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Coronavírus

Festas de fim de ano fazem casos de covid disparar no Brasil

Gestores temem que alta de infecções e internações sobrecarregue sistemas de saúde; em alguns locais, já há fila por vaga em UTI

6 jan 2022 - 10h26
(atualizado às 10h47)
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O Brasil notificou 27,5 mil novos casos de covid-19 nesta quarta-feira, 5, elevando a média móvel de testes positivos nos últimos sete dias para 12,3 mil. O novo índice representa um aumento de 318% em relação ao registrado há exatas duas semanas e acende o alerta de especialistas e gestores que, preocupados com as aglomerações nas festas de fim de ano e o surto de influenza que atravessa o País, temem uma sobrecarga dos sistemas públicos de atenção primária à saúde.

Queima de fogos no Réveillon de Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro
Queima de fogos no Réveillon de Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro
Foto: JOÃO LAET/ESTADÃO CONTEÚDO

Os Estados com as maiores populações do País têm registrado aumento de infecções e internações por covid-19 e influenza. São os casos de São Paulo, Rio, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Em alguns locais, já há fila por vaga em UTI.

Não bastassem duas variantes altamente transmissíveis de covid (Ômicron) e influenza (H3N2, batizada Darwin), o ataque hacker às plataformas do Ministério da Saúde no final de novembro ainda reverbera no apagão de informações primordiais para o desenvolvimento de políticas públicas. É o caso do Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), que retomou as notificações, mas ainda não restabeleceu o acesso aos dados abertos de internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), referentes em sua maioria à gripe e ao coronavírus.

"Como não há nenhum acesso a esses dados completos, ficamos completamente de mãos atadas e olhos vendados. Dependemos muito dos sistemas locais de cada município, o que torna tudo mais difícil para avaliar o cenário nacional", explica Marcelo Gomes, coordenador do Infogripe, da Fiocruz, e pesquisador em Saúde Pública.

Apenas em São Paulo, a média móvel de hospitalizações diárias por SRAG mais que dobrou no último mês, chegando a 566 pacientes de covid ou influenza na última terça-feira. Já nesta quarta, outros quase 3 mil casos de coronavírus foram registrados no Estado, um indicativo de que o índice pode aumentar ainda mais nos próximos dias.

No Rio de Janeiro, o número de casos confirmados da covid-19 disparou desde meados de dezembro. No último dia 16, foram feitos apenas dezesseis novos registros, contra 435 há dois dias. Nesta quarta-feira, 5, a taxa de positividade de testes para a doença foi de 17%. No início do mês passado, essa taxa era 1%.

O teste genético que determina a variante do coronavírus é mais difícil de ser feito e mais demorado. Em todo o Estado, há 312 casos suspeitos sob testagem. Também não se sabe ainda o número de infecções simultâneas pela covid e pelo vírus da gripe.

Apesar de alarmante, a situação configura uma crise menor do que as duas primeiras ondas de covid que lotaram leitos de UTI pelo País em 2020 e 2021. No Rio, a taxa de ocupação das enfermarias na rede estadual está em 8%, enquanto a de UTIs Covid-19 é 9,7%. Nas unidades municipais há 24 pessoas internadas pela doença.

O Distrito Federal, que já considera ter transmissão comunitária da variante Ômicron, também espera maior procura pelos sistemas de atendimento primário à saúde e "total relação com o rechaço das festividades de fim de ano", mas descarta, pelo menos por ora, impacto nas mortes e internações, que ocupam apenas 47% dos leitos de UTI-Covid. A média diária de testes positivos para o coronavírus, entretanto, saltou de 65 para 365 entre dezembro e janeiro.

"A transmissão da Ômicron tem provocado um crescimento exponencial nos casos, mas não repercutirá nas internações hospitalares ou óbitos, que não sofreram nenhuma mudança de padrão", observa Fernando Erick Damasceno, secretário-adjunto de Saúde. "Já prevíamos esse aumento há mais ou menos um mês e meio. A pressão vai ser na porta de emergência e para quadros leves. Mas não é por ser gripe que seja algo banal. É fundamental estar vacinado, principalmente pela covid."

