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Coronavírus

Em São Paulo, ao menos seis pessoas morrem em casa por dia

Com pandemia, foram 409 casos na capital paulista de 16/3 a 21/5; média normal na cidade entre 2014 e 2018 não chegava a 3

15 jun 2020 - 05h12
(atualizado às 07h48)
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Ao menos 409 pessoas morreram dentro de casa com suspeita ou confirmação de covid-19 na cidade de São Paulo desde o início da pandemia, revelam dados da Secretaria Municipal da Saúde. Os números, referentes ao período de 16 de março (quando o primeiro óbito pela doença na capital foi registrado) a 21 de maio, representam 6,1 mortes em domicílio por dia, mais do que o dobro da média de mortes diárias em domicílio por problemas respiratórios observada em cinco anos anteriores, segundo levantamento do Estadão.

Familiares durante enterro de vítima da Covid-19 em cemitério de São Paulo
04/06/2020
REUTERS/Amanda Perobelli
Familiares durante enterro de vítima da Covid-19 em cemitério de São Paulo 04/06/2020 REUTERS/Amanda Perobelli
Foto: Reuters

De acordo com dados do portal Datasus, do Ministério da Saúde, o número médio de pessoas mortas em domicílio por doenças respiratórias na cidade de São Paulo foi de 2,8 entre os anos de 2014 a 2018, último período com dados disponíveis, menos da metade do observado agora entre vítimas da covid-19.

A maioria das vítimas com suspeita ou confirmação de infecção pelo novo coronavírus que morreram em casa, sem ter acesso à assistência médica, era idosa. De acordo com os dados da secretaria, 336 (82,1%) tinham 60 anos ou mais, das quais 240 eram maiores de 75 anos, a faixa etária mais afetada.

Apesar da predominância de mortes em domicílio entre os mais velhos, foram registrados ainda 41 óbitos em domicílio cujas vítimas tinham idades entre 50 e 59 anos, 20 mortes entre pessoas de 40 a 49 anos, e 11 entre menores de 40 anos - incluindo duas crianças. Uma morte não teve a idade declarada.

Quanto à região da cidade, os distritos com o maior número de mortes em casa foram Cidade Ademar, na zona sul, e Pirituba, zona norte, ambos com 11 ocorrências cada. Aparecem em seguida, com dez óbitos cada, os distritos de Capão Redondo, Cidade Dutra, Grajaú (todos na zona sul), Cangaíba (zona leste) e Vila Medeiros (zona norte). "As mortes em casa que a gente atende são todas na periferia. Você quase não vê isso acontecer em bairros de classe média-alta porque é uma população que tem mais acesso a um médico e está mais atenta aos primeiros sinais da doença. Já as classes mais pobres são as que estão mais expostas e que encontram o serviço de saúde mais saturado", contou ao Estadão um médico do Samu que diz estar atendendo mais casos do tipo nos últimos dois meses.

O profissional, que não quis ter o nome divulgado, relatou que as equipes do serviço de emergência já estavam habituadas, antes da pandemia, a atender algumas mortes em domicílio, principalmente no início da manhã. "Antes, geralmente eram idosos que tinham morte súbita enquanto dormiam e, quando o familiar ia acordá-lo, percebia que havia algo errado. Agora, continuam sendo principalmente idosos, mas atendemos mortes em domicílio o dia todo", diz.

O médico socorrista conta que são duas as situações mais comuns que explicam as frequentes mortes por covid-19 nas residências: ou o paciente buscou uma unidade de saúde e, por não apresentar inicialmente tanta gravidade, acabou liberado a voltar para casa, ou ele nem chegou a ter tempo de buscar assistência porque teve uma piora repentina.

"A família geralmente relata que a pessoa já estava apresentando tosse, febre baixa e prostração (fraqueza), mas como eram sintomas leves, ainda não tinha ido ao médico. Só que é muito comum a pessoa estar com manifestações leves e ter uma súbita descompensação. De repente, ela afunda de vez", alerta o especialista.

Ele diz que isso é comum entre os idosos, que já têm uma prevalência maior de doenças crônicas que agravam um eventual quadro de infecção pelo coronavírus. "Se o idoso já tem uma patologia e pega covid-19, o vírus descompensa as doenças de base e evolui muito mais rápido e de forma menos favorável", diz o médico ao Estadão. "A chance dessa pessoa ter uma morte súbita em domicílio é maior. Se ela retardar um pouquinho a ida ao pronto-socorro, pode piorar repentinamente. Mas também não foram poucas as situações em que a família conta que o paciente tinha procurado o serviço médico. A verdade é que os hospitais acabam internando só os casos graves."

Dados do Portal da Transparência do Registro Civil, que reúne números de cartórios, mostram que o fenômeno não é exclusivo da cidade de São Paulo. No mesmo período analisado (16 de março a 21 de maio), o País teve aumento de 15,8% no número de mortes em domicílio em relação ao registrado em 2019, considerando todas as causas, não só as respiratórias. O número de ocorrências do tipo passou de 36.263 em 2019 para 41.995 neste ano.

Estadão
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