Após fechamento de 1.375 agências em 2020, grandes bancos falam em diminuir cortes neste ano
Pressionados pelas fintechs e bancos digitais, que não têm rede de agências físicas, pesos pesados tiveram de reforçar busca por eficiência e a saída foi cortar gastos
Bradesco, Itaú Unibanco e Santander Brasil fecharam as portas de 1.375 agências no ano passado, marcado pela pandemia. O quadro de funcionários também foi enxugado, a despeito do compromisso assumidos pelos bancos de não demitir durante a covid-19. Foram cortadas 9.374 vagas, com o Itaú na contramão, sendo o único a ampliar seu contingente.
Sob pressão de fintechs e bancos digitais, que não têm rede de agências físicas, e o salto na digitalização em meio às restrições de mobilidade para conter o avanço da covid-19, os pesos pesados do setor financeiro foram obrigados a reforçar a busca por eficiência. Com espaço limitado para ampliar receitas, a saída foi cortar gastos.
Para 2021, o movimento de 'austeridade' nos gastos continua, de acordo com os banqueiros. O trabalho de redução de custos foi só começo, de acordo com o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari. Como boa parte do ajuste foi feita no fim do ano, a economia tende a aparecer agora. Para este ano, o banco espera que suas despesas diminuam entre 1% e 5%. No ano passado, caíram 5,3%.
Quanto à redução de agências, porém, Lazari prevê uma quantidade bem menor este ano, entre 100 e 150 unidades, e a expectativa é de corte de excessos. "Não fazia sentido termos 14 agências na (Avenida) Faria Lima, 11 em Copacabana e na Avenida Paulista, uma do lado da outra, uma em frente à outra. Nesses grandes corredores já fizemos (a redução), basicamente no Sudeste. Agora, estamos indo para Curitiba, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Nordeste e um pedaço do Centro-Oeste, identificando agências sobrepostas", disse Lazari, em conversa com analistas e investidores, na quinta-feira, 4.
O novo presidente do Itaú, Milton Maluhy, não vê "bala de prata" na agenda de eficiência. Segundo ele, o tema exige "austeridade e foco". Depois de fechar 117 agências no ano passado, não estão previstos novos encerramentos em 2021. "Se houver, será pontual", disse Maluhy. "Fechar agência tem de fazer sentido para os clientes, que estão demandando outros canais, mas temos clientes muito heterogêneos como os digitais e aqueles que frequentam nossas agências todos os dias."
Já o Santander Brasil se coloca em posição oposta de seus rivais. Para o presidente do banco, Sergio Rial, a infraestrutura física não é um tema no País. Apesar disso, fechou as portas de 175 unidades em 2020. "Vamos seguir racionalizando nos lugares em que há sobreposição, principalmente nos centros urbanos e com o processo de digitalização", afirmou, em conversa com a imprensa. "Em paralelo, seguimos expandindo para o interior do Brasil."
Depois de reforçar sua presença no Ceará, o Santander mira agora a Amazônia. O plano, conforme Rial, é abrir de 10 a 15 agências, contratando mão de obra local e priorizando culturas sustentáveis, na atuação conjunta para proteger a região em parceria com Bradesco e Itaú, iniciada durante a pandemia. Rial também anunciou que até o fim de 2022, as lojas - como ele chama as agências do banco - terão praticamente zero trabalho operacional, consolidando o canal como um ambiente exclusivamente para negócios.
Mudanças
A revisão da estrutura física também tem ocorrido nos outros bancos brasileiros. O Bradesco pretende transformar 300 agências em unidades de negócios. Já o Itaú iniciou há um ano e meio a reestruturação do seu banco de varejo, movimento que inclui a rede física. "É um ciclo longo. Não é de curto prazo, mas já começamos há um ano e meio. Começaremos a ver avanço do (novo) modelo entre os anos de 2021, 2022 e 2023", afirmou Maluhy, sem dar detalhes.
O Banco do Brasil ainda não divulgou seu balanço de 2020, mas, até o terceiro trimestre, a instituição tinha um saldo de três agências novas abertas, depois de ter fechado 409 em 2019. A expectativa é que o banco volte a encerrar unidades em 2021, após ter anunciado no início do ano um plano de reestruturação que prevê a redução de 112 agências no primeiro semestre e um programa de demissão voluntária para desligar até 5 mil pessoas.
O plano, contudo, não agradou o presidente Jair Bolsonaro, que sofreu pressões de parlamentares interessados em salvar agências e chegou a cogitar demitir o presidente do BB, André Brandão. O executivo foi mantido no cargo, após esforços do ministro da Economia, Paulo Guedes, mas ainda não se sabe a que custo.
Nos bastidores, o que se comenta é que o plano de eficiência será mantido, mas deve ser ajustado, principalmente, sob a ótica da rede física, conforme antecipou o Estadão/Broadcast. Ontem mesmo, o BB anunciou que abrirá 14 novas agências especializadas no agronegócio, em seis estados, entre fevereiro e março.