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Coronavírus

Em SP, mais da metade dos bares e restaurantes só fatura 10%

Dos 70 mil estabelecimentos da capital paulista, 54% tiveram queda de faturamento superior a 90% em comparação ao cenário anterior à crise

7 ago 2020 - 13h06
(atualizado às 13h18)
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Desde que reabriu seus dois bares na capital Paulista - o Pasquim, na Vila Madalena, e o Vero, em Pinheiros -, o empresário Humberto Munhoz, de 38 anos, passa os dias contando e recontando os prejuízos. As casas, que ficaram fechadas por quatro meses, reabriram no dia 6 de julho. De lá para cá, não faturaram o suficiente nem para pagar os custos. "Um dos meus bares, o Pasquim, está faturando 15% do que faturava antes da pandemia", diz ele. "O dinheiro dá para pagar o aluguel e, talvez, a conta de água e a luz, no máximo", afirma.

Mesas vazias em bar no bairro da Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo
Mesas vazias em bar no bairro da Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo
Foto: Daniel Teixeira / Estadão

Para manter os 60 funcionários e pagar o boleto dos fornecedores, ele conta que está tirando recursos do próprio bolso. De março para cá, já foram cerca de R$ 2,5 milhões sacados de suas aplicações. "Queimei todo o meu patrimônio. Agora ou pego dinheiro emprestado ou fecho as portas."

A situação financeira de Munhoz e de suas empresas é, de certa forma, comum no mercado de bares e restaurantes, um dos primeiros a fechar após a escalada do novo coronavírus. Ao lado do comércio como um todo, ele vem patinando em uma retomada lenta e custosa.

Segundo levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), obtida com exclusividade pelo Estadão, dos 70 mil bares e restaurantes registrados na cidade de São Paulo, 62% já retomaram as atividades. No entanto, mais da metade, 54% deles, tiveram queda na receita superior a 90% do que registravam antes do início da pandemia. A pesquisa foi realizada entre os dias 27 e 31 de julho, com 124 empresários.

"É uma situação dramática para o setor", afirma Paulo Solmucci, que preside a instituição. "A retomada em São Paulo, com a restrição de horários, está fazendo o dono de bar faturar três vezes menos que os empresários, por exemplo, do Rio de Janeiro, que voltaram a trabalhar em período integral", conta Solmucci.

Crédito

Para além da restrição do horário e do protocolo de segurança sanitária, que reduz o fluxo de clientes dentro dos restaurantes, outra queixa comum entre os empresários do setor é a dificuldade em obter acesso às linhas de financiamento subsidiadas pelo governo.

Segundo a Abrasel, apenas 35% dos donos de bares e restaurantes conseguiram acessar os programas de crédito. "O Pronampe até que chegou para o empresário, mas o dinheiro acabou rápido e muita gente entrou em agosto sem o benefício da MP 936, que permitiu a flexibilização de salários, e sem nenhum dinheiro. O resultado será de demissões e negócios fechados", diz o presidente da Abrasel.

O empresário Humberto Munhoz não conseguiu acessar o Programa de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). "Nem eu, nem nenhum dono de restaurante que eu conheço", diz. Para não ficar sem dinheiro para pagar a folha de pagamento de agosto e de setembro, ele pegou uma linha com taxa de 1,5% ao mês em um banco privado. "É uma vergonha ter a taxa básica de juros da economia a 2% ao ano e eu estar pagando quase a mesma coisa, só que ao mês."

Dono do bar e da casa de shows Bourbon Street, no bairro de Moema, Edgar Radeska, de 73 anos, também não conseguiu sacar os recursos do Pronampe. "Eu tive o crédito aprovado, só que no dia de pegar o dinheiro parecia uma gincana. Todos os empresários ficaram com o aplicativo aberto, apertando em sacar o dinheiro, até que de repente acabou tudo e muitos poucos pegaram a verba."

Com os recursos para empréstimos praticamente esgotados, o Pronampeé, até o momento, reconhecido pelo mercado como o único programa de crédito do governo bem-sucedido na crise. Dos R$ 18,7 bilhões ofertados, R$ 18,6 bilhões - ou 99,5% do total - chegaram ao final de julho efetivamente emprestados a empresas em dificuldades.

Nas demais linhas lançadas durante a pandemia do novo coronavírus, os porcentuais não superam os 30% e os montantes envolvidos são bem menores. Segundo a Abrasel, cerca de 160 mil trabalhadores formais e informais foram demitidos pelo setor desde o início da crise.

Estadão
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