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Coronavírus

Após receita cair 98%, T4F usa pandemia para arrumar a casa e compra startup de tecnologia

Companhia comprou a Inti para passar a ser dona da tecnologia de venda de ingressos que utiliza; empresa só prevê volta de shows a partir de março de 2021

30 out 2020 - 08h10
(atualizado em 1/11/2020 às 17h56)
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Referência no setor de entretenimento, a Time 4 Fun (T4F) teve de fazer duros cortes por causa da pandemia de covid-19, que paralisou o setor de shows e eventos em todo o mundo. Ao ver sua receita ser reduzida drasticamente durante o período mais agudo da crise, a T4F fez duros cortes - demitindo mais de 50% de sua equipe fixa - e começou a arrumar a casa.

Além de reorganizar seu portfólio de eventos, a companhia também vem buscando ser mais digital e investir em tecnologia. Na última sexta-feira, anunciou a compra da startup Inti para passar a ser dona de sua plataforma de emissão de ingressos.

Em seus 20 anos de história, a companhia usou essas ferramentas sob licença.

"Decidimos adquirir uma plataforma de tecnologia para sermos donos do código fonte, o que nos permitirá desenvolver rapidamente todos os features que a gente entenda ser importantes", afirma o fundador e presidente da T4F, Fernando Alterio, sobre a compra do controle da Inti, startup de São Paulo. "Esperamos também que a cultura de tecnologia da Inti ajude a tornar nosso negócio mais digital."

Os resultados da T4F no segundo trimestre mostram bem o efeito que a pandemia teve no setor de eventos. A companhia viu sua receita cair 98% entre abril e junho, para R$ 2,6 milhões. No mesmo período do ano passado, o faturamento havia sido de R$ 132,4 milhões.

O que se passou na empresa serve como uma espécie de microcosmo que ilustra o sofrimento de todo o segmento. De acordo com o presidente da Associação de Marketing Promocional (Ampro), Alexis Pagliarini, mesmo com a retomada dos eventos para até 600 pessoas em São Paulo desde o fim de setembro, a recuperação vem sendo lenta. "Diria que, no último bimestre, o movimento será equivalente a 30% do que se via no mesmo período do ano passado", diz Pagliarini.

O dado vem para confirmar uma pesquisa da consultoria Bain & Co., que mostrou que os setores terão crescimento desigual no pós-pandemia. O setor de eventos e shows está justamente na ponta mais afetada: aquela que vai demorar mais para se recuperar e terá de esperar anos até se colocar completamente em pé. Junto com os eventos nesse contingente estão as companhias aéreas e de turismo. Não à toa, todos esses negócios têm visto suas ações sofrerem nas bolsas de valores.

Pagliarini conta que a maior parte das empresas tem aproveitado a flexibilização em São Paulo para retomar, aos poucos, as atividades. Os congressos para até 600 pessoas, por exemplo, já começaram a acontecer, com distanciamento mínimo de 1,5 metro entre cada participante. "Recomenda-se utilizar um espaço que abrigaria o dobro do total de pessoas no evento. É uma forma que se tem de voltar ao trabalho."

Lição interna

Para Alterio, no entanto, trabalhar com todas essas regras pode se mostrar ineficiente e até gerar prejuízos. Por isso, o executivo tem evitado uma volta a qualquer custo. Desde o início da pandemia, a T4F também evitou embarcar em tendências como as lives e os eventos em drive-ins, que considera pouco rentáveis. "Isso serviu mais para os artistas continuarem mostrando seu trabalho, foi uma forma de estar perto do público de alguma forma."

O empresário diz que, com as demissões e os cortes de custos administrativos, a empresa conseguiu preservar seu caixa para conseguir realizar investimentos mesmo em um cenário muito desfavorável.

Assim, a T4F espera estar mais preparada quando a pandemia passar ou uma vacina for encontrada, possibilitando a retomada definitiva dos grandes espetáculos. Mas Alterio não espera que a retomada de eventos com mais de 2 mil pessoas venha antes do fim de 2021: por isso, seu primeiro grande evento no calendário é o Lollapalooza, festival que já teve a edição de 2020 cancelada e agora está agendado para setembro do ano que vem.

Outra ação que a T4F vem tomando durante a pandemia é o "rejuvenescimento" de seu portfólio de eventos. A companhia deixou, por exemplo, a Stock Car e agora mira investimentos em novos segmentos, como música eletrônica, mundo "geek" (de fãs de tecnologia e quadrinhos, por exemplo) e e-sports.

Estadão
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