O Rio Grande do Sul, que passa por cenário similar e teve aumento de 740% na média diária de novos casos registrados nas duas últimas semanas, também segue a tendência de casos leves, com a maioria dos casos expressando sintomas como febre e mal estar. "Felizmente, por enquanto, não temos aumentos importantes de internação, nem em UTI e nem em leito clínico. Mas a lógica da doença é que mesmo com uma complexidade menor, ainda temos pessoas não vacinadas", avalia Ana Costa, secretária-adjunta de Saúde do Rio Grande do Sul.

"Existe uma combinação de fatores, na qual também está o represamento de dados. Temos uma variante rápida no nível de transmissão (Ômicron), um momento de circulação muito grande pelas férias e festas de fim de ano, além de a vacina não barrar esse tipo específico da influenza", explica.

Em Pernambuco, a preocupação vem do aumento expressivo na procura de unidades de saúde em praticamente todos os municípios. De acordo com dados oficiais divulgados na terça, 265 pessoas com doenças respiratórias graves aguardavam vagas de UTI e de enfermaria na rede pública. O tempo médio de espera para um leito pode variar de dois dias a uma semana.

Em nota, a Secretaria de Saúde informou que "é importante afirmar que a lista é muito dinâmica pois a quantidade de leitos vagos se renova a todo momento, devido às altas médicas, óbitos e à abertura de novas vagas". Ainda no fim do ano passado, o secretário estadual, André Longo, afirmou que Pernambuco vivia uma "epidemia de H3N2 dentro da pandemia de covid-19".

Procurado, o Ministério da Saúde não informou quando pretende restabelecer o acesso aos dados abertos do SIVEP. Também não respondeu se a pasta monitora o aumento nos casos e internações por SRAG no País e se há Estados com níveis mais preocupantes de infecções.

'Panorama crítico' na Bahia

O furacão de casos de SRAG no Brasil encontrou uma "tempestade perfeita" para se intensificar na Bahia, onde pelo menos 700 mil pessoas foram diretamente afetadas pelas chuvas fortes que seguem desde dezembro. O Estado já mapeou 1.447 pessoas infectadas pela influenza A, do tipo H3N2 de 1º de novembro a 4 de janeiro.

Ainda, 40% dos municípios baianos foram atingidos pelas chuvas, o que danificou uma boa parcela das unidades de saúde e, consequentemente, impactou as notificações. "Vivemos um panorama bem crítico", avalia Tereza Paim, secretária estadual de Saúde. Ela aponta que a nova média de 378 casos diários da covid na Bahia, ainda que subnotificada, também sofre influência das festas e aglomerações de fim de ano, da chegada dos cruzeiros ao litoral e até de voluntários que foram auxiliar nas enchentes e testaram positivo para o coronavírus.

"Por conta das chuvas, tivemos um contingente muito grande de pessoas desabrigadas e que agora não conseguem manter protocolos como uso de máscaras e distanciamento, porque estão aglomeradas em abrigos. O problema é que ainda não podemos refletir isso em um número tão real", avalia. Até o momento, o Estado contabilizou oito pessoas com "flurona", as infecções simultâneas de influenza e covid.

Apesar de reconhecer que espera uma "curva crescente" nos casos de SRAG ao longo das próximas semanas, Teresa aponta que o Estado se mantém melhor do que no ano passado em todos os índices. O total de pacientes internados em UTI foi de 687 para 295 e os casos ativos caíram de 4.648 para 2.206 na comparação entre esta quarta-feira e 5 de janeiro de 2021. "A gente percebe que o avanço da vacinação obviamente trouxe esse benefício.

