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Coronavírus

Alta de casos pressiona saúde no litoral norte de São Paulo

Prefeituras relatam profissionais afastados com sintomas gripais; os que seguem trabalhando estão sobrecarregados

7 jan 2022 - 17h06
(atualizado às 17h15)
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Paciente com covid-19 na UTI de um hospital
18/06/2021
REUTERS/Pilar Olivares
Paciente com covid-19 na UTI de um hospital 18/06/2021 REUTERS/Pilar Olivares
Foto: Reuters

Com aumento da busca de atendimento por pacientes com síndrome gripal, o sistema de saúde das cidades do litoral norte paulista enfrenta pressão. Prefeituras relatam afastamento de profissionais por apresentarem sintomas gripais e sobrecarga daqueles que seguem nas unidades, que chegam a trabalhar cinco vezes a mais do que o normal.

Em Caraguatatuba, cerca de 90% dos leitos de UTI para todas as patologias estão ocupados. A maioria deles por pacientes com síndrome respiratória aguda grave (SRAG).

O governo do Estado de São Paulo disse monitorar o cenário. "Dados das últimas semanas mostram um menor incremento nas UTIs em relação a enfermarias, fortalecendo o impacto positivo da vacinação contra covid-19 e a consequente prevalência reduzida de casos graves no Estado. A região do litoral norte acompanha a tendência estadual", informou, em nota.

Em São Sebastião, a alta de atendimentos a pessoas com sintomas respiratórios nas unidades de saúde passou a ser observada no início de dezembro, com o surto de gripe. Segundo o prefeito Felipe Augusto (PSDB), a partir dos dias 22 e 23 de dezembro, com a chegada dos veranistas, ainda mais pacientes passaram a frequentar as unidades de saúde locais, embora nenhum desses tenha ido para a UTI. "Tínhamos um atendimento médio na ordem de 300 pessoas, somando as duas unidades de saúde de pronto atendimento, tanto a da região central quanto a da região sul. Esse número saltou para cerca de 1.200 atendimentos diários."

No dia 29 de dezembro, 90% dos atendimentos da unidade de Boiçucanga, ao sul, foram para não residentes, revela o prefeito. "Essa explosão está acontecendo no Brasil e no mundo, pelo que a gente está acompanhando. Aqui, ela é mais forte em função da questão turística. Temos uma sobrecarga de pessoas na cidade. Entre Natal e réveillon, recebemos cerca de 1 milhão de visitantes."

A cidade não promoveu festas públicas nessas datas comemorativas. As privadas, conforme o prefeito, aconteceram. Ele conta que, desde o ano passado, a gestão trabalhou para que os eventos fossem "descentralizados" ao longo da cidade para evitar aglomerações.

Na cidade também vigora um decreto que limita o horário de funcionamento de estabelecimentos comerciais até 1h da manhã e que restringe a venda de bebidas alcoólicas entre 1h e 6h.

Nas unidades de saúde, as filas de espera chegaram a ser de quatro horas. Hoje, diz o prefeito, está em torno de duas horas. Ele conta ainda que as farmácias estão sem estoque de testes rápidos de covid e orienta que, em caso de sintomas gripais, o paciente busque os prontos-socorros.

Ao mesmo tempo, entre terça, 4, e quarta, 5, ao menos 45 profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros e técnicos-administrativos foram afastados do trabalho por apresentar síndrome gripal. "Temos a preocupação de que outros possam também ter a necessidade desse afastamento. Então, montamos um plano de contingência para que possamos fazer uma contratação emergencial", diz Augusto.

Enquanto isso, os hospitais da cidade suspenderam as visitas e exigem que pacientes venham desacompanhados até as unidades. Acompanhantes são autorizados apenas para menores de 18 anos, pessoas com deficiência e idosos.

Caraguatatuba tem recorde de consultas

Caraguatatuba bateu na terça-feira recorde no número de atendimentos das unidades de pronto atendimento (UPAs), que chegaram a 2.279. A maior marca havia sido de 1.500, em 2021. Mais da metade dos pacientes tinha síndrome gripal.

Nos quatro primeiros dias de 2022, as UPAs já fizeram 8.265 atendimentos, segundo a pasta da Saúde. Isso leva a uma média de 2.066 ao dia - quase três vezes maior do que em dezembro. Antes da temporada de verão, o número de consultas não passava de 700.

