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Coronavírus

'Eu tive de reanimar o paciente no chão porque não havia leito'

Foto da técnica de enfermagem Polyena Santos Silveira ao lado de vítima do colapso do sistema de saúde viralizou nas redes sociais

24 mar 2021 - 16h50
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A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Promorar, na zona sul de Teresina (PI), estava lotada na tarde de quarta-feira, 17. Lotada mesmo. Seis pacientes gravíssimos e quatro pacientes graves. A unidade recebe pacientes de covid-19, mas não é exclusiva para a doença. Não havia leito, nem maca, monitor ou ventilador disponíveis. Por isso, a técnica em enfermagem Polyena Santos Silveira foi uma das profissionais que tentaram salvar a vida de um paciente com parada cardiorrespiratória no chão da unidade. Foram mais de seis ciclos de reanimação, mas a equipe não conseguiu trazer o paciente de volta. Ele morreu ali, no piso branco.

A técnica de enfermagem Polyena Silveira precisou tentar a reanimação de um paciente no chão da UPA de Teresina por causa da falta de leitos
A técnica de enfermagem Polyena Silveira precisou tentar a reanimação de um paciente no chão da UPA de Teresina por causa da falta de leitos
Foto: Reprodução / Instagram / Estadão

"Nós não tínhamos onde colocar o paciente. O lugar que tivemos foi o chão. O que podíamos fazer foi feito. Estamos com essa falta de equipamento porque a demanda de equipamentos está muito alta", diz a profissional de saúde de 33 anos e que também trabalha no Hospital de Urgência de Teresina. "A equipe médica não tem como resolver a falta de equipamentos, isso está acima da gente. Não dá pra ir na loja da esquina comprar um ventilador. Essas são coisas que precisam ser resolvidas nas esferas municipal, estadual e federal", critica.

O paciente entrou na sala carregado nos braços de um familiar. Ele estava em parada respiratória. Toda a equipe foi ao chão para tentar reanimá-lo. Na Sala Vermelha, a sala de estabilização da UPA, são três profissionais de saúde: um médico e duas técnicas de enfermagem. Foram 25 minutos de tentativa de reanimá-lo, mas não deu. O atendimento deixou a equipe exausta - a própria posição do corpo durante o socorro era ruim, desconfortável. Polyena estava com os braços tremendo, mas se manteve firme até o final.

Depois do atendimento, a técnica ficou uns cinco minutos chorando ao lado do corpo inerte, num clique que viralizou nas redes sociais. "Não é que tenha sido o mais difícil. Na profissão da gente, existem pacientes e situações que nos marcam muito. A gente leva a situação para o resto da vida".

Após tentativa de reanimar um paciente com parada respiratória, a técnica de enfermagem Polyena Silveira tenta se acalmar
Após tentativa de reanimar um paciente com parada respiratória, a técnica de enfermagem Polyena Silveira tenta se acalmar
Foto: Reprodução / Instagram / Estadão

A situação se multiplica em todo o País. À medida que aumenta o número de pacientes, diminui o número de equipamentos que a UPA tem à disposição. "Estamos sofrendo junto com a família daqueles pacientes que ficam lá fora esperando uma alta, uma transferência ou até mesmo um óbito pra poder ocupar o lugar", afirmou a profissional de saúde que encontra na família forças para continuar na profissão. Ela é mãe do Nicholas, Nadison e Nailson.

A Fundação de Saúde de Teresina, responsável pela UPA de Promorar, informou que o paciente já chegou à unidade em estado grave. De acordo com a Fundação, a equipe de plantão deu início ao processo de reanimação enquanto uma maca era providenciada. Devido à gravidade da situação, não foi possível interromper o processo para mudá-lo de local, de acordo com o órgão.

Estadão
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