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Coronavírus

Coronavírus pode custar R$ 410 bilhões extras ao SUS

Projeção está em documento do Ministério da Saúde, enviado pelo ministro Luiz Henrique Mandetta ao ministro da Economia, Paulo Guedes

26 mar 2020 - 05h11
(atualizado às 07h22)
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O novo coronavírus pode exigir R$ 410 bilhões a mais dos cofres públicos para que o Sistema Único de Saúde (SUS) consiga atender a população infectada. A projeção está registrada em documento, obtido pelo Estado, enviado na terça-feira pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a Paulo Guedes, da Economia. Apesar do discurso do presidente Jair Bolsonaro, que tenta minimizar a gravidade da doença, o documento expõe a preocupação do ministério com o aumento das despesas para tratar um número cada vez maior de pessoas infectadas.
SUS precisa de investimento para atender pacientes com coronavírus
SUS precisa de investimento para atender pacientes com coronavírus
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil / Estadão Conteúdo

Para chegar à cifra de R$ 410 bilhões, a equipe da Saúde projeta, por exemplo, o custo de R$ 9,31 bilhões para internações, caso 10% da população seja contaminada. O valor é "conservador", segundo o mesmo documento, "sendo necessário, assim, um aporte maior de recursos emergenciais". O orçamento do Ministério da Saúde previsto para todas as ações da pasta neste ano é de cerca de R$ 125,5 bilhões. O documento enviado a Guedes afirma que, "como na maioria dos países", os números de infectados no Brasil têm crescido de forma exponencial. "E há indícios de que estejam subestimados."

A Saúde ainda alerta que a prevenção de uma epidemia se torna mais desafiadora e cara quando há falhas na prevenção de surtos. "A mitigação da epidemia continua sendo a única opção política. Atrasos na detecção e controle são, em última análise, muito caros, porque os custos de contágio e mitigação crescem exponencialmente."

Depois de Mandetta afirmar que o SUS poderia entrar em "colapso" em abril pela covid-19, o presidente Jair Bolsonaro tem reforçado discursos em que minimiza os riscos. Mesmo integrando grupo de risco, por ter mais de 60 anos, Bolsonaro já afirmou que não teria problemas com a doença pelo seu "histórico de atleta" e disse que "depois da facada, não vai ser uma gripezinha" que o derrubaria.

Apesar de usar termos mais leves, Mandetta tem modulado seu discurso ao do chefe. "Antes de adotar o 'fecha tudo', existe a possibilidade de fazer redução de mobilidade urbana, existe uma série de medidas que vai se tomando até que se tenha um patamar", disse o ministro nesta quarta-feira. Mais cedo, em reunião de Bolsonaro com governadores, Mandetta já havia pedido "tranquilidade" e "calma" durante a crise.

Urgência

Os dados sobre o impacto orçamentário da crise pela covid-19 foram expostos como parte de justificativa para elaborar um projeto com financiamento de US$ 100 milhões (R$ 503 milhões, considerando a atual taxa de câmbio) do Banco Mundial para compra de testes de diagnóstico, custeio de serviços "pré-clínicos" e contratação de equipes de saúde para atuarem emergencialmente. Mandetta afirma a Guedes que o apoio do Banco Mundial permitirá dar "maior celeridade" nos processos de compras e contratações para combater a covid-19. "Ressalto a necessidade de urgência de apreciação do pleito", escreveu. Uma das ideias do governo é usar a parceria com o banco para adotar no País serviço de telemedicina para atendimentos de triagem de pacientes com sintomas. Para isso, seriam investidos US$ 10 milhões (R$ 50,3 milhões).

A Saúde também considera "urgente" a busca por profissionais da área. A ideia é usar US$ 62,4 milhões (R$ 313,8 milhões) para contratar emergencialmente, especialmente para atuar durante três meses em centros de terapia intensiva (CTIs). A pasta quer ainda recursos do banco para compra de milhares de testes de diagnóstico. O governo anunciou na terça-feira que pretende ter mais de 22 milhões de dispositivos para exames. O projeto prevê a compra de testes para 1,53 milhões de pessoas sintomáticas, no valor de US$ 27,6 milhões.

A proposta obtida pelo Estado afirma que os testes rápidos da doença devem ser usados como "ferramenta para auxílio no diagnóstico". "Resultados negativos não excluem a infecção por SARS-CoV-2 e resultados positivos não podem ser usados como evidência absoluta. O resultado deve ser interpretado por um médico com auxílio dos dados clínicos e outros exames laboratoriais confirmatórios", diz o documento.

Procurado, o Ministério da Saúde confirmou que pediu um financiamento ao Banco Mundial de US$ 100 milhões para ações de combate ao novo coronavírus, mas não explicou o cálculo para chegar aos R$ 410 bilhões do SUS que a crise pode exigir. O Ministério da Economia, por sua vez, disse que o assunto deve ser tratado com a Saúde.

Estadão
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