Comissão do Ministério da Saúde contraindica cloroquina
Orientação vai na contramão da defesa enfática que Bolsonaro faz do uso dos medicamentos sem comprovação científica contra a covid-19
A comissão do Ministério da Saúde responsável por assessorar a pasta no processo de incorporação e exclusão de medicamentos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) contraindicou o uso da cloroquina, da hidroxicloroquina e da azitromicina no tratamento de pacientes hospitalizados com covid-19.
A orientação dada pelo órgão vai na contramão da defesa enfática que o presidente Jair Bolsonaro faz do uso dos medicamentos sem comprovação de eficácia do chamado "kit-covid" para tratar a doença.
"Não há evidência de benefício seja no seu uso de forma isolada ou em associação com outros medicamentos", disse relatório técnico da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).
O documento destacou ainda que a cloroquina e a hidroxicloroquina não devem ser utilizadas, independentemente da via de administração: oral, inalatória ou outras.
O relatório abre a exceção para que pacientes que usam esses dois medicamentos devido a outras condições de saúde, como doenças reumatológicas e malária, mantenham-nas caso contraiam a covid-19.
Por sua vez, a utilização da azitromicina pode ser feita na presença ou suspeita de infecção bacteriana, de acordo com orientações do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar local e/ou protocolos institucionais de uso de antimicrobianos.
O relatório da Conitec não fala do uso da cloroquina e dessas outras medicações em casa. O documento de 101 páginas servirá de base para uma decisão final do Ministério da Saúde sobre o uso dessas medicações para o tratamento da covid-19.
A compra e a distribuição da cloroquina e de outros medicamentos estão no cerne da investigação da CPI da Covid e de apurações que envolvem o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, convocado a depor nesta quarta-feira, 19, na comissão.
O documento da Conitec também recomenda não utilizar a ivermectina em pacientes hospitalizados com covid ante o que consideram de "certeza da evidência muito baixa". A ivermectina - um popular vermífugo - é outra medicação defendida pelo presidente como tratamento precoce contra a doença.
O texto também sugere não usar o remdesivir em pacientes hospitalizados com covid-19, citando, por exemplo, que essa medicação não reduziu mortalidade em pacientes nessa condição e tampouco "parece haver benefício nos pacientes em uso de ventilação mecânica".
"Houve redução do tempo para recuperação em pacientes com uso de oxigênio em baixo fluxo em um ensaio clínico, contudo, há incertezas sobre esse benefício e sua significância clínica, não justificando seu uso de rotina mesmo nesse grupo de pacientes", disse o Conitec.
O documento cita ainda que pode haver "algum benefício marginal" com o remdesivir, mas observa que "seu alto custo, baixa experiência de uso e incerteza em relação à efetividade não justificam seu uso de rotina".
Procurado, o Ministério da Saúde não se manifestou de imediato a respeito do relatório e de que caminho vai adotar após a divulgação do documento.
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