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Coronavírus

Brasil deve encurtar o intervalo entre as doses da vacina?

Medida aumentaria a proteção contra novas variantes, como a Delta, mas pode atrasar calendários da primeira aplicação em populações mais jovens

8 jul 2021 - 05h10
(atualizado às 07h22)
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Com o aumento da circulação da variante Delta no Brasil, alguns Estados têm começado a cogitar se não é hora de adiantar a segunda dose das vacinas contra a covid-19, diminuindo de 90 para 60 dias o intervalo entre as aplicações dos imunizantes da AstraZeneca e da Pfizer. O objetivo seria aumentar a cobertura vacinal completa e a proteção contra o vírus. Em São Paulo, a medida já está sendo cogitada e, de acordo com Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, a decisão final será tomada nesta quinta-feira, 7, após reunião do Centro de Contingência da Covid-19.

Frascos rotulados como de vacina da AstraZeneca contra Covid-19 em frente ao logo da empresa em foto de ilustração
14/03/2021
REUTERS/Dado Ruvic
Frascos rotulados como de vacina da AstraZeneca contra Covid-19 em frente ao logo da empresa em foto de ilustração 14/03/2021 REUTERS/Dado Ruvic
Foto: Reuters

Apesar de a recomendação oficial do Ministério da Saúde ainda manter o prazo de 12 semanas entre as aplicações, alguns Estados se adiantaram no debate e já diminuíram o intervalo, que agora pode chegar a até 56 dias. A justificativa dada pelos governos do Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Santa Catarina é aumentar a parcela da população totalmente imunizada.

Abaixo, o Estadão convidou dois especialistas no assunto para responderem: o Brasil deve encurtar o intervalo entre doses da vacina anticovid?

Ethel Maciel*: Sim

"É muito importante reduzir, assim como outros países estão fazendo, o intervalo entre a dose 1 e a dose 2, principalmente com a entrada de novas variantes. Estudos comprovam que a vacinação parcial com uma dose da AstraZeneca ou da Pfizer diminui a proteção pela infecção. Por isso, a importância de encurtar o intervalo de 12 para oito semanas do imunizante da farmacêutica britânica. É fundamental também que mantenhamos o intervalo da Pfizer aprovado pelo fabricante, que é de 21 dias. Nós já sabemos agora que as variantes que temos, incluindo a Delta, não têm uma diminuição de proteção pela doença quando a pessoa está com o esquema vacinal completo. A eficácia ainda é muito alta com duas doses, então é necessário que a gente tenha mais pessoas com duas doses, garantindo que continue a velocidade de imunização de, pelo menos, 1 milhão de doses administradas por dia. As duas coisas precisam acontecer: acelerar por faixa etária e ir descendo mais rápido a vacinação, além de diminuir o intervalo entre as doses."

*EPIDEMIOLOGISTA E MEMBRO DA REDE BRASILEIRA MULHERES CIENTISTAS

Renato Kfouri*: Não

"O cenário não permite um encurtamento da aplicação de doses, levando em consideração que o País tem uma taxa baixa de pessoas que tomaram a 1ª dose. Seguir o que o País está fazendo, ou seja, aplicar as doses em um intervalo de quatro a 12 semanas das vacinas Coronavac, AstraZeneca e Pfizer é o mais adequado. Quando falamos de covid-19, estamos falando do hoje, de evidências científicas atuais. A ideia de um intervalo maior é vacinar um número maior de pessoas com a primeira dose, sabendo que a proteção se sustenta até dar a segunda. Em relação a variantes, nós não temos uma circulação predominante da variante Delta aqui. Temos de observar. Temos um ou outro caso. A P.1 (variante do coronavírus originalmente identificada no Amazonas) é a grande protagonista. Talvez a variante Delta possa exigir uma diferença de esquema de vacinação que, por enquanto, não é o nosso caso. Quando falamos de covid-19, estamos falando do hoje, de evidências científicas de hoje. Não seria uma boa estratégia para o Brasil."

*VICE-PRESIDENTE DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES

Estadão
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