Coronavírus: Quando a pandemia de covid-19 vai terminar?
A covid-19 mudou o mundo. A pergunta que muitos se fazem é: estamos vencendo ou perdendo essa guerra?
Há pouco mais de seis meses, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a chegada do novo vírus que em pouco tempo se tornou uma pandemia global.
Naquele dia, no final de janeiro, havia quase 10 mil casos relatados de coronavírus e mais de 200 mortes. Nenhum dos casos havia acontecido fora da China.
Desde então, o mundo e nossas vidas, mudaram profundamente. Como estamos lidando com a guerra entre a raça humana e o coronavírus?
Se olharmos para o planeta como um todo, o resultado não é bom.
Já nos aproximamos de 2019 milhões de casos confirmados e superamos 700 mil mortes. No começo da pandemia, demorava semanas até se registrarem cada 100 mil casos. Agora esse marco é atingido em questão de horas.
Gulp... It took 67 days from the first reported case to reach the first 100,000 cases, 11 days for the second 100,000 cases and just four days for the third 100,000 cases @WHO #coronavirus
— James Gallagher (@JamesTGallagher) March 23, 2020
"Ainda estamos no meio de uma pandemia intensa e muito grave", diz Margaret Harris, da OMS. "Está presente em todas as comunidades do mundo."
O impacto da covid-19 é diferente pelo mundo afora, e é fácil cada pessoa ignorar o que acontece no resto do mundo, fora de seus próprios países.
Mas um fato une todo mundo, desde quem vive na floresta amazônica, nos arranha-céus de Singapura ou nas ruas do Reino Unido: este é um vírus que prospera com o contato humano. Quanto mais nos aproximamos, mais fácil é a contaminação. Isso segue tão forte hoje em dia quanto no dia em que o vírus surgiu na China.
Esse ponto central explica a situação de todos no mundo e sugere como será nosso futuro.
É o que provoca o grande número de casos na América Latina — o atual epicentro da pandemia — e o surto na Índia. É o que explica o porquê de Hong Kong estar mantendo pessoas em centros de quarentena ou da Coreia do Sul de estar monitorando contas bancárias e de telefone de seus cidadãos.
É o que leva a Europa e a Austrália a terem dificuldades em equilibrar o final das quarentenas com a contenção da doença. E é o porquê de estarmos buscando "um novo normal", em vez de voltarmos ao "velho normal".
"Esse é um vírus que circula por todo o planeta. Ele afeta cada um de nós. Ele passa de pessoa para pessoa, e sublinha o fato de estarmos todos conectados", diz Elisabetta Groppelli, da St George's University of London.
Até o simples ato de cantar juntos pode espalhar o vírus.
O vírus também se provou especialmente difícil de rastrear, com sintomas leves ou até inexistentes em várias pessoas, mas mortal suficiente em outros, capaz de lotar hospitais.
"É o vírus pandêmico perfeito para nossa era. Nós agora vivemos na era do coronavírus", disse Harris.
As melhores chances contra o vírus até agora foram nas tentativas de se conter a disseminação do vírus de uma pessoa para outra.
A Nova Zelândia é onde isso mais chamou atenção. O país agiu cedo, quando ainda havia poucos casos: com quarentenas e fronteiras fechadas. Agora praticamente não há mais casos e a vida voltou ao normal, em grande parte.
Atenção para coisas básicas também ajudam em países pobres. A Mongólia tem a maior fronteira de qualquer país com a China, onde o surto começou. No entanto, não foi registrado, antes de julho, qualquer caso de internação em UTI. Até agora só foram diagnosticados 293 casos, com nenhuma morte.
"A Mongólia fez um ótimo trabalho com recursos muito limitados. Eles fizeram um trabalho exaustivo de epidemiologia, isolando casos, identificando contatos e isolando esses contatos", afirma o professor David Heymann, da London School of Hygene and Tropical Medicine.
Eles também foram rápidos em fechar escolas, restringir viagem internacional e promover o uso de máscaras e higienização das mãos.
Por outro lado, Heymann argumenta, a "falta de liderança política" abalou muitos países em que "os líderes na saúde e na política têm dificuldades de conversar juntos". Neste clima, o vírus prosperou. O presidente americano, Donald Trump, e a maior autoridade em doenças infecciosas do país, Anthony Fauci, claramente estiveram em lados opostos nesta pandemia.
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, se juntou a manifestações contra a quarentena e descreveu o vírus como "gripezinha", dizendo que a pandemia estava quase no fim em março.
Ao invés disso, o Brasil teve 2,8 milhões de casos e mais de 100 mil mortos.
Mas os países que conseguiram se impor contra o vírus — na maioria com quarentenas dolorosas que machucaram as sociedades — estão descobrindo que o vírus não sumiu, e que ele vai continuar voltando se nós relaxarmos. A normalidade ainda está muito distante.
"Estão descobrindo que é mais desafiador sair da quarentena do que entrar nela", diz Groppelli. "Eles ainda não pensaram sobre como podemos coexistir com o vírus."
A Austrália é um dos países tentando achar um caminho para sair da quarentena, mas o Estado de Victoria agora está em estado de "desastre". Melbourne voltou para quarentena no começo de julho — com o contágio crescendo — e desde então impôs regras mais rígidas. Agora há um toque de recolher e as pessoas só podem se exercitar dentro de um raio de cinco quilômetros de suas casas.
A Europa também está reabrindo, mas Espanha, França e Grécia registraram recentemente o número mais alto de casos das últimas semanas. A Alemanha está com mais de mil casos por dia pela primeira vez em três meses.