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Coronavírus

Estados veem vacinação mais lenta de adolescentes

Cobertura com a primeira dose para faixa etária de 12 a 17 anos fica abaixo de 50% em algumas regiões

5 nov 2021 - 03h04
(atualizado às 07h19)
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Estados brasileiros relatam queda no ritmo da vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos contra a covid-19, após fake news relacionadas ao risco do imunizante para essa faixa etária e vai-vém de diretrizes por parte do governo federal. Para alcançar os adolescentes, governos locais aplicam a vacina em escolas e avaliam até a cobrança de passaporte sanitário dos estudantes nos colégios.

Adolescente recebe aplicação de dose da vacina Pfizer-BioNTech contra Covid-19 em Betim
16/06/2021 REUTERS/Washington Alves
Adolescente recebe aplicação de dose da vacina Pfizer-BioNTech contra Covid-19 em Betim 16/06/2021 REUTERS/Washington Alves
Foto: Reuters

A vacinação de adolescentes começou em momentos diferentes nos Estados brasileiros, mas, oficialmente, o governo federal passou a enviar doses para este público a partir do dia 15 de setembro. No dia seguinte, porém, tirou adolescentes de 12 a 17 anos sem comorbidades da lista de grupos cuja vacinação contra a covid-19 é recomendada.

O Ministério argumentava que a vacinação de adolescentes não era indicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) - o que não é verdade. A vacinação contra a covid-19 em adolescentes é considerada por especialistas em todo o mundo como a estratégia mais eficaz para reduzir o risco de adoecimento dessa população, conter a disseminação do vírus e superar a pandemia. A vacina é segura para esta faixa etária.

O recuo do Ministério da Saúde, com a recomendação para continuar aplicando a vacina em adolescentes, veio seis dias depois. Boa parte dos Estados manteve a vacinação de 12 a 17 anos naquela semana, apesar da recomendação contrária do governo federal. Mesmo assim, perceberam queda no ritmo de procura pelo imunizante, que até hoje não voltou aos parâmetros anteriores. Considerando todo o País, o Ministério da Saúde estima que a cobertura com a primeira dose nos adolescentes está em 68,6% - foram aplicadas 12,6 milhões de doses.

No Rio Grande do Norte, que já havia começado a vacinar adolescentes antes do dia 15 de setembro, a aplicação chegava a 10 mil doses por dia, segundo Kelly Lima, coordenadora de Vigilância em Saúde do Estado. Depois da confusão de diretrizes do governo federal, o Estado não chega a aplicar nem metade das doses diárias que fazia anteriormente. A cobertura da primeira dose da vacina em adolescentes no Rio Grande do Norte está em 56%.

Segundo Kelly, o Estado recebe dúvidas de pais em canais de atendimento. "Boa parte dos questionamentos são de pais ou responsáveis perguntando quais artigos científicos, quais publicações relatam a eficácia (da vacina contra a covid-19)." O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, chegou a ir a Natal na mesma semana em que suspendeu a recomendação - na ocasião, desencorajou a vacina para esta faixa etária.

O presidente Jair Bolsonaro também tem, em diversas ocasiões, se posicionado contrário à vacinação de crianças e adolescentes. Em Roma, onde ocorreu na semana passada o encontro do G-20, grupo de países com as 20 maiores economias do mundo, Bolsonaro usou o tempo em que esteve com o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, para criticar a autonomia dos Estados e a vacinação dos mais jovens.

O Espírito Santo calcula que, com as estratégias do Estado para atingir esse público, a cobertura com a primeira dose já poderia ter chegado a 90% (como ocorre com os adultos), mas está em 73% para a faixa etária dos adolescentes. "O que acabou desencadeando um impacto maior no público adolescente foi (o governo federal) ter recuado com relação à indicação da vacinação logo no início. Isso fez com que as famílias ficassem em dúvida se era importante vacinar os filhos", diz a coordenadora do Programa Estadual de Imunizações do Espírito Santo, Danielle Grillo.

Até mesmo Estados que lideram o ranking de vacinação no Brasil, veem dificuldades. Mato Grosso do Sul, primeiro Estado a começar a vacinar adolescentes, em agosto, ainda não chegou a 80% de cobertura com a primeira dose para adolescentes. "Quando houve a suspensão (pelo Ministério da Saúde), houve um atraso e certa desconfiança no adolescente", diz o secretário de Saúde, Geraldo Resende. Ele espera alcançar pelo menos 90% desse público. A dificuldade também é vista na terceira dose aos idosos. "É um Estado conservador, onde a fala de lideranças nacionais tem grande repercussão e joga contra a vacinação."

