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Coronavírus

CNBB discutirá carta vazada com críticas a Bolsonaro

Bispos acusam o governo de "inércia e omissão" no combate à pandemia e de "incapacidade e inabilidade" para enfrentar a crise

27 jul 2020 - 21h50
(atualizado às 21h55)
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O conselho permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) vai analisar a carta assinada por 152 bispos e arcebispos brasileiros contendo críticas ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). De acordo com o bispo dom Pedro Stringhini, presidente da Regional Sul 1 da CNBB, a carta seria abordada em reunião do conselho que já estava marcada para o dia 5 de agosto, mas houve o vazamento antecipado do conteúdo. No texto, os bispos acusam o governo federal de "inércia e omissão" no combate à pandemia do novo coronavírus e de "incapacidade e inabilidade" para enfrentar a crise.

Arcebispo de BH, dom Walmor, é eleito presidente da CNBB
Arcebispo de BH, dom Walmor, é eleito presidente da CNBB
Foto: Reprodução / Facebook / Ansa

O clero brasileiro tem cerca de 470 bispos, dos quais 310 estão na ativa e, destes, 79 são arcebispos, ou seja, cerca de um terço do clero assinou a "Carta ao Povo de Deus", como foi denominada a mensagem. Segundo dom Pedro, a reunião no dia 5 de agosto não acontecerá por causa da carta, mas abordará também o tema. "Sim, porque a carta seria, de qualquer maneira, discutida no dia 5, sem ser vazada. Com o vazamento, o conteúdo que esses 150 bispos estavam apresentando para o conselho permanente já foi divulgado e vai tendo seus efeitos, sendo positivos ou negativos."

O bispo disse que não é signatário, mas leu o conteúdo do documento. "O objetivo não é simplesmente criticar o presidente, mas trazer questões que dizem respeito à vida do nosso povo, às crises que passamos, crise sanitária, crise econômica, crise política, democracia, Amazônia, incêndios, a situação difícil dos índios, dos pobres em geral, dos desempregados. É esse o teor da carta, para a gente não desfocar os problemas, que não são problemas desconhecidos da população e muito menos das forças da sociedade que discutem esses problemas."

Ele lembrou que, nessa linha de discutir a vida do País, a reunião terá também um foco na participação da CNBB no movimento Pacto Pela Vida e pelo Brasil, que reúne ainda a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Academia Brasileira de Ciências (ACI), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e outros organismos relevantes da sociedade em uma aliança para enfrentar as crises sanitária, econômica, social e política que vive o País, segundo as entidades participantes. "Hoje, graças a Deus, são diversos movimentos que estão pensando a situação no Brasil, a Comissão Arns, por exemplo, o Somos 70%, são diversos movimentos, e a CNBB está envolvida neles, sobretudo no Pacto pela Vida e pelo Brasil."

Os bispos que assinam a carta são de todas as regiões do Brasil, inclusive o estado de São Paulo. O arcebispo emérito de São Paulo, dom Cláudio Hummes, um dos signatários, foi procurado pela reportagem. Conforme o bispo auxiliar da arquidiocese, dom Devair Araújo da Fonseca, ao ser consultado, dom Cláudio disse que não daria entrevista. A presidência da CNBB informou, através de sua assessoria, que é uma carta dos signatários e não reflete o posicionamento da Conferência.

O texto compara o momento atual do Brasil a uma "tempestade perfeita" e atribui à combinação de "uma crise de saúde sem precedentes, com um avassalador colapso da economia e com a tensão que se abate sobre os fundamentos da República, provocada em grande medida pelo Presidente da República e outros setores da sociedade, resultando numa profunda crise política e de governança". O documento cita a destruição da Amazônia e do meio ambiente pela "ação inescrupulosa de madeireiros, garimpeiros, mineradores, latifundiários" e outros defensores de um desenvolvimento que despreza os direitos humanos.

Os bispos lembram a convivência com a "incompetência do governo federal para coordenar suas ações, agravadas pelo fato de se colocar contra a ciência", e ainda o "desprezo pela educação, cultura saúde e pela diplomacia". "Esse desprezo é visível nas demonstrações de raiva pela educação pública; no apelo a ideias obscurantistas; na escolha da educação como inimiga; nos sucessivos e grosseiros erros na escolha dos ministros da educação e do meio ambiente do secretário da cultura." O documento lembra ainda a "omissão, apatia e rechaço" do governo pelos mais pobres e a decisão do presidente de negar acesso à água potável, leitos hospitalares e material de higiene a indígenas e quilombolas.

As divergências entre os bispos brasileiros e o presidente começaram antes mesmo de Bolsonaro assumir a presidência. Em 2018, ao criticar a realização do Sínodo da Amazônia, já eleito, Bolsonaro atacou a CNBB, afirmando que o órgão integra "a parte podre da Igreja Católica". O posicionamento do órgão católico em relação às queimadas e à questão fundiária da Amazônia também azedou a relação com o governo. Recentemente, a CNBB desautorizou os padres que ofereceram apoio a Bolsonaro em troca da ampliação do alcance de suas redes de radiodifusão, além de verbas publicitárias.

Estadão
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