Conscientização social é um dos principais caminhos para combater a poluição
A longo prazo, a exposição constante à poluição pode levar a doenças pulmonares crônicas, diabetes e até mesmo câncer de pulmão
Na última quarta-feira (11), a cidade de São Paulo foi classificada como a cidade com a pior qualidade do ar do mundo, segundo o site AQI - Air Quality Index, superando cidades como Ho Chi Minh, no Vietnã, e Lahore, no Paquistão. Este índice monitora em tempo real os níveis de poluição de cidades ao redor do mundo, evidenciando um problema que afeta diretamente a saúde e o bem-estar da população.
Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da USP, comenta que a poluição do ar não é um problema novo. A industrialização e o uso crescente de combustíveis fósseis desde os anos 1950 contribuíram significativamente para aumentar os níveis de poluição, com episódios marcantes como o "Grande Nevoeiro" em Londres, em 1952, que resultou na morte de 15 mil pessoas devido à inversão térmica e à alta concentração de poluentes.
Entendendo a poluição do ar em São Paulo
A cidade de São Paulo passou por um rápido crescimento populacional e urbano a partir da década de 1970. Este crescimento trouxe consigo desafios ambientais significativos. Embora haja uma maior consciência ambiental hoje, a cidade ainda enfrenta dificuldades para implementar medidas eficazes. Saldiva, no Jornal USP, destaca que a mobilidade urbana é uma questão central: "São Paulo tem muitas pessoas expostas. Quanto mais a cidade cresce, mais vulneráveis aparecem, seja pela exposição física à poluição, seja pela dificuldade de mobilidade."
Estatísticas alarmantes mostram que a poluição do ar é responsável por 7 milhões de mortes anuais no mundo. Dessas, 4,2 milhões estão ligadas à poluição externa e 3,8 milhões à poluição interna, como a queima de madeira para aquecimento e culinária. Doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas estão intrinsecamente ligadas à exposição prolongada aos poluentes do ar, afetando milhões de pessoas de todas as idades.
Como isso impacta a saúde?
Saldiva descreve a situação recente em São Paulo como uma "tempestade perfeita". A falta de chuvas, altas temperaturas e o estagnamento da massa de ar tornaram a dispersão de poluentes quase impossível. "Mesmo sem as queimadas recentes, a qualidade do ar estaria ruim. Com as queimadas, a situação se torna catastrófica," explica o professor. Para ele, enfrentar a poluição veicular e industrial ainda é mais gerenciável do que lidar com incêndios, cujo controle é extremamente difícil.
Mariana Veras, coordenadora do Laboratório de Patologia Ambiental e Experimental do Hospital das Clínicas da USP, alerta sobre os cuidados com a saúde nesses períodos críticos. A hidratação é essencial para minimizar os efeitos adversos nos olhos, garganta e vias respiratórias. Ela destaca que os sintomas de curto prazo incluem irritação nos olhos, secura na pele e dor de garganta. A longo prazo, a exposição constante à poluição pode levar a doenças pulmonares crônicas, diabetes e até mesmo câncer de pulmão.
Quais são os efeitos a longo prazo?
Veras apresenta estudos que identificam os perigos da poluição também para os olhos. Os gases poluentes podem causar irritação por estresse oxidativo e inflamação, levando a condições como catarata, glaucoma e outras doenças oculares. As partículas ultrafinas podem até penetrar no sistema nervoso central, afetando estruturas essenciais para a visão e outras funções cerebrais.
Os grupos mais vulneráveis, como idosos, crianças e grávidas, devem tomar precauções adicionais. Veras explica: "Para gestantes, a exposição à poluição está associada a baixo peso ao nascer e partos prematuros, além de problemas no desenvolvimento cognitivo da criança e um risco aumentado de câncer infantil. Nos idosos, a poluição pode agravar condições de saúde pré-existentes, aumentando o risco de infarto e AVC."