Fiocruz: Ocupação das UTIs está no pior nível desde julho
Seis Estados, além da capital do Rio estavam em nível crítico, com mais de 80% dos leitos de UTI ocupados; 15 estão em alerta
A ocupação de leitos de UTI para pacientes de covid-19 já é a pior no País desde julho do ano passado, em um dos momentos mais críticos da pandemia de covid-19 no País, de acordo com levantamento feito pelo Observatório Covid-19, da Fiocruz. Em 21 Estados e na cidade do Rio de Janeiro, o nível é de alerta ou crítico.
A iniciativa, que monitora dados da doença desde que o primeiro caso foi registrado no Brasil, avalia semanalmente o número de casos e de mortes, assim como a ocupação de leitos de UTI. Neste último quesito, medido desde julho quinzenalmente, a situação começou a piorar na semana de 7/12 e não tem arrefecido desde então.
Na última semana de 2020 (que vai até o dia 4 de janeiro), seis Estados (Amazonas, Amapá, Pernambuco, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal), além da capital do Rio estavam em nível crítico, com mais de 80% dos leitos de UTI ocupados. E outros 15 estavam em nível de alerta intermediário, com mais de 60% de ocupação. Somente seis Estados tinham ocupação inferior a isso.
No fim de novembro, 16 Estados estavam com nível baixo de ocupação dos leitos, e somente dois (Amazonas e Espírito Santo), além da cidade do Rio, tinham ocupação alta, num claro sinal de piora da pandemia no País, que vem apresentando uma retomada da alta de casos e de mortes nas últimas semanas.
Nesta quinta-feira, 14, de acordo com levantamento feito pelo consórcio de imprensa, foram registrados 68.656 novos casos e a média móvel de mortes está em mil. Na última semana de dezembro, de acordo com o boletim epidemiológico do observatório divulgado nesta quarta-feira, 13, com dados obtidos até o dia 4, havia uma média de 40 mil novos casos e 600 mortes por dia.
O observatório revelou também a situação crítica de leitos em várias capitais. Nove estão com altas taxas de ocupação de leitos de UTI covid-19 para adultos: Manaus (89,4%), Boa Vista (83,3%), Macapá (94,4%), Belém (100%), Belo Horizonte (80,5%), Vitória (80,1%), Rio de Janeiro (99,8%), Curitiba (80,0%) e Campo Grande (100,0%). Outras duas tinham taxas superiores a 70%, Recife (77,5%) e Porto Alegre (73,8%).
Para Margareth Portela, pesquisadora do Observatório Covid-19 da Fiocruz, há um claro sinal de piora. "A coisa está muito grave. Na central de regulação do Rio na quarta tinha apenas dois leitos livres no setor público. E mesmo que a maioria dos Estados esteja em nível intermediário de alerta, tem de olhar com cuidado, porque se tiver uma explosão de casos, a velocidade para mudar a estrutura hospitalar para dar conta da demanda não é a mesma em que os casos podem crescer", disse ao Estadão.
Desde julho, na análise feita pelo boletim, observa-se "um padrão que sugere a mudança de um quadro mais desfavorável para um quadro mais favorável no fim de agosto e nova piora a partir de novembro e, especialmente, dezembro".
Os pesquisadores começaram a medir a situação dos leitos depois de a pandemia afetar mais fortemente os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, assim como os da região Norte e Nordeste, e captou o momento em que a pandemia atingiu mais as regiões Centro-Oeste e Sul.
"O mês de outubro se mostrou com o melhor cenário, com a maior parte dos estados com nível baixo de ocupação de leitos de UTI covid-19 para adultos. A partir de novembro têm permanecido em alerta Estados da região Norte - Amazonas, Roraima e Amapá -, Pernambuco, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e, no último mês, o Distrito Federal. A cidade do Rio de Janeiro também tem permanecido na zona crítica do indicador", indica o relatório.
"Por um lado, é absolutamente necessário romper o ciclo de transmissão do vírus, por meio de vacinas aplicadas pelo SUS como um direito de todas e todos e um dever do Estado. Por outro, é necessário simultaneamente romper o ciclo vicioso e de retroalimentação das desigualdades sociais e iniquidades em saúde, pois não haverá saúde para alguns se não houver saúde para todos e todas", alertam os pesquisadores.