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Coronavírus

EUA precisarão de 87,6 mil leitos a mais do que possuem

Capacidade hospitalar não vai atender demanda nos EUA, metade dos que precisarem não terão UTI

3 abr 2020 - 07h37
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Os Estados Unidos não terão leitos hospitalares e UTIs suficientes para atender todos os infectados pelo coronavírus. Médicos e diretores de hospital já vinham alertando para a falta de capacidade de atendimento hospitalar na última semana, quando os casos começaram a crescer rapidamente. Os EUA tinham 236 mil casos confirmados na quinta-feira, quando o mundo bateu a marca de 1 milhão de infectados pelo vírus.

Profissional de saúde com trajes de proteção entra em centro hospitalar em Nova York durante pandemia de Covid-19
31/03/2020 REUTERS/Brendan Mcdermid
Profissional de saúde com trajes de proteção entra em centro hospitalar em Nova York durante pandemia de Covid-19 31/03/2020 REUTERS/Brendan Mcdermid
Foto: Reuters

Um modelo estatístico elaborado pela Universidade de Washington, que tem embasado as políticas da Casa Branca, mostra que no dia 15 de abril os EUA atingirão o pico das internações, com 262 mil americanos precisando de um lugar nos hospitais. Com a capacidade de atendimento atual, um terço (87,6 mil) dos americanos podem ficar sem atendimento.

O número de unidades de tratamento intensiva atualmente disponíveis também não será suficiente. Pelo modelo estatístico, que é atualizado diariamente, os EUA precisarão de 39,7 mil unidades de terapia intensiva, 19,8 mil além da quantidade hoje disponível. Isso significa que os médicos não poderão colocar na UTI quase metade dos pacientes que deveriam estar em uma.

O dia seguinte, 16 de abril, será o pior em número de mortes: 2.644 óbitos em todo o país são esperados para esse dia, com uma variação nas previsões que fica entre 1.216 no melhor cenário e 4.136 no pior. Os dados são do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), um centro de pesquisa dentro da faculdade de medicina da Universidade de Washington.

O Estado de Nova York tem sido o foco do problema nos EUA. A previsão do estudo é de que o maior número de mortes em um mesmo dia no Estado seja registrado antes do pior cenário nacional, em 10 de abril, com 855 mortes. No pior cenário, o número de mortes por dia pode chegar a 1.090. Se confirmada a previsão, o Estado de NY sozinho chegará perto do recorde diário de mortes registrado em toda a Itália no pior dia da pandemia, quando 969 morreram no país.

Governos estaduais e federal têm corrido contra o tempo para expandir a capacidade hospitalar em Nova York. Um navio-hospital das Forças Armadas, o UNSN Comfort, foi enviado à Nova York para atender os casos urgentes que não forem relacionados ao vírus. A embarcação tem capacidade para 750 leitos e conta com 1,2 pessoas trabalhando, entre marinheiros e equipe médica.

O Central Park, parque que fica no coração de Manhattan, também será usado para tratar os moradores da cidade que precisarem de atendimento durante a pandemia. Um hospital de campanha começou a ser montado em tendas no gramado principal do parque para atender pacientes infectados pelo coronavírus e ampliar a capacidade do hospital Mount Sinai.

O primeiro modelo estatístico do IHME foi lançado em 26 de março, com dados compilados até o dia 24. Os casos da semana seguinte confirmaram as previsões dos pesquisadores. O estudo foi atualizado no dia 2 de abril, com dados até dia 1º.

No primeiro modelo, os pesquisadores estimaram que 81.114 mortes seriam registradas no que caracterizam como "primeira onda" da infecção. O número foi atualizado nesta quinta-feira para 93.531 mortes - variando entre 39.966 e 177.866 mortes. Na terça-feira, no seu pronunciamento mais sóbrio desde o início da crise gerada pela pandemia, o presidente Donald Trump disse que os americanos teriam de se preparar para algo entre 100 e 200 mil mortes causadas pelo vírus. Segundo ele, sem as políticas de confinamento o número de mortos poderia chegar a 2,2 milhões.

As projeções consideram que os americanos irão seguir as diretrizes já estabelecidas de restrição de circulação e que todos os Estados estabeleceram políticas de confinamento. Caso contrário, o número de mortes será maior. Atualmente, 90% dos habitantes do país vivem em Estados onde há políticas de distanciamento social e quarentena.

