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COP28: as reações dos ministros de Lula à aliança com 'clube do petróleo' anunciada no meio da cúpula do clima

Na quinta-feira, a Opep divulgou que o Brasil pretende aderir à carta da entidade em janeiro de 2024.

1 dez 2023 - 15h17
(atualizado às 15h47)
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou na COP28
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou na COP28
Foto: EPA / BBC News Brasil

O anúncio de que o Brasil vai aderir à Opep+ — o grupo de países aliados à Organização dos Países Exportadores do Petróleo (Opep) — provocou reações distintas em dois ministros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que participam da conferência do clima da ONU (COP28).

Na quinta-feira (30/11), a Opep divulgou que o Brasil pretende aderir à carta da entidade em janeiro de 2024, depois de uma participação do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em uma videoconferência da entidade.

Em Dubai, nesta sexta-feira, Lula não falou publicamente sobre o assunto. Mas os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, manifestaram posições diferentes sobre o assunto.

Haddad disse não saber se o Brasil vai mesmo aderir à Opep+ e sugeriu que a decisão pode não ter sido tomada em definitivo ainda.

"Eu não conheço os termos do convite. O Brasil vai ter até junho para decidir", disse o ministro à imprensa após um evento em que lançou um plano de investimentos em energia verde.

"Eu acredito que a indústria do petróleo tem que ser a primeira a investir em descarbonização. Ela é uma das grandes responsáveis pelo problema que estamos enfrentando. Nada como as empresas do setor, como a Petrobras está fazendo, de investirem cada vez mais recursos na descarbonização e investimento pesado em pesquisa e produção de energia limpa."

Haddad afirmou que o problema do aquecimento global causado por combustíveis fósseis "existe, ninguém está negando".

Já a ministra Marina Silva afirmou que a adesão do Brasil à Opep+ significa que o país poderá usar esse espaço para defender matrizes mais limpas de energia.

"Em primeiro lugar, o Brasil não vai participar da Opep. Vai participar como observador, inclusive para usufruir daquilo que são os debates e os aportes tecnológicos", disse Marina, ao lado de Haddad em Dubai.

"O Brasil pode ter uma matriz energética 100% limpa e ajudar o mundo a que também faça sua transição energética com hidrogênio verde. Obviamente que os países que são produtores de petróleo terão que entender exatamente isso que o ministro acaba de dizer."

Ela disse que não é uma contradição o Brasil estar na Opep+ e defender a redução do uso dos combustíveis fósseis.

Taxas de desmatamento da Amazônia começaram a diminuir, segundo números oficiais
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Foto: Reuters / BBC News Brasil

'Ritmo lento'

"Se for para levar o debate da economia verde, da necessidade de descarbonizar o planeta, não [é uma contradição o Brasil entrar na Opep+]. É exatamente para levar o debate que precisa ser enfrentado no âmbito daqueles espaços que são os grandes produtores de combustível fóssil, que é o grande responsável pelo aquecimento do planeta", prosseguiu a ministra.

"Todo mundo sabe que o grande problema da humanidade é enfrentar o problema dos combustíveis fósseis. O Brasil não pode ser colocado no lugar do problema, ele é parte da solução."

Tanto Lula quando o ministro de Minas e Energia não tocaram no assunto nesta sexta-feira.

No começo da tarde, poucas horas depois da divulgação da nota da Opep+ falando sobre a adesão do Brasil, Lula fez seu primeiro discurso na sessão de líderes de alto nível da ONU sobre mudanças climáticas.

"É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis. Temos de fazê-lo de forma urgente e justa", disse Lula no seu discurso em Dubai.

"Quantos líderes mundiais estão de fato comprometidos em salvar o planeta?"

A decisão do Brasil de aderir a um grupo de grandes produtores de petróleo surpreendeu muitos ativistas que participam da COP28 em Dubai.

A conferência do clima da ONU é o principal foro global para se discutir as mudanças climáticas — e cientistas dizem que o planeta está se aquecendo em um ritmo muito mais acelerado do que o previsto originalmente.

O Brasil chegou ao encontro com a ambição de se tornar um dos líderes globais no combate ao aquecimento global — e um dos problemas apontados por cientistas é justamente a queima de combustíveis fósseis em larga escala.

Mas na reunião feita por vídeo com ministros da Opep+ na quinta-feira, o ministro de Minas e Energia de Lula fez elogios à Opep+ por gerar "benefícios aos países produtores de petróleo" e também aos consumidores de combustíveis fósseis.

"O acordo da Opep+ tem efetivamente preservado a estabilidade dos mercados de petróleo e energia. Essa estabilidade traz consigo benefícios não só a países produtores de petróleo mas também - e principalmente - aos consumidores, refletindo diretamente na economia global", disse Silveira.

"Eu gostaria de concluir minhas palavras informando que o excelentíssimo presidente Lula confirmou a nossa carta de cooperação da Opep+ a partir de janeiro de 2024. Este é um momento histórico para o Brasil e a indústria energética, abrindo um novo capítulo de diálogo e cooperação internacional no campo de energia."

A Opep existe desde 1960. A entidade negocia em conjunto cortes ou aumentos de produção que movimentam os preços internacionais.

Nos anos 1970, esses cortes geraram crises econômicas internacionais — que afetaram fortemente países industrializados, como os Estados Unidos.

A entidade à qual o Brasil pode aderir se chama Opep+ e foi formada em 2016. Os países da Opep+ podem concordar de forma voluntária a fazer cortes de produção — mas não são obrigados a fazê-lo.

Realização da COP nos Emirados atraiu críticas de ativistas pelo meio ambiente
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Foto: REUTERS / BBC News Brasil

Reféns do Hamas e Mercosul

Lula teve uma agenda movimentada em Dubai — mas com muitos compromissos bilaterais não relacionados necessariamente ao tema do meio ambiente.

O presidente se reuniu com o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, com a presidente da Comissão Europeia, Ursula Van Der Leyen, com o presidente de Israel, Isaac Herzog, e com o presidente da Espanha, Pedro Sánchez.

O ministério das Relações Exteriores disse que Lula conversou com Sánchez e com Van Der Leyen sobre o acordo Mercosul-União Europeia.

O Itamaraty disse que Lula e Van Der Leyen comentaram que houve "avanços significativos nas reuniões entre as equipes técnicas dos dois lados, em particular após a última ligação telefônica entre ambos. Comprometeram-se a dar continuidade às negociações até a próxima cúpula do Mercosul e trocaram impressões sobre o conflito no Oriente Médio".

Autoridades brasileiras e europeias têm manifestado pressa em assinar ainda neste mies o acordo que foi negociado há anos, antes que o novo presidente da Argentina, Javier Milei, tome posse, já que o argentino se opõe ao Mercosul.

Com o presidente Israel, Lula conversou sobre a situação dos reféns do Hamas — mas não foram dados maiores detalhes sobre o diálogo.

No encontro de Lula com Guterres, foi discutido o papel do Brasil na presidência do G20 e como a ONU pode ajudar neste processo.

Eles discutiram também o papel das instituições de governança global. Lula ressaltou importância de reforma do ONU, em especial do Conselho de Segurança — uma reivindicação histórica do Brasil.

Encontros com o premiê britânico Rishi Sunak e com o presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali — que estavam inicialmente na agenda de Lula — não aconteceram.

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