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COP29: Negociações por recursos ganham mais importância que redução de emissões e adaptação climática em Baku

Países desenvolvidos não aceitam mecanismos de transferência de renda para ajudar os países em desenvolvimento a reduzir suas emissões e realizar a necessária transição energética para construírem economias de baixas emissões de carbono

18 nov 2024 - 08h15
(atualizado em 19/11/2024 às 18h33)
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A COP-29, que está acontecendo em Baku, Azerbaijão, deveria ser uma reunião para estruturar políticas de redução de emissões, mas acabou se transformando em uma enorme mesa de negociações financeiras. Os países em desenvolvimento querem recursos para ajudar a reduzir suas emissões e a se adaptar ao novo clima, mas os países desenvolvidos e os produtores de petróleo não querem saber de contribuir desta forma.

Relatório da UNEP divulgado em Baku aponta que, com as atuais emissões, estamos indo em direção a um aumento médio de temperatura de 3.1 graus Celsius. Isso para o Brasil implica em um aumento de temperatura de 4 a 4.5 graus Celsius, com significativa redução de precipitação no Brasil Central e Amazônia.

Todos sabemos dos impactos econômicos e sociais desta brutal alteração climática global. Mas isso não está importando muito na COP29, já que o tema central é o financiamento e não a redução de emissões. A indústria de petróleo trouxe para Baku um exército de mais de 1.700 lobistas bem treinados para defender os interesses deles. E quem defende os interesses das populações que serão fortemente impactadas nos países vulneráveis?

A reunião do G20, ocorrendo no Rio de Janeiro, também chegou a impasses por causa de questões geopolíticas. A reunião da COP16 sobre biodiversidade em Cali no mês passado sequer teve um documento final, pois houve fortes discordâncias sobre como financiar a preservação da biodiversidade.

A obrigação de repartir benefícios obtidos pelo uso econômico da biodiversidade com os países detentores dos recursos naturais e com os povos indígenas e comunidades locais que detém o conhecimento tradicional sobre a natureza é um dos três pilares da Convenção de Biodiversidade. Mas a questão financeira de como preservar a biodiversidade ficou sem solução na COP16 em Cali.

Estas "confusões" em três reuniões críticas para o futuro de planeta não ocorrem acidentalmente. Temos sérios problemas de governabilidade neste nosso complexo mundo atual. E isso tudo antes da mudança de governo nos Estados Unidos. Países desenvolvidos não aceitam mecanismos de transferência de renda para ajudar os países em desenvolvimento a reduzir suas emissões e realizar a necessária transição energética para construírem economias de baixas emissões de carbono.

A solicitação principal na COP29 é um fundo da ordem de 100 bilhões de dólares por ano. Estes recursos correspondem a uma fração da receita da indústria do petróleo, estimada em mais de US$ 2 trilhões. Os custos da adaptação e mitigação de emissões dos países em desenvolvimento já sobem a mais de US$ 1 trilhão por ano.

Com os eventos climáticos extremos aumentando rapidamente, a conta dos impactos vai subir significativamente. Os gastos com as atuais guerras também são muito impactantes, bem como o nível insustentável de consumo dos países desenvolvidos.

Na área climática, as emissões de gases de efeito estufa continuam a aumentar apesar das 29 COPs. Vemos as sociedades assustadas com o aumento dos eventos climáticos extremos, que já causam fortes estragos no mundo todo. O sistema econômico só consegue enxergar os lucros maiores possíveis no curtíssimo prazo, não importa as consequências sociais ou econômicas no futuro.

Esta indústria pode estar inviabilizando a vida de bilhões de pessoas vulneráveis ao longo deste século. Mas isso não importa. Precisamos de uma governança global. O presidente Lula está batendo forte na tecla de reforma da ONU e estruturação de uma nova ordem global. Mas, com Trump, Milei e outros governos de extrema direita, esta bandeira fica cada vez mais difícil.

Temos que mudar radicalmente o sistema de governança global. Sem isso, COPs de biodiversidade, COPs climáticas e reuniões de G20s não darão conta das necessidades urgentes das populações afetadas. Não podemos esperar um consenso entre 196 países com os complexos problemas geopolíticos e com a radicalização que estamos vendo em todo o mundo.

É fundamental evitarmos um colapso do sistema climático global. Este colapso pode estar mais perto do que a Ciência projeta. Alguns tipping points como o colapso da Amazônia e da circulação termoalina global podem estar próximos. Bilhões de pessoas poderão ter suas vidas comprometidas, e não temos muito tempo para mudar o caminho que nossa sociedade está traçando. Mão à obra.

The Conversation
The Conversation
Foto: The Conversation

Paulo Artaxo não presta consultoria, trabalha, possui ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que poderia se beneficiar com a publicação deste artigo e não revelou nenhum vínculo relevante além de seu cargo acadêmico.

The Conversation Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons
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