2 a cada 3 Estados apostam em teste de covid menos eficiente
Em ao menos 19 dos 27 Estados, o número de testes de RT-PCR, o único capaz de detectar casos ativos de covid, é inferior a outros tipos de exames
Considerada a única modalidade eficiente para o controle da pandemia do novo coronavírus, o teste de RT-PCR é realizado em menor escala por dois a cada três Estados do Brasil. Levantamento do Estadão, com base em dados dos governos estaduais, mostra que em ao menos 19 unidades federativas os exames moleculares representam menos de 50% do total de análises para covid-19.
Segundo especialistas, só o teste molecular (PCR) permite identificar os doentes ativos, ajudando assim a diminuir a transmissão. "Por exames sorológicos, entre eles os testes rápidos, eu não sei se a pessoa está infectada hoje ou se foi na semana passada, no ano passado. Não dá para saber", explica o imunologista Alessandro Farias, responsável por coordenar a frente de diagnósticos na Força-Tarefa Contra a Covid-19 da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Para o balanço, a reportagem solicitou dados às 27 secretarias de saúde sobre o total de exames e os tipos de teste aplicados em cada Estado. Também foram consultados boletins epidemiológicos, plataformas de monitoramento e informações divulgadas por governos locais até o dia 9.
Responsável pelo primeiro caso de coronavírus no País, no fim de fevereiro, São Paulo realizou até o momento 392,7 mil exames PCR, segundo balanço parcial da Secretaria da Saúde. O índice representa 43% dos 911,5 mil testes concluídos na rede pública do Estado. Já os testes rápidos somam 401,6 mil (44%).
No Rio, a diferença é ainda maior. O governo diz ter feito cerca de 58 mil análises PCR e distribuído pelo menos 586,9 mil testes rápidos, dez vezes mais. O resultado é parecido no Distrito Federal, que chegou a apostar até em testagem "drive thru". Foram 403,7 mil exames, ao todo. Entre eles, os moleculares são 44,9 mil (11%).
Os testes PCR são minoria, ainda, em Minas, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso do Sul. Já nas regiões Norte e no Nordeste, o cenário se confirma até em Estados que chegaram ao limite do sistema de saúde, como Amazonas, Pará, Pernambuco, Ceará, Maranhão e Rio Grande do Norte. Em Rondônia, Acre, Paraíba, Alagoas e Piauí também se faz menos testes moleculares quando comparados a outros tipos.
Segundo o levantamento, só três Estados têm maior proporção de PCR. Em Santa Catarina, o governo afirma ter realizado 110,2 mil exames moleculares, o que representa 67% do total. Os outros são Espírito Santo (61,4%) e Sergipe (59,8%) - embora, em número absolutos, este último tenha realizado apenas 60,7 mil exames, já considerando todos os tipos.
Por sua vez, a Bahia relata ter realizado 117,4 mil testes de PCR, uma das maiores quantidades do País, mas não informa quantos testes rápidos foram aplicados. Com as informações disponíveis, também não foi possível fazer o comparativo de Tocantins, Roraima, Amapá e Mato Grosso.