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Coronavírus

Com escolas fechadas e sem promoções, pandemia já paralisa a carreira de pais

Mulheres são as mais afetadas pelo fechamento de creches e escolas, o que as obriga a cuidar dos filhos enquanto trabalham em casa; como consequência, muitas mães adotaram expedientes de meio período

23 jul 2021 - 05h10
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Milhões de pais, na maior parte mães, deixaram de trabalhar porque a pandemia obrigou o fechamento de creches e escolas. Mas, para muitos que mantiveram seus empregos, as demandas com os filhos também afetaram sua atividade, embora de maneira menos visível. Eles têm trabalhado menos horas, recusaram novas atribuições, ou decidiram não aceitar uma promoção ou procurar um novo emprego.

É o que os economistas chamam de margem intensiva - o quanto as pessoas trabalham em oposição a quantos estão na ativa. E isso é mais difícil de ser quantificado nas estatísticas oficiais de emprego. Mas há evidências de que os pais que estão empregados retardaram sua carreira enquanto o retorno das creches e escolas continua prejudicado. E isso tem efeitos de curto prazo sobre sua vida profissional e também de longo prazo sobre suas carreiras, segundo uma pesquisa, porque os empregadores dos Estados Unidos costumam penalizar as pessoas que trabalham menos do que costuma ser o seu pleno rendimento.

"Acho que muitas mulheres que não foram obrigadas a sair de casa se consideram com sorte, mas foram forçadas a se calar, assumir uma posição menos exigente, de nível inferior", disse Maria Rapier, que tem três filhos e deixou seu emprego onde dirigia um departamento e participava de reuniões da diretoria. "Mesmo que mantenham o emprego, elas não conseguem colaborar plenamente porque metade do tempo ficam olhando seu laptop para ver como estão os filhos e a roupa suja amontoando."

Na Bay Area, onde vive, algumas escolas ficaram fechadas no ano passado, e sua abertura neste último trimestre não está garantida.

"Estou aqui sentada inserindo dados e sei que, com minha formação e experiência, poderia estar na mesa onde decisões são tomadas", afirmou. "Isso foi um choque para o meu ego. Mas também para minha profissão porque sou boa no tocante à tomada de decisões estratégicas."

Pesquisa realizada pela Mourning Consult para o The New York Times durante o ano escolar, das 468 mães que trabalham fora e responderam à pesquisa, um terço respondeu ter trabalhado menos horas durante a pandemia para cuidar dos filhos e um quinto passou a trabalhar em meio período.

Segundo a pesquisa, 28% recusaram novas responsabilidades no emprego, 23% não se candidataram a um novo trabalho e 16% não buscaram uma promoção.

O Census Bureau - agência americana de pesquisas estatísticas - realiza pesquisas com as famílias semanalmente. No último registro, cobrindo de 23 de junho a cinco de julho, 26% das pessoas inquiridas com filhos impossibilitados de ir à creche ou à escola por causa da pandemia disseram que um adulto na casa teve de reduzir as horas de trabalho pagas na última semana por causa do problema. Um quarto pediu demissão para cuidar das crianças, e um quinto usou ausências remuneradas, como férias ou dias sem trabalhar por causa de doença, para se ocupar da família.

"Ninguém fala sobre isso", disse Misty Heggeness, economista do Census Bureau. "Apesar de essas pessoas estarem na ativa, veremos uma queda no campo da igualdade de gênero se não dermos atenção à margem intensiva."

Mãs trabalham menos

Mães sozinhas que não vivem com outro adulto em idade ativa foram as que tiveram a maior redução nas horas trabalhadas e são as que têm menos probabilidade de recuperar esse tempo, segundo dados da pesquisa do Census Bureau.

Meghan McGarry, que tem uma filha de sete anos, possui uma empresa de organização do lar em Houston, e seu marido trabalha no setor de petróleo e gás. Mesmo que a demanda por seus serviços tenha aumentado, ela cortou as horas de trabalho de quatro para uma e não acha que voltará à atividade integral antes do outono no hemisfério norte. "Escolhi essa carreira por causa da sua flexibilidade, sabendo que haveria fases boas e ruins. Mas nunca imaginei que essa fase ruim duraria 15 meses."

Outras mulheres temem os efeitos sobre sua carreira. Jaishree Raman, diretora de TI em Norman, Oklahoma, está em licença não remunerada de seis meses, depois de três décadas trabalhando. Seu pai necessita de cuidados, e a família não quer contratar uma cuidadora durante a pandemia. Ela também ajuda seu filho adulto que vem se submetendo a uma quimioterapia e necessita de cuidados extra para não se expor ao coronavírus.

"Era uma culpa constante, não me sentindo capaz de fazer tudo que costumava fazer no emprego. Não pedia um aumento porque achava que a empresa estava me fazendo um enorme favor", ao acomodar sua necessidade de cuidar dos seus familiares.

Ela teme que será difícil retornar ao trabalho depois da pausa. "O que posso dizer? Não posso falar em burnout (ou síndrome de esgotamento profissional), pois isso é interpretado como fraqueza."

Quanto aos pais, eles também trabalharam menos. Jacob, que mora em Dobbs Ferry, Nova York, é consultor e mede seu trabalho diário em consultas de 15 minutos. Com sua filha menor em casa e a mulher trabalhando o dia inteiro com pesquisas de medicamentos para a covid, ele cortou suas horas de consultoria em 20%. "Não tive escolha, não temos babá. A cada cinco minutos, tinha de ver como a minha filha estava."

Ele conseguiu retomar sua atividade plena só recentemente, quando a família se mudou para um lugar onde as escolas estão abertas e inscreveram a filha num acampamento de verão administrado pela escola. /TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Estadão
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