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Coronavírus

Especialistas: Flexibilizar isolamento agora é precipitado

Medida de aliviar o distanciamento social pode acabar levando ao colapso do sistema de saúde

24 abr 2020 - 05h10
(atualizado às 07h47)
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Especialistas ouvidos pelo Estado afirmaram que a flexibilização das regras de isolamento no Brasil agora é precipitada e pode acabar levando ao colapso do sistema de saúde e a medidas ainda mais restritivas de confinamento por causa do coronavírus. Pelo menos nove Estados e o Distrito Federal já tomaram medidas para aliviar o distanciamento social, e outros dois anunciaram planos de levantar parcialmente a quarentena.

Aumenta o número de pessoas fazendo exercícios na região do Parque do Ibirapuera, zona sul da cidade de São Paulo
Aumenta o número de pessoas fazendo exercícios na região do Parque do Ibirapuera, zona sul da cidade de São Paulo
Foto: Aloisio Mauricio/FotoArena / Estadão

Goiás, Paraná, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Maranhão, Tocantins, Espírito Santo, Paraíba e Sergipe, além do Distrito Federal, já adotaram alguma ação de flexibilização das medidas. São Paulo e Mato Grosso traçam planos para começar a aliviar as regras a partir de maio. O presidente Jair Bolsonaro tem defendido, insistentemente, um retorno à normalidade. Alega a necessidade de reativar a economia.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), para a flexibilização das medidas de isolamento alguns critérios são fundamentais. Entre eles estão o controle da transmissão e a capacidade dos serviços de saúde de absorver novos pacientes.

"Algumas premissas são muito importantes, como estar na etapa de estabilização ou, de preferência, de queda no número de novos casos da doença", explicou o infectologista Fernando Bozza, chefe do Laboratório de Medicina Intensiva do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, e coordenador de pesquisa do Instituto D´Or. "O segundo ponto crucial é que o sistema de saúde não esteja sob grande estresse; até porque, se algo der errado, a situação será dramática. A terceira premissa é termos capacidade de testagem, diagnóstico e vigilância. Precisamos ter essas três condições para começarmos a conversar sobre flexibilização ou é precipitado."

O País, hoje, não atende a nenhuma dessas premissas. O número de novos casos está em ascensão, os hospitais públicos dos grandes centros estão perto da sua capacidade máxima ou lotados, e o número de testes e diagnósticos ainda está muito aquém do ideal.

"Neste momento nos parece muito temerário avançar com uma flexibilização", afirmou a especialista em gestão de saúde Crystina Barros, integrante do grupo técnico de enfrentamento à Covid-19 da UFRJ. "Provavelmente vamos acabar levando a uma sobrecarga do sistema de saúde em dez ou catorze dias e até mesmo a um lockdown (quando as medidas de quarentena são ainda mais rígidas do que as atuais)."

Barros lembra que as estruturas adicionais de saúde, como os hospitais de campanha, nem sequer estão em funcionamento para fazer frente a um aumento de casos que, segundo ela, certamente virá.

"A propagação da doença segue acelerada, os hospitais estão com uma ocupação acima de 70%, e o tempo médio de permanência dos pacientes nos hospitais é muito longo. Então, com esse conjunto de informações, podemos afirmar que não é possível flexibilizar as medidas de isolamento, ou pagaremos por isso", afirmou. "Aí teremos óbitos não pela Covid-19, mas pela falta de assistência médica decorrente da falta de estrutura, que é a pior situação possível."

Embora já tenhamos cumprido cinco semanas de isolamento, frisam os especialistas, adotamos as medidas de confinamento em um momento mais inicial da epidemia, em comparação a outros países. Estamos pelo menos dez dias antes de Espanha, Itália e Estados Unidos, na linha do tempo da doença. Nesses países, os números de novos casos já começam a se estabilizar.

Outro problema apontado no Brasil é a tendência de interiorização da epidemia. Para o epidemiologista Diego Xavier, do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fiocruz, a decisão de suspender o isolamento social mesmo em cidades que não têm nenhum caso da doença registrado é extremamente temerário.

"À medida que a doença avança para o interior e atinge cidades menores, a demanda por serviços mais especializados de saúde, como UTI e respiradores, também cresce", constata. "Só que esses municípios menores, em sua maioria, não detêm esses recursos de saúde, então terão que enviar seus pacientes a centros maiores, que já apresentam leitos, equipamentos e pessoal de saúde em situação difícil", alerta Xavier.

A geriatra e psiquiatra Roberta França, da Associação Brasileira de Alzheimer, prevê o caos generalizado. "É difícil explicar o que aconteceu com o brasileiro nessa questão da Covid-19", disse. "Somos o único país do mundo que não aceita as medidas recomendadas pela OMS. Contestamos o tempo todo a importância e a necessidade de isolamento. Colocamos a economia como base da conversa, politizamos uma questão de saúde pública. Afrouxar as regras só vai gerar o caos."

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