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Coronavírus

Dívida do Brasil só deve perder da Angola no pós-pandemia

Projeções do FMI mostram que o indicador, uma das principais referências da capacidade de solvência de um país, deve chegar a 98,24% do PIB no fim deste ano

7 jun 2020 - 05h11
(atualizado às 08h48)
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Ministro da Economia, Paulo Guedes, deixa o Palácio do Alvorada
27/04/2020
REUTERS/Ueslei Marcelino
Ministro da Economia, Paulo Guedes, deixa o Palácio do Alvorada 27/04/2020 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

Os gastos do governo para sustentar a economia farão o Brasil sair da pandemia do novo coronavírus com a segunda maior dívida bruta entre os países emergentes. Projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), compiladas pelo Estadão/Broadcast, mostram que a dívida bruta brasileira, hoje em 89, 51% do Produto Interno Bruto (PIB), deve chegar a 98,24% no fim deste ano e se manter no mesmo patamar em 2021. Em um conjunto de 36 países emergentes e de renda média, o porcentual será inferior apenas ao de Angola, de 132,24% do PIB no fim deste ano.

O aumento da dívida bruta é uma das principais referências para avaliação, por parte das agências de classificação de risco, da capacidade de solvência de um país. Quanto maior a dívida, maior o risco de calote.

As projeções do FMI não incluem três países emergentes - Líbia, Argentina e Venezuela, por não entregarem informações ou não terem dados confiáveis -, sendo que os dois vizinhos sul-americanos possuem situação fiscal também preocupante. Ainda assim, as estimativas mostram que o Brasil terá, após a pandemia, uma dívida bruta bem superior à média de seus pares emergentes (62% do PIB no fim de 2020 e 64,5% em 2021).

Os dados, divulgados no Monitor Fiscal do FMI de abril, já consideravam os efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre as finanças dos países. Desde então, no entanto, muitas instituições financeiras têm alterado - para pior - suas projeções.

"O Brasil vai sair desta crise sanitária com quatro fragilidades: mais empobrecido, mais desigual, com menor potencial de crescimento e mais endividado", avaliou o economista Maílson da Nóbrega, ministro da Fazenda durante o governo de José Sarney e sócio da Tendências Consultoria Integrada.

Dívida/PIB

Em função da pandemia, todos os governos ao redor do mundo elevaram seus gastos para minimizar os efeitos do isolamento social sobre a economia. Mesmo com esses esforços, as estimativas indicam que a atividade econômica vai despencar, o que também afeta a relação entre dívida e PIB.

As projeções do FMI mostram, por exemplo, que o déficit primário brasileiro deve chegar a 5,17% do PIB em 2020. O porcentual reflete o descompasso entre receitas e despesas do governo. O déficit significa que os gastos superam as receitas com impostos e contribuições. Esse valor não contabiliza as despesas com juros da dívida pública.

O rombo da China será muito maior, de 10,28% do PIB, conforme o FMI. A diferença é que o Brasil estava em situação mais complicada que o país asiático antes de a pandemia começar.

Com um rombo fiscal crescente, resta ao Brasil elevar sua dívida para fechar as contas. "Quanto maior a queda do PIB, quanto maior o déficit primário, maior será a alta da dívida bruta", diz Maílson. "O Brasil vai ter uma piora considerável, assim como todos os emergentes. Mas nós já tínhamos uma crise fiscal, vinda do governo de Dilma Rousseff, que não foi absorvida ainda."

Metodologia

A metodologia do FMI para projeção de dados fiscais traz algumas diferenças em relação aos cálculos feitos pelo Banco Central e pelo próprio governo brasileiro. Isso permite a comparação com outros países. Ainda assim, a tendência mais geral dos números indica piora da situação fiscal do Brasil após a pandemia. No Relatório de Mercado Focus, que compila as estimativas do mercado financeiro brasileiro, a projeção de déficit primário para 2020 já está em 8% do PIB. No início de abril, o rombo projetado era de 1,5%.

"Nós mesmos estamos revisando nossas projeções, para algo próximo de 95% no caso da dívida bruta", afirma o economista Mauro Schneider, da MCM Consultores Associados. "O número é preocupante, porque é uma dívida muito elevada para o País carregar."

Schneider afirma que há incertezas sobre a reação do PIB nos próximos meses e sobre o desempenho fiscal do País. "Você não consegue enxergar como as contas fiscais vão se comportar e quando o governo poderá, de fato, fechar a torneira dos gastos. Tanto é que se discute hoje eventual extensão de algumas medidas", afirma o economista, em referência às ações, tomadas pelo governo, para minimizar os efeitos econômicos da pandemia.

O governo deve estender o pagamento do auxílio emergencial a trabalhadores informais por mais dois meses, com um valor de R$ 300 mensais. A despesa mensal do auxílio está em R$ 51,5 bilhões, e todos os gastos do governo para combater a pandemia e seus efeitos estão sendo bancados com o aumento do endividamento do País. O programa já concedeu o auxílio a 58,6 milhões de brasileiros.

Estadão
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