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Coronavírus

Covid-19: oportunistas cobram R$ 800 por pacote de máscaras

Sites de comércio eletônico enfrentam centenas de anúncios de preços abusivos por causa da corrida provocada pela covid-19

23 mar 2020 - 19h05
(atualizado às 19h40)
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Foto: Saulo Angelo / Futura Press

Uma caixinha com 50 máscaras descartáveis, que em situações normais custaria entre R$ 10 e R$ 15, era vendida na noite deste domingo, 22, no site do Mercado Livre, por nada menos que R$ 797,40. Sim, um valor 53 vezes superior ao preço praticado regularmente.

Na descrição do produto, o oportunista argumenta que, "nas circunstâncias atuais, todos sabemos que o suprimento de máscaras é escasso, portanto o preço será mais alto do que o habitual". E, cinicamente, ainda acrescentava: "De fato, não estamos fazendo isso por interesses comerciais, queremos apenas oferecer o maior número possível de opções pra vocês. Espero que todos possam entender! Obrigado. Espero que todos estejam bem."

O anúncio publicado no Mercado Livre, que atua como uma plataforma digital que reúne milhares de parceiros comerciais, foi copiado pela reportagem na noite de domingo. Nesta segunda-feira, já não estava disponível.

O caso é apenas um entre centenas de exemplos de preços abusivos que se espalham nos principais sites de comércio eletrônico do país, por causa da corrida provocada pela covid-19. Há dezenas de anúncios de pacotes de máscaras com preços abusivos, acima de R$ 200 uma caixinha com 50 unidades.

Além do Mercado Livre, e reportagem também encontrou cobranças extorsivas em parceiros que anunciam no site das Lojas Americanas, que também funciona como um shopping virtual para lojistas.

Na semana passada, os grandes sites de comércio eletrônico dos Estados Unidos, Amazon e eBay, baniram diversos centenas de anúncios de revendedores de álcool em gel, luvas e máscaras. Entre estes estava um anunciante que comprou 17 mil garrafas de álcool em gel de farmácias e supermercados, para revender pelo triplo do preço.

No Brasil, farmácias de alguns Estados, como Mato Grosso e Pará, chegaram a ser multadas por preços abusivos, prática ilegal prevista no Código de Defesa do Consumidor. A aplicação de sanções começa a chegar, agora, ao comércio elétrico.

Luciano Benetti Timm, secretário Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça, disse ao Estado que os maiores sites de revendas de produtos do País estão fazendo uma lista com os anunciantes com preços abusivos. "Essa lista será entregue a nós. A regra aplicável é a mesma do código de defesa do consumidor. Abriremos processos sancionadores contra esses anunciantes", disse. A punição é uma multa que leva em consideração o faturamento da empresa, podendo chegar até a R$ 9,9 milhões.

O cidadão que identificar um preço abusivo na internet já tem um canal de denúncia. A orientação é que o consumidor faça uma cópia (print) da tela com os dados do anúncio e do anunciante, e envie para um e-mail para Câmara do Comércio Eletrônico, no seguinte endereço: denuncias@camara-e.net .

"De fato, começou-se a verificar preços abusivos em operações digitais. Nossa recomendação é que o consumidor não adquira esses produtos com preços nitidamente alterados, faça um print da tela e denuncie", comenta Henrique Lian, diretor de relações institucionais da organização Proteste.

Mercado Livre exclui anúncios com informações enganosas e preços abusivos

O Mercado Livre informou que, até o momento, quase 4 mil publicações (de 2,3 mil vendedores) foram excluídas do site, devido a aumentos excessivos de preços. "No caso de o vendedor voltar a realizar o anúncio em desacordo com essa orientação, ele estará sujeito a ter seu cadastro suspenso na plataforma", informou a empresa, por meio de nota.

Paralelamente, o Mercado Livre tem removido publicações de produtos que garantam prevenir, aliviar e até mesmo curar um paciente contaminado pelo coronavírus. Até o momento, cerca de 24,5 mil anúncios foram excluídos. "São informações enganosas, não endossadas pela Organização Mundial da Saúde", declarou.

Nas últimas semanas, devido ao aumento da demanda por necessidades básicas, a empresa enviou um alerta aos vendedores "para que mantenham seus preços semelhantes aos valores de mercado". O site informou que anúncios de álcool em gel ou máscaras que sofram aumentos desproporcionais serão excluídos. O site lembra ainda que 100% dos anúncios publicados possuem o botão "Denúncia", logo abaixo da oferta, no canto inferior direito, para que qualquer pessoa possa apontar práticas irregulares. A empresa informa ainda que se mantém à disposição dos órgãos regulatórios e de defesa do consumidor para contribuir no que for necessário.

O portal das Lojas Americanas, por meio de sua controladora, a empresa B2W, informou que está "adotando medidas severas diante de eventuais preços abusivos vindo de nossos vendedores do marketplace", como a retirada imediata dos produtos do ar e, se for necessário, o bloqueio das lojas que descumprirem essas normas. "Pedimos à sociedade que contribua conosco e, caso observe essa prática, por favor, utilize o link de denúncia na página do produto no site ou app (aplicativo) da Americanas", afirmou.

Veja também: 

Como brasileiros na Europa vivem isolamento por coronavírus:
Estadão
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