Afinal, quem deve usar máscaras para evitar o coronavírus?
A recomendação para o uso do equipamento de proteção individual mudou esta semana após pronunciamento do ministro Luiz Henrique Mandetta.
Inicialmente recomendada para médicos, profissionais de saúde e pessoas testadas positivo para o novo coronavírus, as máscaras agora são indicadas para toda a população. A mudança na orientação ocorreu nesta semana após fala do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandeta. Com a virada na recomendação, as pessoas se questionam: afinal, quem deve usar as máscaras de proteção individual para evitar a contamiação da covid-19?
Pensando em sanar as questões mais recorrentes da população, o Terra conversou por vídeoconferência com Dr. Fernando Gomes Pinto, neurocientista e neurocirurgião livre docente do Hospital das Clínicas de São Paulo. O médico também é colunista do programa de TV Aqui na Band.
Terra: Quem deve utilizar as máscaras?
Dr. Fernando Gomes Pinto: Todo mundo deve usar a máscara. Isso vai ajudar a gente a transmitir menos o vírus. Antes, a recomendação era para pessoas com sintomas do novo coronavírus ou com sintomas de gripe. Isso mudou. Se pessoas assintomáticas estão com os vírus, logicamente elas não vão apresentar sintomas, mas vão transmitir a doença para outras pessoas. É isso o que a gente tenta bloquear com o uso da máscara, já que não há como testar todo mundo e medir a velocidade do vírus.
Essa recomendação é nova e eu tenho certeza de que as pessoas não estão entendendo 100% o que é que está acontecendo. Quando a gente fala: você pode confeccionar uma máscara de tecido, que não requer muita habilidade e todas as especificações técnicas como a N95, a mensagem por trás é sobre empatia e solidariedade. Quando eu coloco uma máscara assim para sair de casa o que eu estou fazendo? Protegendo o meu nariz, a minha boca, e com isso controlando a emissão de gotículas, quer seja da minha produção verbal, ou de eventuais tosses e espirros.
As pessoas devem confecionar máscaras em casa?
Sim, já que não há tantas máscaras disponíveis para compra, as máscaras caseiras vão funcionar como uma barrerira mecânica. Isso vai ser minimamente eficiente quando eu estou pensando no outro. Eu estou colocando o objeto como uma barreira para que outras pessoas não venham a sofrer com essas gotículas contaminadas, caso eu esteja doente e não apresente sintomas.
Em que situações deve-se utilizar as máscaras descartáveis ou até mesmo as feitas em casa?
O ideal é que a gente use sempre que sair na rua ou em ambientes nos quais você vai estar exposto às pessoas que não vivem com você. Quando você tem um espirro ou uma tosse, que são reflexos involuntários, por mais que se tome cuidado, vai existir uma liberação de gotículas no ar. Então, o racional é sempre usar a máscara. Além disso, outros hábitos precisam ser adotados. A gente vai deixar de se cumprimentar com toque, com apertos de mão, beijos e abraços, evitar de colocar a mão no rosto. Isso vai deixar o uso da máscara ainda mais eficiente.
Que cuidados preciso ter com a máscara caseira?
A cada duas horas essa máscara precisa ser trocada devido ao acúmulo de saliva no tecido. Quando estiver fora de casa, o ideal é levar umas quatro ou cinco e mudar de tempos em tempos para fazer a devida higienização posteriormente. Fora de casa, devo armazenar essas máscaras sujas em saquinhos plásticos. Ao chegar em casa, é só lavar com água e sabão e/ou água sanitária.
Qual a vida útil de uma máscara confeccionada em casa ou improvisada com um lenço?
De mais ou menos duas horas. Imagina, se você estiver tossindo, espirrando e até com febre, a tendência é que a máscara fique umidificada e a porosidade do tecido aumente. Por isso, o ideal é fazer a troca desses objetos nesse prazo.
As máscaras descartáveis podem ser reutilizadas?
O ideal é que elas sejam descartadas. As máscaras que a gente utiliza no hospital elas são jogadas no lixo após o uso. E é justamente essa a nossa preocupação. As feitas de tecido podem ser lavadas com água, sabão, ou água sanitária, passar um ferro quente e deixar secar. O tecido tem uma característica muito interessante. A hora em que você lava, as fibras, aumentadas por causa do vapor da saliva, vão tenteder a voltar ao padrão inicial.
Que cuidados devem ser tomados para retirar a máscara?
A remoção deve ser feita sempre removendo o elástico pela lateral, nunca retirando a máscara pela parte da frente, que faz a proteção do nariz e da boca. Nessa parte frontal, se houver o contato com o vírus, é justamente a região onde ele vai estar.
Máscaras podem ser compartilhadas?
Lógico que não. Não tem sentido o compartilhamento. Elas devem ter um uso individual, mas se forem caseiras terão uma vida útil maior porque serão higienizadas.
Qual a porcentagem de eficiência de uma máscara?
100% é certo que não. Não há trabalhos científicos mostrando isso de uma forma escalonada. A ideia é usar as armas que a gente tem nessa guerra. Se a gente ficar esperando uma solução caindo do céu ela não vai existir. Além disso, os tecidos são variáveis, o cuidado de cada pessoa é variável. Só que a linha de pensamento, é: controle mecânico da liberação de saliva e de gotículas para fora de um perímetro maior do que o que a gente tem na frente do rosto.
Se eu tiver comprado máscaras cirúrgicas, devo utilizá-las ou doá-las para os hospitais?
Isso vem de encontro com as características de empatia, solidariedade. É o momento em que a gente é convidado a pensar em sociedade, a pensar maior. Então, se você tem um estoque em casa, comprou no desespero, se você doar para algum lugar que não tem, você vai estar ajudando a sociedade como um todo.
Para além do uso das máscaras, qual a melhor medida para evitar a contaminação com coronavírus?
A coisa mais eficiente a realizar é lavar as mãos com água e sabão com frequência, evitar levar as mãos ao rosto, evitar o contato social próximo (com aperto de mão, beijos e abraços), levar um anteparo mecânico ao sair na rua (como uma máscara caseira), e só procurar o hospital em caso de problemas respiratórios graves (tosse, falta de ar).
Com relação ao isolamento, a grande pergunta que se faz é sobre a sua eficiência. A gente pensa na saúde do corpo física, a gente pensa na saúde da economia, então o que é melhor: um isolamento vertical (quando apenas grupos de risco se isolam) ou um horizontal, em que todos ficam em casa? Quando todos ficam em casa, isso acaba sendo mais eficiente para a sociedade a médio e longo prazos. Mas a orientação tem sido para o controle do trânsito de pessoas.