Bolsonaro tem contato direto com ao menos 272 pessoas em ato
Análise feita pelo Estado contabilizou todo o período de interação social pública do presidente neste domingo
Ao participar de um ato a favor do seu governo e com críticas ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF) na tarde deste domingo, 16, o presidente Jair Bolsonaro teve contato direto com ao menos 272 pessoas em cerca de 58 minutos de interação com apoiadores na frente do Palácio do Planalto. O resultado faz parte de análise feita pelo Estado a partir de filmagem publicada na página do Facebook do presidente.
Bolsonaro manuseou ao menos 128 celulares, trocou ao menos quatro objetos com a plateia, entre eles um boné, que vestiu, e cumprimentou 140 pessoas, segundo o levantamento do Estado. Parte dos cumprimentos, nos primeiros 50 minutos do vídeo, são com "soquinhos" nas mãos das pessoas ou mesmo apertos de mãos. Nos cinco minutos finais de interação, o presidente alcança pelo menos 80 apoiadores correndo com a mão estendida e cumprimentando várias pessoas na sequência.
Infectologistas e até aliados próximos de Bolsonaro reprovaram a atitude. Segundo especialistas em doenças infecciosas, o presidente errou ao ignorar a recomendação de isolamento e expor os manifestantes ao risco de contaminação pela covid-19 (caso esteja com o vírus incubado); ao não proteger a si próprio e ter contato com uma aglomeração que pode incluir pessoas infectadas; e ao não dar o exemplo à população de que deve ser levada a sério a orientação feita pelo Ministério da Saúde para que se evite aglomerações.
Ainda de acordo com especialistas, não é só o contato direto que transmite o coronavírus. Gotículas de saliva de uma pessoa infectada também podem passar o vírus.
Ao interagir com os manifestantes, Bolsonaro ignorou a orientação de sua equipe médica e as diretrizes do Ministério da Saúde para o combate ao coronavírus. Ele deixou o isolamento que deveria fazer por ter se encontrado, semana passada, com ao menos 11 brasileiros que já tem a doença.
O Ministério da Saúde voltou a orientar, neste domingo, que sejam evitadas aglomerações e contatos próximos. "A recomendação vale para manifestações, shows, cultos e encontros, entre outras atividades", informou a pasta. O ministro Luiz Henrique Mandetta disse ao canal CNN Brasil que participar de aglomerações "é completamente equivocado".
Além das críticas por desrespeito às diretrizes de combate a uma doença que se espalhou mundialmente, Bolsonaro também foi atacado por ter participado de manifestações que atacam o Parlamento. Enquanto o presidente cumprimentava simpatizantes em frente ao Palácio do Planalto, manifestantes gritavam "Fora Maia". Um deles chegou a pedir que o Bolsonaro fechasse o Congresso. Era possível ouvir também ouvir gritos contra o presidente do STF, Dias Toffoli.
O presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) classificou o comportamento do presidente como "inconsequente", um "confronto" à democracia. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que Bolsonaro deveria estar "coordenando um gabinete de crise para dar respostas e soluções para o País", em vez de ir ao protesto. Bolsonaro respondeu desafiando os dois a testarem sua popularidade nas ruas, em entrevista ao canal CNN Brasil.