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Coronavírus

Em três dias de caos político, BC já queimou US$ 7 bilhões para segurar o câmbio

A pressão no câmbio reflete as dúvidas dos investidores sobre o futuro político do governo do presidente Jair Bolsonaro, após o pedido de demissão do ministro da Justiça, Sérgio Moro

24 abr 2020 - 14h55
(atualizado às 18h34)
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O caos político que se instalou no Brasil fez o Banco Central (BC) "queimar" US$ 7 bilhões nos últimos três dias para tentar segurar as cotações do dólar no Brasil. Mas a bateria de leilões de moeda do BC, intensificados desde a última quarta-feira, foram incapazes de acalmar o mercado até agora.

Há pouco, o dólar à vista subia 2,26% ante o real, aos R$ 5,6539. Em algumas corretoras de câmbio de Brasília, o dólar turismo já é vendido a R$ 6,21 e, em São Paulo, a R$ 6,15.

A pressão no câmbio reflete as dúvidas dos investidores sobre o futuro político do governo do presidente Jair Bolsonaro, após o pedido de demissão do ministro da Justiça, Sérgio Moro, oficializado nesta sexta. Também pesaram nos últimos dias declarações do presidente do BC, Roberto Campos Neto, em entrevista ao Estadão Live Talks da última segunda-feira, 20. Na ocasião, ele sinalizou novo corte da Selic (a taxa básica de juros), atualmente em 3,75% ao ano. Além disso, surgiu a visão de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, perdeu prestígio e pode ser o próximo a deixar o governo.

Em meio à perspectiva de que a taxa básica de juros (Selic) possa cair para 3% ao ano no início de maio, quando ocorre reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, a alta do dólar ante o real se intensificou na quarta-feira. Por trás do movimento está a avaliação dos investidores de que, com juros mais baixos, o Brasil se tornará ainda menos atrativo ao capital internacional.

Ainda na quarta-feira, o ministro-chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto, anunciou em evento no Planalto um plano de investimentos de R$ 300 bilhões para a recuperação econômica do Brasil pós-pandemia. O detalhe é que nenhum integrante do ministério da Economia participou do anúncio. A equipe de Guedes, na verdade, vê com preocupação a possibilidade de o governo lançar um plano de investimentos, já que não há recursos para isso.

Para reduzir a pressão no câmbio na quarta-feira, o BC vendeu um total de US$ 880 milhões em swaps cambiais. Foram duas operações. O swap é um tipo de contrato que, ao ser negociado, tem o efeito equivalente à venda de dólares no mercado futuro. Ainda assim, o dólar à vista subiu 1,90%, aos R$ 5,4087.

A percepção de que o ministro Paulo Guedes perdeu prestígio deu novo impulso ao dólar ante o real na quinta-feira. A visão de boa parte dos economistas e operadores do mercado financeiro é a de que o governo Bolsonaro pode dar uma guinada na área econômica, abandonando a orientação liberal da equipe de Guedes em favor de uma postura mais desenvolvimentista, ancorada no investimento estatal. A situação piorou em meio às notícias de que o ministro da Justiça, Sergio Moro, poderia pedir demissão.

Novamente, para reduzir a volatilidade no câmbio, o BC vendeu ao mercado um total de US$ 1,900 bilhão em contratos de swap, em quatro operações espalhadas ao longo do dia. Não adiantou: o dólar à vista encerrou a sessão em alta de 2,22%, aos R$ 5,4087.

Sexta-feira

Nesta sexta, a pressão no câmbio continuou aumentando. Após o Diário Oficial da União trazer, ainda durante a madrugada, a exoneração de Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal (PF), ficou claro para o mercado financeiro que Moro iria deixar o governo. O ministro não aceitou que Bolsonaro impusesse a saída de Valeixo, seu homem de confiança na PF.

Para apagar o incêndio, o BC começou a atuar no câmbio logo no início da sessão. Os leilões de moeda foram intensificados após as 11h, quando Moro oficializava em entrevista sua saída. Assim, até o início da tarde, o BC já havia realizado três leilões de swap no valor de R$ 1,400 bilhão, dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra no futuro) no total de US$ 700 milhões e quatro operações de venda à vista de dólares das reservas internacionais, de US$ 2,175 bilhões. Apenas hoje, o BC já realizou vendas de US$ 4,275 bilhões.

Considerando os últimos três dias, as atuações somam US$ 7,005 bilhões. Ainda assim, o dólar vem batendo recordes ante o real. No pico desta sexta-feira, a moeda americana à vista chegou a ser cotada a R$ 5,7484 - o maior valor nominal da história.

Impactos

As operações realizadas pelo BC trazem impactos para a posição cambial brasileira, em um momento em que o País já enfrenta um movimento natural de fuga de dólares para outros países, na esteira da pandemia do novo coronavírus.

No fim de fevereiro, quando os efeitos da pandemia sobre a economia ainda eram insipientes, a posição cambial líquida do BC somava US$ 329,061 bilhões. O valor traduz o que está disponível para que o BC faça frente a alguma necessidade de moeda estrangeira - como fornecer liquidez ao mercado em momentos de crise como o atual, por exemplo. A posição leva em conta as reservas internacionais, o estoque de operações de linha do BC, a posição da instituição em swap cambial e os Direitos Especiais de Saque (DES) do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI).

No dia 17 de abril (sexta-feira passada), a posição cambial do BC já estava em US$ 310,8 bilhões. Na prática, desde o fim de fevereiro houve uma queda de 5,54% nesta posição, o equivalente a US$ 18,2 bilhões. Este é o efeito - apenas parcial - das crises sobre o "seguro" que o Brasil tem na área de câmbio. Na cifra ainda não entraram as operações desta semana, principalmente com swaps e venda à vista de moeda, que reduziram ainda mais a posição cambial do BC.

Em paralelo, o País pode enfrentar uma escassez ainda maior de recursos em moeda estrangeira nos próximos meses. Na manhã desta sexta, em uma divulgação regular de dados estatísticos, o BC informou que o Investimento Direto no País (IDP) em abril, até o dia 22, está em US$ 1,053 bilhão. O IDP representa o investimento feito por estrangeiros no setor produtivo brasileiro.

O valor parcial de abril destoa do registrado em meses anteriores, quando o País apresentava fluxos consistentes de IDP. Em março, por exemplo, apesar do avanço da pandemia, o IDP ainda somou US$ 7,621 bilhões.

Na prática, os dados mais recentes do IDP sugerem que os estrangeiros estão segurando os investimentos produtivos no Brasil, pelo menos neste primeiro momento.

Estadão
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