“Corona!,corona!”: Brasileiros são hostilizados na Ásia
Relatos dão conta da situação tensa de estrangeiros em alguns países desse continente
Brasileiros que vivem ou estão de passagem pela Índia e outros países asiáticos relatam hostilidades dos moradores dessas regiões em razão da proliferação do novo coronavírus. O Terra entrou em contato com três turistas do Brasil sitiados em cidades da Índia e do Nepal. Dois deles estão na lista de passageiros de um voo providenciado pelo Itamaraty para resgatá-los e programado para sair de Nova Délhi na terça-feira (14).
“Corona!, corona! – tenho de ouvir isso nas poucas vezes que saio para ir ao mercado ou a uma farmácia, algumas pessoas nos olham enraivecidas”, contou F., de 26 anos, um dos que querem voltar imediatamente ao Brasil. Ele está numa cidade ao norte da Índia e vai viajar cerca de cinco horas de carro para se juntar ao grupo que embarcará na terça, da capital indiana.
“Nos associam à pandemia e isso nos atemoriza. Para um contingente numeroso deles, fomos nós que trouxemos o coronavírus.”
C. A. , 34 anos, também passa por maus bocados na Índia. Para fazer compras dias atrás num mercado da cidade onde está hospedada, no Estado de Goa, ela teve de se cobrir toda, a fim de não revelar sua identidade. Seguiu assim orientação do proprietário, indiano, do hostel que a acolheu.
“Por enquanto, o número de mortos pela covid-19 aqui na Índia é pequeno. Mas, deve aumentar. Com isso, nossos amigos daqui nos alertam, vai crescer a onda de xenofobia. Por isso, não vejo a hora de entrar logo no avião providenciado pela nossa embaixada”, disse C. A., professora universitária que mora em São Paulo e viajou para a Ásia a trabalho, no início de março.
No Nepal, país vizinho, grupos de brasileiros também se mobilizam para viabilizar o retorno ao Brasil. Um deles, R, de 29 anos, falou ao Terra sobre hostilidades a estrangeiros naquela país. “O tratamento passou a ser diferente nas últimas semanas. Com má vontade quando nos atendem. Estão com a convicção de que somos os responsáveis pela disseminação do vírus.”
R. tem mantido contato com outros brasileiros em situações semelhantes, que estão no Vietnã em quarentena e sem perspectiva de deixar o local. "Manter a calma em momentos assim é fundamental. Sabemos que o Itamaraty está agindo, mas tudo ainda está muito incerto."