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Coronavírus

Coronavírus: 14 Estados têm queda de internações após isolamento social; DF e outros 6 Estados enfrentam alta

Foram mais de 315 mil internações de janeiro a junho deste ano, segundo dados do InfoGripe, que monitora os casos de covid-19 e outros tipos de síndrome respiratória aguda grave; número supera o ano de 2009 inteiro durante a pandemia de H1N1 (202 mil).

19 jun 2020 - 05h39
(atualizado às 07h25)
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Agente de saúde com máscara
Agente de saúde com máscara
Foto: Agência Brasil / BBC News Brasil

Catorze Estados brasileiros apresentam atualmente tendência de queda no número de internações hospitalares ligadas à pandemia de covid-19. Cientistas ouvidos pela BBC News Brasil e informações da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que há anos gerencia o principal monitoramento de casos de doenças respiratórias do país, indicam que essa queda se deve às medidas de distanciamento social.

Por outro lado, o Distrito Federal e outras seis unidades da federação registram um aumento das hospitalizações. Segundo a Fiocruz, que analisa semanalmente esses dados, todas as regiões do país ainda se encontram na zona de risco e a flexibilização do isolamento pode elevar o número de infectados.

São mais de 315 mil internações de janeiro a junho deste ano, segundo dados do InfoGripe, que monitora os casos de covid-19 e outros tipos de síndrome respiratória aguda grave (srag). Esse número supera o ano de 2009 inteiro durante a pandemia de H1N1 (202 mil).

- os 14 Estados com tendência de queda ou sinais dela: Amazonas, Amapá, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins.

- os 6 Estados com estabilização ou sinais dela: Acre, Alagoas, Bahia, Goiás, Maranhão e Roraima.

- as 7 unidades federativas com tendência de alta ou sinais dela: Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia e Sergipe.

Essas análises foram feitas pela Fiocruz com base em registros de casos de síndrome respiratória aguda grave entre 7/6 e 13/6 — a covid-19 corresponde a 98% dos registros. Em geral, 13% dos pacientes infectados com o novo coronavírus precisam ser internados, sendo 30% deles na UTI.

A Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) fez um levantamento de dados de 16 mil pacientes de 323 unidades de saúde privadas e 129 públicas de março a maio. Segundo a entidade, o tempo médio de internação de alguém infectado por covid-19 é de dez dias e 34% desses pacientes ficam ali mais de uma semana na unidade de terapia intensiva. A cada 100 pessoas internadas, 58 são homens, 44 têm mais de 65 anos e 74 têm comorbidades. Um quinto dos pacientes da UTI acaba morrendo.

O número de mortes por srag também está pelo menos dez vezes maior do que a média histórica, afirma a instituição. Estima-se que 75 mil pessoas tenham morrido de srag neste ano. Isso representa 29 mil mortes a mais do que apontam os dados oficiais de covid-19 — 46 mil óbitos —, que vem sofrendo com subnotificação por falta e atraso de testes.

Segundo a Fiocruz, se uma autoridade quiser tomar decisões sobre reabrir o comércio ou fechar tudo, por exemplo, com base nesses dados, deve levar em conta também a taxa de ocupação dos leitos hospitalares. Afinal, "o número de novos casos semanais de srag ainda se encontra elevado mesmo nos Estados que apresentaram queda".

Números estaduais podem não refletir situações distintas como queda em parte dos grandes centros urbanos e avanço em cidades no interior.

Atualmente, ao menos 8 Estados apresentam taxa de ocupação de leitos UTI acima de 80% em 17 de junho: Acre, Alagoas, Espírito Santo, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Roraima e Sergipe. Veja abaixo o mapa.

Mas esses números podem variar rapidamente. O principal hospital de Roraima (HGR) e seu anexo, por exemplo, registravam oficialmente 71% de lotação no dia 7/6. Uma semana depois, estavam com 110% da capacidade.

Além disso, Estados enfrentam situações graves em parte dos hospitais ou das cidades.

No Rio Grande do Norte, a taxa de ocupação geral é de 80%, mas 10 dos 12 hospitais das redes privadas e públicas envolvidos no combate à pandemia estão com 100% das camas hospitalares ocupadas, segundo dados do governo estadual.

