Com pandemia, Brasil registra no 1º semestre de 2021 o menor crescimento da população
No primeiro semestre, mortes e redução nos nascimentos bateram recordes, apontam cartórios de registro civil
Nunca se morreu tanto, nem se nasceu tão pouco no Brasil em um primeiro semestre como em 2021. Por causa da pandemia de covid-19, o Brasil registrou, de janeiro a junho passado, o menor crescimento vegetativo da sua população na comparação com períodos semelhantes de anos anteriores: menos de 400 mil pessoas.
O resultado veio da combinação do maior número de mortes da história do País na primeira metade de um ano com o menor número de nascidos vivos no mesmo período. A contagem é feita desde o início da série histórica, em 2003. Baseia-se nos cartórios de registro civil, onde, por lei, devem ser assentados todos os nascimentos, óbitos e casamentos.
"Os números mostram claramente os impactos da doença em nossa sociedade e possibilitam que os gestores públicos possam planejar as diversas políticas sociais com base nos dados compilados pelos cartórios", disse o presidente da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), Gustavo Renato Fiscarelli.
A entidade chegou a essas conclusões a partir da análise dos registros e de seu cruzamento com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Tradicionalmente, no Brasil, os nascimentos superam as mortes em cerca de 900 mil pessoas. Este ano, essa diferença caiu para apenas 368.860 - menos 59,1%. O recuo aproximou os dois indicadores como nunca antes no País.
Em pelo menos dois Estados da federação, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, o registro de mortos chegou a superar o número de novos bebês. No Rio Grande do Sul, foram 66.751 óbitos contra 65.905 nascimentos, ou seja, 845 mortes além dos registros de crianças.
No Rio, 99.103 pessoas morreram enquanto nasceram 96.416, mais de 2,6 mil óbitos de diferença. Em São Paulo, de acordo com o estudo, houve 277.019 registros de bebês e 248.624 óbitos no período. "É um dado histórico relevante para a sociedade", disse Fiscarelli.
Mortes ficaram 37% acima do registrado do primeiro semestre de 2020
Em números absolutos, os cartórios registraram 956.534 mortes de janeiro a junho. O dado é 67,7% maior que a média histórica de óbitos no País e 37,3% maior que os ocorridos no mesmo período do ano passado - com pelo menos quatro meses de pandemia. Sobre 2019, o aumento foi de 52,8%.
Foi registrado também o menor número de nascidos vivos em um primeiro semestre desde o início da série histórica em 2003. Até o fim de junho foram registrados 1.325.394 nascimentos, 10% abaixo da média desde 2003, e 0,09% menor em 2020. Em comparação a 2019, ano anterior à chegada da pandemia, o número de nascimentos caiu 8,6% no País.
Especialistas ligam queda nos nascimentos a redução nos casamente durante pandemia
Para alguns especialistas, a queda do número de novos bebês está diretamente relacionada à redução do número de casamentos constatada na pandemia.
Até junho deste ano, foram registrados 372.077 casamentos. O número é 12,8% mais baixo do que a média histórica para o primeiro semestre no Brasil. O dado, no entanto, é 28,9% maior em relação ao mesmo período do ano passado. Foi quando os registros foram ainda mais impactados pela chegada da pandemia e a adoção de medidas de isolamento social.
Os números estão no Portal da Transparência do Registro Civil. Trata-se de uma base de dados abastecida em tempo real pelos registros feitos em todos os cartórios do País.
Fiscarelli acrescentou que os dados revelam também o tamanho do impacto da pandemia nas famílias. "Há também o impacto nos casais que suspenderam seus projetos de ter filhos por insegurança e também desencorajados até a enfrentar partos nos hospitais", ponderou. "Sem dúvida, o quadro revela que o planejamento familiar dos brasileiros foi afetado", concluiu.