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Coronavírus

Após pedir "paz", Mandetta encara ofensiva de bolsonaristas

Claque no Alvorada e grupos olavistas nas redes intensificam críticas ao auxiliar de Bolsonaro; estratégia é desgastar imagem do chefe da pasta em meio a crise do novo coronavírus

7 abr 2020 - 18h37
(atualizado às 18h49)
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Ministro Luiz Henrique Mandetta
03/04/2020
REUTERS/Adriano Machado
Ministro Luiz Henrique Mandetta 03/04/2020 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

Ao anunciar na noite de segunda-feira, dia 6, que seguia como ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta pediu "paz" para trabalhar no enfrentamento à pandemia do coronavírus, mas não terá a tranquilidade que espera. Embora Mandetta tenha conquistado uma parcela dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, grupos considerados mais radicais e ligados ao guru Olavo de Carvalho intensificaram a ofensiva nas redes sociais contra ele. Na manhã desta terça-feira, 7, a claque que aguardava o presidente na saída do Palácio da Alvorada entoou um coro de "Fora Mandetta."

Durante a tarde, a hashtag #MandettaGenocida ficou entre as mais citadas do Twitter. Os bolsonaristas tentam emplacar a narrativa que o ministro coloca vidas em risco por não editar um protocolo de hidroxicloroquina para tratamento do novo coronavírus no Brasil por meio de decreto.

O uso do medicamento, contra malária e doenças autoimunes, é um dos principais pontos de divergências entre Bolsonaro e Mandetta. O chefe da Saúde alega que falta embasamento científico, enquanto o presidente é entusiasta do remédio, mesmo sem pesquisas conclusivas sobre sua eficácia e possíveis danos colaterais.

A estratégia da ala ideológica, neste momento, é desgastar a imagem do ministro, cuja atuação à frente da pasta da Saúde é aprovada por 76% da população, segundo pesquisa do Datafolha divulgada em 3 de abril. A permanência, por ora, de Mandetta é considerada uma vitória dos militares, que convenceram Bolsonaro a não demiti-lo em meio à batalha contra acovid-19.

Para olavistas, o momento não é de trégua, mas de manter acesa a chama da "fritura" do chefe da Saúde, que passou a ser considerado uma ameaça política. O apoio que o ministro recebeu nas redes sociais com pedidos que se mantivesse no cargo ainda não foi engolido e a ordem agora é tentar abalar a popularidade dele.

Alguns integrantes do grupo ideológico veem que a permanência de Mandetta pode ser usada para atribuir a ele os casos de mortes ocorridas no País pela covid-19, bem como a crise econômica com aumento do desemprego. Seja qual for o saldo da pandemia, na avaliação deste grupo, Bolsonaro poderá atribuí-lo ao ministro.

Em grupos de WhatsApp bolsonaristas, Mandeta é acusado de ser de "esquerda"

Nos bastidores, olavistas e filhos do presidente também defende, que Mandetta seja substituído por alguém que adote a hidroxicloroquina no tratamento e defenda o isolamento vertical, ou seja apenas para idosos e pessoas com doenças do grupo de risco. Aparecem como opções para o cargo a médica oncologista Nise Yamaguchi, defensora do uso do medicamento e convidada para integrar o comitê de crise, e também o deputado federal e ex-ministro Osmar Terra (MDB-RS).

Médico, ele defende tanto a hidroxicloroquina e o fim do distanciamento social para todos. A interlocutores, Mandetta tem afirmado que sua demissão é apenas uma questão de tempo. Nos grupos de WhatsApp, Mandetta é acusado de estar a serviço da imprensa e da esquerda no governo Bolsonaro. Textos compartilhados por bolsonaristas também questionam a legitimidade do ministro para enfrentar a pandemia, por ele ser ortopedista pediátrico e o acusam de falta de legitimidade.

Os bolsonaristas também compartilham um dossiê, acusando o ministro de ser lobista de de planos de saúde e de ter defendido "a destruição do SUS (Sistema Único de Saúde)." Mandetta foi dirigente de uma operada de saúde entre 2001 e 2004 em Campo Grande (MS). Deixou o posto para assumir a Secretaria de Saúde do capital sul-mato-grossense. Ele permaneceu no cargo entre 2005 a 2010, no governo do atual senador Nelsinho Trad (PTB-MS), seu primo.

"Mandetta não merece sua confiança, presidente"

Na manhã desta terça-feira, um apoiador disse a Bolsonaro: "Mandetta não merece sua confiança, presidente." Outro questionou a possibilidade de um decreto para determinar a volta do comércio. Bolsonaro respondeu: "Você sabe o que está acontecendo na política brasileira? Você sabe o que representa uma resposta para você aqui agora", disse. O presidente deixou o local ouvindo gritos de "Fora Mandetta."

Empresa que faz o monitoramento do desempenho de Bolsonaro nas redes, AP Exata apontou que a simples possibilidade de demissão de Mandetta impactou negativamente a imagem do presidente. Segundo a metodologia, o índice desconfiança em Bolsonaro caiu dez pontos, passou de 27% para 17% em trinta minutos diante da incerteza se o ministro seguiria no cargo ou não. Com a confirmação de Mandetta ficaria à frente da Saúde, a confiança em Bolsonaro subiu para 20%.

Desde o início de janeiro, o monitoramento da AP Exata observa uma perda de espaço da narrativa do presidente e seu grupo. Atualmente, segundo os dados da empresa, as menções negativas do presidente estão em 60% enquanto as positivas ficam em 40%. "Bolsonaro não consegue mais dominar amplamente, mas somente em uma faixa que é apoiadora dele. O movimento #ForaMandetta está pontuado nos bolsonaristas", observa Sérgio Denicoli, diretor da AP Exata.

Estadão
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