"Todas as estimativas apresentadas pressupõem a continuação das medidas estaduais de distanciamento social nos lugares que já as aplicam e a adoção, dentro dos próximos sete dias, de medidas nos Estados que ainda não as adotaram. Se essas políticas forem relaxadas ou não implementadas, os EUA podem experimentar mais mortes pela covid-19 e hospitais com mais sobrecarga do que o nosso modelo atual projeta", aponta o estudo.

Para Bruce Y. Lee, professor de políticas de saúde da City University of New York,os EUA sofrem agora o impacto do corte paulatino de investimento na saúde e da falta de coordenação central em todos os hospitais. "O problema é que hospitais passaram a ver leitos vazios como desperdício de dinheiro. Veem como se fosse um assento vazio no avião, mas no caso de leitos hospitalares é preciso encarar de outra maneira", afirma Lee.

Dilema médico

Os relatos de comunidades médicas e diretores de hospital de que os equipamentos existentes não darão conta do tratamento de todos os infectados têm se espalhado pelo país: já há notícias de hospitais em Nova York, Michigan, Massachusetts, Illinois e Califórnia com insuficiência de leitos. O The Covid Tracker Project, que acompanha o número de testes feitos nos EUA, aponta que 31.142 pessoas estão internadas atualmente em decorrência da covid-19 hoje no país.

A Itália já passou pelo drama que alguns médicos americanos podem enfrentar nas próximas semanas: a decisão de quem será priorizado no atendimento emergencial.

Na semana passada, o rascunho de uma circular interna de uma das empresas de saúde que opera em Detroit, Michigan, veio a público, já traçando cenários de como agir nessa situação.

O Estado de Washington, o primeiro a ser severamente afetado pela pandemia nos EUA, estabeleceu que os médicos devem avaliar diariamente a necessidade de manter um paciente com respirador. A ideia é liberar o equipamento para outros que necessitem naquele momento, mas tem sido apontada como perigosa pelos médicos, já que alguns pacientes severamente infectados pioram para só depois melhorar. Há caso de sobreviventes que precisaram usar o equipamento por semanas.

Em artigo publicado no jornal The New York Times na quarta-feira, professores da faculdade de direito de Harvard e de medicina na Universidade de Pittsburgh defenderam que médicos tenham imunidade criminal e sejam isentos de responsabilidade civil ao tomarem decisões durante a pandemia.

Respiradores

Os EUA terão, também no dia 15, o maior número pacientes em situação crítica que precisarão de respiradores mecânicos: 31,7 mil. Atualmente, há 12,7 mil respiradores no estoque de emergência do governo federal. Reportagem do New York Times mostrou, no entanto, que nem todos estão em condições de uso por problemas na manutenção. Trump tem dito que os estoques serão destinados aos Estados conforme necessidade.

O setor privado começou a fazer parcerias para produzir os equipamentos, em uma reconversão industrial das fábricas de automóveis, como GM e Ford. Mas a resposta da Casa Branca às necessidades hospitalares tem sido vacilante até agora, o que se tornou um obstáculo. Trump chegou a sugerir, no meio da crise, que os EUA não precisam de mais respiradores do que os atualmente disponíveis. Depois, disse que a Casa Branca ajudaria os Estados fornecendo milhares de equipamentos.

A General Motors se tornou um exemplo de como os sinais trocados de Trump podem dificultar a resolução da crise, que já não parece ser uma tarefa fácil em razão da corrida contra o tempo diante do crescimento das infecções. A GM concordou em fazer ua parceria com a Ventec Life Systems, uma companhia americana de dispositivos médicos, localizada no Estado de Washington, para usar a capacidade das indústrias para produzir respiradores.

Mas Trump culpou a própria montadora pela demora em começar a produzir os respiradores e invocou uma lei que dá poder ao governo de pressionar companhias a produzirem material de defesa nacional, pouco depois de ter minimizado a necessidade dos equipamentos.

Na quinta-feira, no Twitter, Trump afirmou que equipamentos médicos estavam sendo distribuídos aos Estados pelo governo federal e acusou governadores de fazerem uso político da situação. "Alguns têm apetite insaciável e nunca estão satisfeitos (política?). Lembrem-se, somos uma reserva de segurança para eles. Os reclamões deveriam ter estocado e estar prontos antes dessa crise. Outros Estados estão entusiasmados com o trabalho que temos feito. Estamos mandando muitos respiradores hoje, com milhares sendo construídos", disse Trump.

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Estadão
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