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Coronavírus

Nível de testes positivos de covid se aproxima de taxa do pico da Ômicron

Dados de farmácias e laboratórios mostram patamar elevado da doença no País. Especialistas destacam importância do reforço na vacinação

12 jul 2022 - 05h11
(atualizado às 07h53)
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Agente de saúde realiza teste para detecção do coronavírus (covid-19) no Clube do Servidor Municipal, no Rio de Janeiro
Agente de saúde realiza teste para detecção do coronavírus (covid-19) no Clube do Servidor Municipal, no Rio de Janeiro
Foto: JOAO GABRIEL ALVES/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO

As taxas de testes positivos de covid-19 no Brasil já se aproximam nas últimas semanas dos níveis registrados no auge do surto da variante Ômicron, no começo do ano, conforme dados de farmácias e laboratórios. Especialistas apontam que a transmissão do coronavírus segue alta e alertam para a subnotificação, diante do uso de autotestes e casos assintomáticos que não são testados.

Tanto a alta de casos puxada principalmente pelas sublinhagens BA.4 e BA.5, quanto a positividade de testes devem cair nas próximas semanas, porém, com a alta circulação do vírus, possíveis mutações podem virar o jogo. O número de mortes, que não recrudesceu na mesma medida que as infecções, segue crescendo e deve demorar um pouco mais para declinar, frente à baixa cobertura de reforço.

Positividade

Segundo a Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), o mês passado teve taxa de positividade de 32,26%, quando foi de 39,87% em janeiro, e 30,51% em fevereiro. Já os dados da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) indicam que junho teve a mesma porcentagem do segundo mês do ano, 41,08%. Em janeiro, a relação entre testes efetuados e positivos foi de 44,9%.

A Abrafarma informou que, entre 27 de junho a 3 de julho, aos 35,18%, a taxa de positividade foi a maior em 21 semanas. "Voltamos ao patamar de fevereiro depois da sensação de que a pandemia estava sob controle a partir de março", alertou Sergio Mena Barreto, CEO da associação, em nota.

Em relação aos números absolutos, junho (349.345) só fica atrás de janeiro (984.650). O total indica um crescimento de 156,65% nos testes positivos em comparação com maio. Quando comparado com abril, o crescimento é ainda mais expressivo, de 992,3%.

A Abramed, por outro lado, indica que as próximas semanas serão de queda na positividade. Na última semana de junho, entre o dia 25 e o 1° de julho, a taxa foi de 42% ante 44,6% da anterior - o número de exames aplicados foi 9% menor.

A positividade de março (8,1%), abril (10,6%) e maio (27,8%), porém, foram bem menores. No total de positivos, novamente, junho (329.549) só fica atrás de janeiro (559.972).

Conforme dados das duas associações, o primeiro semestre de 2022 teve taxa de positividade superior ao mesmo período de 2021. A Abrafarma registrou positividade de 31,95% nos seis primeiros meses deste ano, quando foi de 23,45% no anterior. Já Abramed informa que as porcentagens semestrais foram de 38,1% e 15,6%, respectivamente. O que pode ser explicado, principalmente, pela maior transmissibilidade e capacidade de evasão de resposta imune da Ômicron em relação à Delta.

'Ainda está pegando fogo'

Publicado no dia 7 de julho, o boletim mais recente do Instituto Todos pela Saúde (ITpS) indica queda na taxa de positividade após pico em junho. O mês começou em 37%, depois superou os 45% e passou a cair nas últimas duas semanas. Atualmente, está em 40,5%. Um patamar elevado, na avaliação do virologista e pesquisador do ITpS Anderson Brito. "Ainda está pegando fogo."

Brito destaca que o pico nacional foi atingido em meados de junho, com taxas de positividade semelhantes às das últimas semanas de janeiro. "A positividade ficou acima de cinquenta por cento em em algumas faixas etárias e em alguns Estados." A tendência, nacionalmente, é de persistência na queda, no entanto, alerta que a maior parte das amostras analisadas são do Sudeste. "Os surtos nos diferentes Estados não são sincronizados."

Alta de casos

A alta na positividade de testes e de casos, segundo o ITpS, foi causada pelas subvariantes BA.5 e BA.4 da Ômicron. Na semana anterior ao boletim, elas representavam quase a totalidade de amostras positivas analisadas (93,2%). As duas já foram detectadas em 214 municípios, localizados em 19 Estados e no Distrito Federal.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as duas carregam mutação que parece estar relacionada a maior transmissibilidade e escape imune - seja de infecções anteriores ou da vacina. No boletim mais recente, informa que BA.5 foi detectada em 83 países e representou 52% das amostras analisadas. Já a BA.4 está em 73 países e é responsável por 12% das sequências submetidas.