Em São Paulo, a cobertura chegou a 93% nesta quarta-feira, 3, mas a coordenadora geral do Programa Estadual de Imunização, Regiane de Paula, relata que notícias falsas criaram insegurança e dificultaram o avanço mais rápido. No Estado, a vacinação de adolescentes começou no dia 18 de agosto. "Tivemos momentos de fake news, como estamos vivendo agora, inclusive com ameaças aos diretores da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)", diz Regiane. Na semana passada, a agência reguladora responsável pela liberação dos imunizantes no Brasil informou que recebeu e-mail com ameaça de morte na hipótese de eventual aprovação de vacinas para crianças.

Contra a desinformação, o Estado aposta em ações de sensibilização nas escolas e campanhas. A recente aprovação para uso da vacina em crianças pela FDA, a agência reguladora americana, também dá força ao movimento pró-imunização dessa faixa etária, de acordo com a coordenadora paulista. O desafio em São Paulo, agora, será garantir a imunização completa dessa população - nem todos os adolescentes se atentaram para a antecipação da segunda dose.

Se São Paulo já alcançou a meta de vacinação com a primeira dose, outros Estados não chegaram nem a 50% de cobertura. É o caso, por exemplo, da Bahia, que registrava, nesta quarta-feira, 3, índice de apenas 42% para os adolescentes. Em Salvador e outros municípios, a vacinação de adolescentes foi suspensa depois da recomendação do Ministério da Saúde, em setembro.

Mãe de um menino de 12 anos, a trabalhadora rural Simaria Pereira, moradora de Santo Amaro da Purificação (BA), diz ter ficado com "um pé atrás" após ler notícias que desencorajavam a vacina. "Vi no Google uma notícia de uma menina que tomou a vacina e um dia depois começou a passar mal. Fiquei com medo." Eventos adversos graves da vacina são raríssimos e os benefícios superam os riscos. Mesmo com receio, ela procurou o posto para vacinar o filho, mas recebeu a notícia da suspensão da imunização para adolescentes na cidade. O menino só recebeu a primeira dose dias depois - a segunda ficou para dezembro.

Na Paraíba, com cobertura de 43,2% para a primeira dose em adolescentes, a Secretaria de Saúde argumenta que vacinar adolescentes é um desafio porque "essa faixa etária é a mais atingida por fake news e a mais influenciada pelas redes sociais". No Estado, apesar de haver doses disponíveis, a vacinação ficou travada em setembro por causa das recomendações contrárias do Ministério.

E o Paraná, que até agora alcançou só 46% dos adolescentes, diz ter seguido a diretriz de somente iniciar a vacinação nessa faixa ao término dos maiores de 18 anos, seguindo o Plano Nacional de Imunização (PNI). A vacinação começou oficialmente no dia 21 de setembro para adolescentes de 12 a 17 anos com comorbidades e no dia 28 para os sem comorbidades. Em Alagoas, a percepção é de que há menor adesão dos adolescentes em comparação com os adultos. "Mobilizar a população adolescente é uma tarefa complexa, uma vez que é necessário conscientizar todo o núcleo familiar sobre a importância da vacina."

Por meio de nota, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) afirma que "conscientizar adolescentes é desafiador em qualquer campanha de vacinação" e que tem enfrentado "não só grupos que criam e disseminam fake news, como também situações no mínimo contraditórias da atuação da gestão federal, como no lamentável episódio em que houve a interrupção da vacinação dos adolescentes". Para garantir eficiência nessa nova etapa da vacinação, o conselho argumenta que é "imprescindível uma ampla campanha de divulgação, coordenada pelo Ministério da Saúde".

Vacina protege adolescente e ajuda a controlar a pandemia

A infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Raquel Stucchi ressalta que é necessário vacinar adolescentes para protegê-los da covid-19. "Eles também têm o risco de adoecer gravemente, não só na fase aguda da doença, mas também de desenvolver a síndrome inflamatória aguda grave, que é um quadro muito delicado, que acomete mais frequentemente crianças e adolescentes." Os riscos da covid-19 para os mais jovens são muito maiores do que o risco de algum efeito colateral da vacina.

Ela também destaca os efeitos da covid longa nos mais jovens: até mesmo crianças e adolescentes com sintomas leves da covid podem manifestar, mais tarde, quadros de alteração de comportamento, ansiedade, distúrbios de atenção e déficit de aprendizagem. Além disso, segundo a especialista, há a importância coletiva. "Se não protegidos, os jovens podem ser responsáveis pela manutenção da transmissão", diz Raquel, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia.

O Ministério da Saúde informou, sem detalhar, que "atua por meio de campanhas para conscientizar a população sobre a importância da vacinação contra a covid-19". /COLABOROU MARIANA HALLAL

Estadão
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