maior do que eu. Mas se a gente passar por esse desafio, acho que o mundo é nosso".

Agora nos resta aguardar o que o roteirista reserva para os próximos capítulos. 

(*) Adriele Marchesini é jornalista especializada em TI, negócios e Saúde com quase 20 anos de experiência. Depois de passar por redações de veículos como Estadão, Infomoney, ITWeb e CRN Brazil, cofundou as agências essense e Lightkeeper, as quais já ajudaram mais de 80 empresas na construção de conteúdo narrativo multiplataforma para negócios. É coâncora do podcast Vale do Suplício. 

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