Minas Gerais

Em 24 horas, o número de casos de covid somou 4.585. No boletim de terça-feira, foram 2.410 casos, portanto o número quase dobrou de um dia para outro. Na capital, Belo Horizonte, todos os leitos de enfermaria e UTI da rede pública estão ocupados.

O prefeito Alexandre Kalil, no entanto, não vê motivos para pânico. "Temos leitos com folga, mas que foram fechados com a estabilização da pandemia. Agora vamos reabrir. O que houve foi uma pataquada (trapalhada), como a gente diz aqui em Minas, um mal entendido", disse Kalil, referindo-se ao boletim da Secretaria de Saúde que informou ocupação de 105% dos leitos da rede SUS da cidade.

A reportagem tentou falar com o secretário de saúde, Jackson Pinto, mas ele disse por telefone que estava em reunião do comitê de enfrentamento à Covid e não poderia dar entrevista. Na manhã desta quarta-feira, a secretaria havia anunciado a criação de mais 70 leitos para os próximos dias, dos quais 20 já teriam sido abertos, segundo declaração do secretário à rede Globo. Neste momento, são 240 vagas para 258 pacientes. Em nota, a pasta ponderou: "É importante esclarecer que pacientes com quadros gripais, ainda sem resultado para a Covid-19, também podem estar internados nos leitos de UTI e enfermaria Covid, pois os sintomas são muito parecidos".

A secretaria "reforça ainda que a taxa de ocupação de leitos de enfermaria Covid acima de 100% apresentada no Boletim Epidemiológico e Assistencial não indica que o número excedente represente fila. Estes pacientes além dos 100% estão internados nos hospitais utilizando todos os recursos que um paciente com esse perfil necessita, como insumos e equipamentos".

O prefeito disse que não pode criticar a população pelo aumento de casos de Covid. "Foi essa nova cepa". Sobre o crescimento simultâneo dos casos de gripe, Kalil disse ainda que a prefeitura está intensificando a mobilização para que as pessoas se vacinem. "Eu mesmo não tinha me vacinado contra gripe e tomei a vacina por acidente. Fiz o exame para a covid, deu negativo, e a moça do laboratório me perguntou: 'o senhor não quer tomar a vacina da influenza de uma vez, foi aí que tomei. Eu tomo todo ano, mas com esse negócio de covid acabei esquecendo", contou.

Segundo o prefeito, assim como ele, a população também acabou se esquecendo. Enquanto a imunização completa contra o coronavírus está em 90%, contra o influenza está em 60%. "Mas estamos monitorando e acompanhando. Podemos abrir 20 leitos por dia", afirmou. No entanto, a ocupação das enfermarias covid voltou a crescer, chegando a 107,5%, na terça-feira, era de 105%.

Procurada, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais esclareceu que o expressivo registro de casos "é devido a fatores como o lançamento de dados represados por parte dos municípios nos últimos dias e a instabilidade do sistema de registro do Ministério da Saúde, associados ao aumento esperado de casos notificados em decorrência da transmissão comunitária da variante Ômicron no território e das aglomerações nos feriados de fim de ano".

A secretaria informou ainda que segue avaliando o cenário epidemiológico e monitorando diariamente a ocupação dos leitos e demais indicadores. "Caso haja necessidade, novos leitos poderão ser remobilizados para o atendimento de pacientes".

Segundo dados do painel de monitoramento, nesta quarta-feira, 5, há 4.323 leitos de UTI em Minas. A taxa geral de ocupação desses leitos é de 50,56%. Embora não tenha informado a proporção de leitos destinados à covid e doenças respiratórias ocupadas, o Estado afirmou que os leitos ocupados pela doença representam 6,75% dos leitos totais de UTI do Estado. No caso das enfermarias, a taxa geral de ocupação é de 84,93%, dos quais 4,40% por causa da covid. /COLABORARAM ROBERTA JANSEN, MÔNICA BERNARDES E ALINE RESKALLA

Estadão
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