Depois de ofício com "erro", Guedes libera R$ 10 bi à Saúde
Governo corrigiu valor após Mandetta solicitar R$ 410 bilhões para aplicação no SUS
O ministro da Economia, Paulo Guedes, liberou nesta sexta-feira (27) cerca de R$ 10 bilhões para o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, aplicar na rede do Sistema Único de Saúde (SUS). A necessidade de aporte extra de recursos para enfrentar a pandemia do novo coronavírus pelo SUS foi relatada por Mandetta em ofício a Guedes, na última terça-feira.
No entanto, como revelou o Estado, o ofício falava em necessidade de R$ 410 bilhões extras para o combate à pandemia. Em nota, o ministério disse que colocou o número quatro onde deveria estar um cifrão. No documento, contudo, há um cifrão antes do número quatro.
"Esclarecemos que, de fato, a cifra consta em documento preliminar enviado ao Ministério da Economia com vistas a negociação de empréstimo junto ao Banco Mundial. Porém, o valor está errado. Trata-se de um erro material. O valor estimado correto seria R$ 10 bilhões. O algarismo '4' foi escrito por engano — deveria ser um cifrão, que fica na mesma tecla do '4'. O erro passou despercebido na revisão do documento. O Ministério da Saúde solicitou ao Ministério da Economia na manhã desta quinta-feira a devolução do estudo para as correções devidas", informou na quinta-feira, 26, o Ministério da Saúde.
O Estado apurou que a nota foi elaborada após o presidente Jair Bolsonaro questionar o ministro Mandetta sobre o valor solicitado a Paulo Guedes. Bolsonaro tem minimizado a pandemia do coronavírus. Ele já disse várias vezes que se trata de uma "gripezinha".
O discurso do Ministério da Saúde contraria o do presidente e, no documento, a pasta chega a estimar que 10% da população brasileira pode ser infectada. Apenas para estas internações, a equipe da saúde espera gastar R$ 9,3 bilhões. No documento enviado a Guedes, a pasta reconhece que a cifra é bastante subestimada.
Bolsonaro, em discurso nos últimos dias, já criticou, inclusive, o isolamento das pessoas como uma forma de combate à doença, por considerar que há uma "histeria" no tratamento do assunto.
Antes de publicar a reportagem, o Estado procurou o Ministério da Saúde, por meio da assessoria, questionando o valor de R$ 410 bilhões por duas vezes. Nas ocasiões, em nenhum momento, a pasta questionou o valor. O jornal também conversou com técnicos do primeiro escalão do ministério que participaram da elaboração do documento. Também não houve qualquer contestação à cifra.