No Ceará, a taxa de ocupação das UTIs caiu de 91% em 24/5 para 72% em 17/6. Mas sete hospitais estão com mais e 95% dos leitos ocupados, como o Hospital Regional Norte, em Sobral, que está completamente lotado.

Governo Bolsonaro não sabe quantos leitos estão ocupados

Em menos de uma semana, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que os cidadãos deveriam invadir hospitais para expor leitos vazios; disse também que ninguém morreu por falta de camas hospitalares no país durante a pandemia de covid-19.

O Brasil está no segundo lugar dos países com mais casos de covid-19
O Brasil está no segundo lugar dos países com mais casos de covid-19
Foto: BBC News Brasil

A primeira afirmação de Bolsonaro parece refletir a falta de dados e informações sobre o assunto. Até agora, o país não tem um dado nacional consolidado sobre a utilização dos leitos de UTI. Desde abril, durante a gestão Mandetta (no comando do Ministério da Saúde), o governo Bolsonaro tenta reunir dados sobre o número de leitos para traçar estratégias, mas ainda não conseguiu concluir seu censo hospitalar.

Os números têm sido divulgados de forma desordenada pelos Estados — alguns com atualizações diárias e outros com notificações esporádicas e incompletas sobre as taxas de ocupação. Uma realidade bastante diferente da de outros países, como a Alemanha, por exemplo, que disponibiliza na internet os índices de cada unidade de saúde.

Segundo Estados e municípios, faltaram leitos durante a pandemia e, atualmente, há diversos hospitais lotados em vários cantos do país.

Em nota, o Ministério da Saúde brasileiro afirma que o painel de monitoramento de leitos foi lançado há quase um mês (com dados incompletos, acesse aqui neste link) e que vem discutindo frequentemente com gestores estaduais, municipais e de unidades de saúde sobre a importância dessas informações para que "o Ministério da Saúde consiga planejar, ser efetivo e ainda mais assertivo em sua tomada de decisão". Até agora, 484 dentre 1.001 unidades de saúde se inscreveram no sistema da pasta.

Quanto à segunda afirmação de Bolsonaro, não há dúvidas de que a falta de leitos de UTI e respiradores levou a mortes de pessoas no país. Em meados de maio, por exemplo, a BBC News Brasil publicou uma reportagem com o relato de cinco médicos sobre a falta de estrutura de saúde em Pernambuco. "Não havia respirador disponível... Manejamos com o que tínhamos e fazendo medidas de conforto em paralelo. Ele faleceu após 3 horas, roxo por falta de ar, em frente à equipe", contou uma médica generalista que trabalha em UTIs e UPA em Olinda.

A taxa de ocupação de leitos hospitalares é um dos principais indicadores utilizados por autoridades para decidir se contratam leitos da rede particular, autorizam a reabertura de shoppings ou montam hospitais de campanha, por exemplo. O Amazonas decidiu fechar uma dessas unidades e o Acre, abrir uma delas.

Além disso, um dos principais fatores para qualquer previsão sobre a demanda futura por leitos de UTI é o patamar de adesão popular ao distanciamento social. Marcelo Gomes, pesquisador em saúde pública da Fiocruz e coordenador do InfoGripe, afirma que os lugares que reabriram o comércio tiveram alta nos casos.

"Do ponto de vista epidemiológico, flexibilização das medidas de distanciamento social facilitam a disseminação de vírus respiratório e, portanto, podem levar a uma retomada do crescimento do número de novos casos", diz o boletim mais recente da Fiocruz.

Se houver novamente uma explosão de casos, o sistema de saúde pode entrar em colapso, como já aconteceu neste ano em Estados como Amazonas e Pernambuco.

Segundo dados do Ministério da Saúde, há 18.564 leitos de UTI adulto do SUS e 15.754 na rede privada.

De acordo um dos principais modelos matemáticos usados pela Casa Branca para tomar decisões, feito pela Universidade de Washington, haverá falta de leito no país como um todo no fim de julho, caso essa situação se mantenha como está (ou seja, não haja nenhuma mudança significativa no distanciamento social). Mas como todas as variáveis elencadas neste texto, esses números variam bastante de uma semana para outra, e de um lugar para outro.

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