Conforme dados do consórcio de veículos de imprensa, a média móvel de mortes cresceu cerca de 215% desde a entrada das sublinhagens no País, em meados de maio. A partir do dia 4 de julho, essa média se manteve relativamente estável, entre 55 mil e 57 mil.

Coordenador da Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt analisa que o País vê "platô" em relação à evolução de infecções, ou seja, "não está caindo, mas parou de crescer". No entanto, destaca, é preciso de um olhar regional: enquanto Sudeste, Sul e Centro-Oeste encaram a estabilização; Norte e Nordeste veem "só agora um aumento de casos mais forte". Após um platô, explica, a tendência é de queda. Com alta circulação do vírus, possíveis mutações colocam isso em risco, alerta.

As taxas de internações e óbitos também cresceram, mas não tanto quanto os casos. Também em comparação com meados de maio, os dados do consórcio mostram que o crescimento da média móvel de mortes foi de 111,7%. Desde o dia 28 de junho, ela está acima de 200. Schrarstzhaupt indica que o número de vítimas ainda não atingiu platô e cresce.

Marcelo Otsuka, infectologista e vice-presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), concorda. Ele avalia que pode levar mais tempo para que possamos ter queda nas mortes. "Porque temos uma população muito grande não vacinada com as doses de reforço." Além disso, adverte que a BA.4 e BA.5 resgata chance de lesão pulmonar, não aos níveis da Gama ou Delta, mas superior à BA.1 - a Ômicron "original".

Descuido

As sublinhagens da Ômicron, sozinhas, não são as únicas responsáveis pela expansão de casos. Conforme a infectologista Raquel Stucchi, da Sociedade Brasileira de Infectologia, "a baixa adesão ao esquema vacinal completo" tem papel importante. "Para enfrentarmos a variante Ômicron, precisamos de no mínimo três doses."

Somado a isso, houve redução na adesão a medidas não farmacológicas, como uso de máscaras e distanciamento. "A gente vê uma população que simplesmente esqueceu que ainda estamos numa pandemia", pondera Otsuka.

Frente a esse cenário e considerando as incertezas relativas à síndrome da covid longa, os especialistas pedem esforços para avanço da vacinação, bem como orientam uso de máscaras em locais fechados ou que reúnam muitas pessoas. Pessoas mais vulneráveis, como imunodeprimidos e pacientes oncológicos, devem ter atenção especial.

Subnotificação

Por mais que a média móvel de casos esteja na casa dos 50 mil, valor elevado, não se compara ao auge da Ômicron, que ficou acima de 100 mil entre 19 de janeiro e 21 de fevereiro. A subnotificação pode explicar a diferença. "Observamos, através da taxa de positividade, que ela alcançou níveis superiores a 55%, muito parecido com o que tivemos com a BA.1, seria esperado que o número de casos fosse parecido também", fala Anderson Brito. "Em função da subnotificação, não estamos enxergando de fato o que está acontecendo."

Otsuka destaca que o mascaramento de casos se dá, principalmente, por dois motivos: autotestes, que não têm sido computados, e assintomáticos que não buscam diagnósticos. "O fato de termos mais pessoas vacinadas, consequentemente, a infecção ou apresentação dela é menos grave. Um número muito grande de pessoas sequer estão fazendo testes."

Nesse sentido, também pontua que infecção anterior por BA.1 não protege necessariamente contra BA.4 e BA.5. "Tenho pacientes que em começo de junho tiveram uma infecção e agora tiveram outra, ou seja, o intervalo de um mês." Antes, reinfecção tendiam a ocorrer apenas de 4 a 6 meses depois.

Quanto aos autotestes, o levantamento mais atualizado da Abrafarma, relativo a março e abril, indica que de 32 mil pessoas, a maioria (88%) apresentou resultado negativo. Porém, são relativos a pacientes que, voluntariamente, acessaram QR Code na caixa do exame para atualizar o resultado.

Sem fornecer os números absolutos, a Raia Drogasil informou que a demanda por autotestes cresceu mais de 110% no mês de junho em comparação com maio. A Panvel também afirmou ter observado "crescimento na venda de autotestes nas últimas semanas", sem informar a quantidade.

Estadão
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