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Coronavírus

Estilo de vida saudável é a melhor maneira para evitar inflamações, apontam especialistas

Alimentação balanceada, atividade física e boa noite de sono contribuem para minimizar patologias

11 mar 2022 - 10h10
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Na gênese da maioria das doenças, existe um processo inflamatório, como o Estadão mostrou em reportagens publicadas no sábado e no domingo. Isso explica o interesse renovado da ciência em descobrir todos os mecanismos causadores de inflamação nas diferentes patologias, algo que pode levar ao desenvolvimento de medicamentos mais eficazes. Por enquanto, a prevenção ainda é o melhor investimento ao alcance dos indivíduos.

"O estilo de vida saudável reforça os mecanismos de regulação da inflamação no corpo para fazer com que a gente inflame só na hora certa. Ou seja: apenas quando o organismo precisa dela para se defender de infecções, reparar tecidos, entre outras funções", diz Ana Caetano Faria, presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Além da alimentação balanceada, outros hábitos saudáveis como a prática frequente de atividade física, as noites de sono reparador, o controle do estresse e o abandono do cigarro são as medidas mais citadas pelos especialistas como intervenções para reduzir o desenvolvimento da inflamação crônica e suas consequências (veja lista abaixo).

Quando exagerada, ela pode levar ao desenvolvimento de múltiplas doenças como depressão, Alzheimer, problemas cardiovasculares, câncer, entre outras. Vários estudos demonstram que o envelhecimento é acompanhado de uma inflamação subclínica de baixo grau. "É uma pequena inflamação crônica que não dói e sequer é percebida, mas que acompanha o processo de envelhecimento", afirma.

Até os centenários que envelhecem muito bem têm essa inflamação subclínica, mas eles também contam com outros mediadores que compensam o estado inflamatório e mantêm o equilíbrio fisiológico do organismo (a chamada homeostase). "Há genes que são protetores, mas os hábitos saudáveis são fundamentais para estimular a ação de vários mediadores anti-inflamatórios no corpo", explica a professora. Esses mediadores são, por exemplo, metabólitos como os ácidos graxos butirato e propionato.

O grupo de pesquisa coordenado pela professora na UFMG estuda intervenções de estilo de vida saudável para prevenir danos decorrentes da inflamação crônica. "Em termos de saúde pública, faz muito mais sentido descobrir maneiras de promover essa homeostase no corpo por meio do estilo de vida saudável do que tratar as doenças inflamatórias relacionadas ao envelhecimento", diz ela.

Doenças cardiovasculares

Quanto mais inflamado é um paciente, maior é o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, entre muitas outras. A aterosclerose (acúmulo de gordura, cálcio e outras substâncias nas artérias) é causada por vários fatores, mas o processo inflamatório está presente desde o início.

A inflamação produz o rompimento das placas de aterosclerose e contribui para a formação de coágulos que podem ocasionar um infarto, um acidente vascular cerebral e outros problemas. "Fomos selecionados pela natureza para engordar e para ter grandes respostas inflamatórias porque, há um milhão de anos, faltava comida e não existia antibiótico", diz o cardiologista Raul Santos, diretor da Unidade Clínica de Lípides do Instituto do Coração (InCor).

"A soma dessa predisposição com um ambiente de sedentarismo, excesso de alimentos e tabagismo acaba levando a respostas inflamatórias exageradas e ao desenvolvimento de várias doenças", diz Santos. "O pacote completo do estilo de vida saudável é fundamental para prevenir a inflamação crônica e suas consequências."

Tratamento

Quando os problemas decorrentes da inflamação crônica precisam ser tratados, os médicos recorrem a medicamentos e intervenções cirúrgicas, dependendo do tipo de doença. No caso do coração, as estatinas usadas para controle do colesterol também têm uma função anti-inflamatória. Para as doenças inflamatórias intestinais, existem corticoides, drogas imunobiológicas e cirurgias.

O transplante de fezes de pacientes saudáveis para enriquecer a microbiota intestinal dos doentes é um dos campos em investigação, mas ainda não adotado corriqueiramente na prática clínica. Estudos indicam, por exemplo, que processos inflamatórios no intestino podem afetar o cérebro e contribuir para o desenvolvimento de doenças como a depressão e o Alzheimer, mas falta desvendar detalhes dessa relação.

"Decifrar mecanismos cruciais para a sinalização da inflamação pelo eixo intestino-cérebro é fundamental para a compreensão da comunicação neuro-imune", afirmou a pesquisadora Gulistan Agirman, da Universidade da Califórnia, em artigo publicado recentemente na revista Science. Segundo ela, isso deve facilitar o desenvolvimento de novas terapias para distúrbios do trato intestinal e também para doenças neurológicas.

COMO LIDAR COM O EXCESSO DE INFLAMAÇÃO

  • Melhoria do estilo de vida

O estilo de vida saudável (alimentação balanceada, atividade física praticada com regularidade, peso adequado, sono de qualidade etc.) é fundamental para prevenir o desenvolvimento da inflamação e da maioria das doenças.

  • Controle do estresse

O estresse leva ao estado de inflamação crônica que contribui para o desenvolvimento de várias doenças, entre elas a depressão e Alzheimer. A atividade física e outras práticas como a meditação ajudam a prevenir excesso de inflamação.

  • Abandono do cigarro

O tabagismo é um dos mais importantes causadores da inflamação que contribui para o aumento da obstrução das artérias. A consequência é a elevação do risco de enfarte, acidente vascular cerebral (AVC) e muitos outros males.

  • Medicamentos

A inflamação leva ao rompimento de placas de aterosclerose, ao infarto e ao AVC. As estatinas têm ação anti-inflamatória, além de combater o colesterol. Corticóides e imunobiológicos são usados para tratar doenças inflamatórias intestinais, entre outras.

  • Transplante fecal

Pesquisadores buscam melhorar a microbiota intestinal de pacientes com doenças inflamatórias por meio do transplante de fezes. A técnica também desponta como uma tentativa de reduzir doenças no cérebro. Ainda não disponível na prática clínica.

Estadão
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