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Coronavírus

Ameaçado de demissão, Mandetta é cobiçado por Doria e Caiado

Presidente Jair Bolsonaro intensifica a 'fritura' do ministro da Saúde, que passou a ser cogitado pelos governadores de São Paulo e Goiás

7 abr 2020 - 05h10
(atualizado às 07h22)
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Sob " fritura", o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, se tornou cobiçado pelos governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), caso deixe o governo federal. A atuação do titular da pasta no combate ao novo coronavírus no País é elogiada pelos chefes dos Executivos estaduais e conta com o apoio dos comandos do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso, que ontem se manifestaram contra a demissão do ministro.

Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta
30/03/2020
REUTERS/Ueslei Marcelino
Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta 30/03/2020 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

Nesta segunda-feira, 6, diante da possibilidade de saída de Mandetta, houve novos panelaços em alguns bairros de São Paulo e também no Rio de Janeiro. Servidores da pasta da Saúde também desceram dos seus escritórios para aplaudir o ministro. "Não posso aceitar que um médico da competência do Mandetta vá pra casa. Se sair, já está nomeado em Goiás", afirmou Caiado ao Estado.

Já Doria, um dos principais adversários políticos do presidente, evita abordar o tema publicamente, mas disse a auxiliares que gostaria de contar com o ministro em seu time. Em entrevista recente ao Estado, o tucano defendeu Mandetta e afirmou que a demissão dele seria "um desastre" para o Brasil.

Mandetta acumulou uma série de desgastes com o presidente Jair Bolsonaro ao defender um amplo distanciamento social da população como enfrentamento do novo coronavírus. O ministro, aplaudido pela equipe da pasta ao chegar para a coletiva de imprensa, se colocou como "dono das dúvidas", e não da verdade.

Antes de anunciar na noite de ontem que permanece no cargo, Mandetta reiterou que "médico não abandona paciente" e, sem citar diretamente o presidente Bolsonaro, reclamou de críticas que, em sua visão, criam dificuldades para o seu trabalho à frente da pasta. Antes do anúncio ele havia se encontrado com Bolsonaro no Palácio do Planalto.

O ministro observou que a crítica construtiva "enobrece" e faz dar passos à frente. "O que temos dificuldade é quando em determinadas situações, ou determinadas impressões, as críticas não vêm no sentido de construir, mas para trazer dificuldade no ambiente de trabalho. Isso tem sido uma constante. Vamos continuar", reiterou.

Mandetta disse que sua única exigência é "melhor condição de trabalho" e revelou que seus assessores chegaram até a limpar suas gavetas ontem, em meio a boatos de que poderia sair do ministério. "Eu não vou abandonar (o cargo), agora as condições de trabalho dos médicos precisam ser para todos.

A única coisa que pedimos é o melhor ambiente para trabalhar", frisou. "Aqui nós entramos juntos, estamos juntos e quando eu deixar o ministério a gente vai colaborar de outra forma a equipe que virá. Entramos juntos e vamos sair juntos", afirmou na sua fala mais contundente desde que a crise com o presidente teve início.

Militares insistem que essa é uma guerra que não é boa para ninguém. E alertam para falta de opção. O ex-ministro Osmar Terra, um dos aliados que mais tiveram acesso a Bolsonaro nos últimos dias e que busca assumir o lugar de Mandetta, foi demitido do Ministério da Cidadania porque não dava resultado.

Mandetta adotou postura arrogante diante da crise, avalia Bolsonaro

A avaliação de Bolsonaro, porém, é de que seu ministro adotou uma postura arrogante diante da crise e deveria ouvi-lo mais. "Algumas pessoas do meu governo, algo subiu à cabeça deles. Estão se achando demais. Eram pessoas normais, mas, de repente, viraram estrelas", afirmou o presidente no domingo, ao receber apoiadores no Palácio da Alvorada. Era uma indireta por Mandetta ter participado de uma "live" da dupla sertaneja Jorge e Mateus, quando voltou a defender o isolamento social, um dos pontos de divergência com o chefe do Executivo.

Outra divergência é em relação ao uso da cloroquina em pacientes da covid-19. Bolsonaro é um entusiasta do medicamento indicado para tratar a malária, mas que tem apresentado resultados promissores contra o coronavírus. O ministro, por sua vez, tem pedido cautela na prescrição do remédio, uma vez que ainda não há pesquisas conclusivas que comprovem sua eficácia contra o vírus. Em mais um sinal de desprestígio de seu ministro da Saúde, o presidente voltou a se reunir com médicos ontem para falar sobre o uso do medicamento. "Ciência. Não vamos perder o foco", repetiu o ministro ontem após se reunir com médicos convidados por Bolsonaro para defender o remédio.

Os generais que assessoram Bolsonaro, no Palácio do Planalto, atuam para apaziguar os ânimos e evitar a demissão de Mandetta. Assim como Bolsonaro, os militares também têm reparos à forma como o ministro se comporta. Eles consideram que Mandetta tenta capitalizar as ações da pasta. Mas avaliam que uma demissão, neste momento, fortaleceria os governadores que hoje travam uma queda de braço com o presidente.

Pesquisa XP mostrou que cresceu o apoio aos governadores na medida em que a pandemia se alastra pelo País. Os militares do Planalto tentam convencer Bolsonaro dos riscos de um desgaste de sua popularidade. Os militares têm consciência que os maiores inimigos são as redes sociais e dezenas de grupos de WhatsApp que alimentam a ira de Bolsonaro. Os discípulos do escritor Olavo de Carvalho, guru da família do presidente, e o vereador e Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) já demitiram Mandetta em seus posts e passam o dia tentando fazer Bolsonaro usar a caneta.

Estadão
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