Para o secretário de Saúde da cidade, Gustavo Boher, essa alta ocorre pela atividade turística. "Temos uma população aproximada de 125 mil habitantes. Na alta temporada, que começa por volta de 20 de dezembro, essa população sobe para 450 mil, 500 mil", diz. "O turista chega a representar 60% dos nossos atendimentos."

A cidade não teve festejos públicos na virada do ano. Porém, festas privadas ocorreram. "A gente segue o protocolo do Estado de São Paulo", diz o secretário.

Com o "Projeto Verão" da secretaria de Saúde, as UPAs da cidade ganharam dois novos médicos, chegando a um total de 32. Hoje, cada um deles atende cerca de 70 pacientes ao dia.

Boher conta que desde o Natal, a cidade registrou cerca de 180 afastamentos de profissionais por síndrome gripal, covid ou "outras patologias". "Isso atrapalha a nossa capacidade de atendimento", avalia. "E essas pessoas que estão trabalhando hoje, estão trabalhando a carga horária dobrada às vezes." Com a sobrecarga, as filas de espera chegaram a ser de 4h.

O secretário informa que a prefeitura tem ao menos dez vagas para médicos e 30 para enfermeiros a serem preenchidas. São cargos criados devido ao aumento de casos nas últimas semanas e também sobressalentes, pois a cidade enfrenta dificuldades na contratação: "É muito estresse."

Ao mesmo tempo, Caraguatatuba reabriu 50 leitos UTI de covid e negocia com o governo do Estado a abertura de outros. Isso porque, conforme informou Boher, as internações vêm aumentando desde dezembro. Hoje, 90% dos leitos de terapia intensiva destinados a todas as patologias estão ocupados. A maior parte deles por pacientes com síndrome respiratória aguda grave.

A falta de testes rápidos para a covid também é realidade na cidade. O secretário disse que nas unidades públicas de saúde, todos os pacientes com suspeita são submetidos a RT-PCR. No entanto, os de antígeno em geral são usados apenas naqueles que já apresentam sintomas graves.

Ubatuba

Em Ubatuba, a prefeitura diz ter identificado um aumento expressivo nos atendimentos por síndrome gripal, desde o dia 27 de dezembro. "Essa alta parece ter ligação com Influenza, mas é preciso aguardar alguns resultados de exames ficarem prontos para saber se são casos de Influenza ou covid", informa, em nota.

"Nesse período de festas, do dia 30 de dezembro a 5 de janeiro, a gente fez uma análise dos nossos dados e teve um aumento muito grande. No pronto-atendimento do Ipiranguinha foram 1.320 casos do dia 30 ao dia cinco de janeiro. No Maranduba, mais 1.045. No Santa Casa, ainda não peguei os dados de hoje, mas até o dia 3, estava numa média de 400 atendimento por dia", conta a secretária-adjunta de Saúde do município, Tatiana Mansur, ao Estadão.

Tatiana revela que, em geral, esses pacientes apresentam quadros leves. Por isso, para ela, são casos "sugestivos de gripe". A cidade também não promoveu festa pública de Revéillon, apenas queima de fogos sem estampido (barulho).

Para desafogar o Santa Casa, único hospital da cidade, desde o dia 30 de dezembro, a prefeitura criou um posto de atendimento específico a pacientes com síndrome gripal. Conforme Tatiana, o espaço localizado no "Postão" (Centro de Especialidades Médicas) vai funcionar até sexta, 7. A partir de segunda, 10, as 32 unidades básicas de saúde da cidade devem abrir à tarde para atender exclusivamente essas pessoas.

Ilhabela

Ilhabela também encara um aumento crescente da busca por atendimento de pacientes com síndromes gripais, segundo a prefeitura. Em novembro, a média diária de consultas era de 99 pacientes e a de positivação para covid, de 1,6. Em dezembro, esses números passaram para cerca de 190 e seis, respectivamente.

"Nos cinco primeiros dias de janeiro, tivemos uma média de 629 atendimentos por dia, sendo uma média de 142 positivos por dia", conforme informa a pasta da Saúde.

Em Ilhabela, os pacientes com sintomas respiratórios fazem teste rápido de antígeno para covid e, caso positivem, são submetidos ao RT-PCR. Após esses procedimentos, são medicados e orientados a fazer isolamento, quando apresentam quadros leves.

"A procura nos postos está muito grande", contou o prefeito Toninho Colucci, em nota. "Além de estender os horários, estamos negociando a contratação de mais profissionais para a realização de atendimentos. Não queremos deixar as pessoas com muito tempo na espera."

Estadão
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