'Eu tive de reanimar o paciente no chão porque não havia leito'
Foto da técnica de enfermagem Polyena Santos Silveira ao lado de vítima do colapso do sistema de saúde viralizou nas redes sociais
A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Promorar, na zona sul de Teresina (PI), estava lotada na tarde de quarta-feira, 17. Lotada mesmo. Seis pacientes gravíssimos e quatro pacientes graves. A unidade recebe pacientes de covid-19, mas não é exclusiva para a doença. Não havia leito, nem maca, monitor ou ventilador disponíveis. Por isso, a técnica em enfermagem Polyena Santos Silveira foi uma das profissionais que tentaram salvar a vida de um paciente com parada cardiorrespiratória no chão da unidade. Foram mais de seis ciclos de reanimação, mas a equipe não conseguiu trazer o paciente de volta. Ele morreu ali, no piso branco.
"Nós não tínhamos onde colocar o paciente. O lugar que tivemos foi o chão. O que podíamos fazer foi feito. Estamos com essa falta de equipamento porque a demanda de equipamentos está muito alta", diz a profissional de saúde de 33 anos e que também trabalha no Hospital de Urgência de Teresina. "A equipe médica não tem como resolver a falta de equipamentos, isso está acima da gente. Não dá pra ir na loja da esquina comprar um ventilador. Essas são coisas que precisam ser resolvidas nas esferas municipal, estadual e federal", critica.
O paciente entrou na sala carregado nos braços de um familiar. Ele estava em parada respiratória. Toda a equipe foi ao chão para tentar reanimá-lo. Na Sala Vermelha, a sala de estabilização da UPA, são três profissionais de saúde: um médico e duas técnicas de enfermagem. Foram 25 minutos de tentativa de reanimá-lo, mas não deu. O atendimento deixou a equipe exausta - a própria posição do corpo durante o socorro era ruim, desconfortável. Polyena estava com os braços tremendo, mas se manteve firme até o final.
Depois do atendimento, a técnica ficou uns cinco minutos chorando ao lado do corpo inerte, num clique que viralizou nas redes sociais. "Não é que tenha sido o mais difícil. Na profissão da gente, existem pacientes e situações que nos marcam muito. A gente leva a situação para o resto da vida".
A situação se multiplica em todo o País. À medida que aumenta o número de pacientes, diminui o número de equipamentos que a UPA tem à disposição. "Estamos sofrendo junto com a família daqueles pacientes que ficam lá fora esperando uma alta, uma transferência ou até mesmo um óbito pra poder ocupar o lugar", afirmou a profissional de saúde que encontra na família forças para continuar na profissão. Ela é mãe do Nicholas, Nadison e Nailson.
A Fundação de Saúde de Teresina, responsável pela UPA de Promorar, informou que o paciente já chegou à unidade em estado grave. De acordo com a Fundação, a equipe de plantão deu início ao processo de reanimação enquanto uma maca era providenciada. Devido à gravidade da situação, não foi possível interromper o processo para mudá-lo de local, de acordo com o órgão.