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Coronavírus

Abin alertou governo sobre pandemia na Petrobrás e greve

Agentes de inteligência informaram ao presidente que a estatal teve 872 infectados em apenas nove dias; segundo sindicatos, situação têm se agravado desde maio

17 jun 2020 - 12h09
(atualizado às 12h21)
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Presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada
09/06/2020 REUTERS/Adriano Machado
Presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada 09/06/2020 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) alertou o Palácio do Planalto e ministros do governo Jair Bolsonaro sobre o avanço de casos da covid-19 entre trabalhadores de Petrobrás e o risco de uma greve como reação. O órgão também disse que o aumento de casos pode gerar desabastecimento de gasolina e Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), além de "impactos negativos nas categorias de transporte autônomo e de indústrias, já muito sensíveis neste momento de crise".

Feito em 6 de maio, o alerta consta em relatórios que somam cerca de 950 páginas, com datas de 27 de abril a 13 de maio, obtidos pelo Estadão. Os agentes de inteligência afirmam que, à época, dobrou o número de infectados em apenas nove dias, atingindo 872 trabalhadores em 4 de maio. Destes, 620 estavam no Rio de Janeiro, 105 no Amazonas e 86 em São Paulo.

Segundo entidades que representam trabalhadores da Petrobrás, o quadro piorou desde maio. Eles também afirmam que a empresa não é transparente para divulgar números de mortos e infectados. "A gente tem alertado desde março que é possível, sim, uma greve sanitária. Por conta das condições de trabalho. Está levando a um aumento de contaminação e de mortes", disse o diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP) Deyvid Bacelar.

Alegando sigilo médico, a Petrobrás não divulga o número de funcionários mortos pela covid-19. A partir de 11 de maio, a empresa também passou a reportar apenas casos de empregados efetivos, deixando fora dados de prestadores de serviço infectados. O universo dos boletins da covid-19 sobre a empresa caiu de 151.539 para 46.416 trabalhadores após a mudança.

Segundo o último boletim do Ministério de Minas e Energia, publicado em 15 de junho, foram confirmados 1.309 casos da doença na Petrobrás, sendo que 990 destes estão recuperados.

"Greve sanitária"

Sindicatos, no entanto, estimam ao menos 2.064 casos e 14 óbitos, conforme carta enviada à empresa pela Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) na terça-feira, 9. No mesmo documento, a entidade condena possível retorno ao trabalho presencial, especulação que ganhou corpo após apresentações feitas pela administração a funcionários nesta semana. A empresa projetou o fim da quarentena, mas não apontou uma data para isso. "Acreditamos despropositado e prematuro o desvio de foco de gestores e técnicos que deveriam estar preocupados em combater a pandemia e não ansiosos e exultantes em implantar novas formas de exploração 'que vieram para ficar' no 'novo normal"'.

Para o secretário-geral da FNP, Adaedson Costa, "está no radar" de sindicatos iniciar uma "greve sanitária". "A Petrobrás se omitiu a tomar várias medidas. Até máscaras, no começo, nós tivemos de distribuir", disse.

Os alertas da Abin obtidos pelo Estadão abastecem o Centro de Coordenação de Operação do Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19 (CCOP). Comandado pela Casa Civil, o órgão foi criado em março, quando Bolsonaro atuava para retirar o protagonismo do Ministério da Saúde na crise. Em reunião com ministros, em 22 de abril, Bolsonaro afirmou que não recebia informações suficientes dos órgãos oficiais e disse preferir seu próprio serviço de inteligência. "Sistemas de informações... o meu funciona. O meu particular funciona. Os que têm (sic) oficialmente, desinformam", disse o presidente, na ocasião. "Prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que tenho." As imagens da reunião foram divulgadas após decisão do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), em inquérito sobre suposta interferência de Bolsonaro na Polícia Federal (PF).

Prevenção

Procurada pela reportagem, a Petrobrás disse que todos os trabalhadores são monitorados por equipes de saúde da empresa. "E a companhia atua junto às empresas prestadoras de serviços para que também monitorem seus colaboradores", disse. A empresa também afirmou que adota medidas de prevenção, como teletrabalho para funções administrativas e uso de testes "padrão ouro" (RT-PCR) para diagnóstico.

A companhia afirma que aplica testes rápidos para triagem antes de atividades operacionais, como em plataformas e refinarias. "Mais de 26 mil testes já foram realizados." Este tipo de exame encontra anticorpos da doença e deve ser usado após o sétimo dia de sintoma do vírus.

Justiça

A crise pela covid-19 na Petrobrás também parou nos tribunais. O Sindipetro-RJ, por exemplo, conseguiu pela Justiça o acesso aos dados detalhados de infectados e mortos entre trabalhadores do Rio de Janeiro. Há ainda processos para que sindicatos participem de reuniões dos comitês de crise da empresa e investigações do Ministério Público do Trabalho (MPT) sobre as condiçõe de trabalho.

A Petrobrás também foi à Justiça. A empresa pede multa de R$ 20 mil para cada máscara distribuída pelo Sindipetro-LP, do litoral paulista, que leve a marca da empresa e a mensagem "privatizar faz mal ao Brasil; entre nessa campanha". O material foi distribuído pelo sindicato, sob alegação de falta de equipamentos de proteção individual (EPI) ao trabalho.

Estadão
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