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Coronavírus

"Fique em casa" também marcou gripe espanhola no Brasil

Pandemia no início do século XX chegou ao Brasil e deixou cerca de 38 mil mortos. Gripe vitimou o presidente eleito Rodrigues Alves

27 mar 2020 - 13h58
(atualizado às 14h01)
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Brasil, São Paulo, SP. 02/11/1918. Capa do Estado de S. Paulo. A gripe espanhola faz milhares de vítimas. Em São Paulo, morrem 8 mil pessoas em quatro dias.
Brasil, São Paulo, SP. 02/11/1918. Capa do Estado de S. Paulo. A gripe espanhola faz milhares de vítimas. Em São Paulo, morrem 8 mil pessoas em quatro dias.
Foto: Estadão Conteúdo

A gripe espanhola provocou a morte de milhões de pessoas ao redor do mundo no início do século passado e assim que chegou ao Brasil, provavelmente em setembro de 1918, já causou estragos, com muitas baixas por todos os cantos do país. Ainda no primeiro mês da disseminação da doença, havia dúvidas, indefinições sobre o que fazer para combatê-la e muita teimosia dos que não acatavam a ordem do Serviço Sanitário.

Tudo parecido com o que ocorre agora, com o novo coronavírus, exatamente um mês depois de revelado o primeiro caso de contaminação no Brasil.

Entre os que apostavam em iniciativas caseiras para derrotar a peste espanhola, era grande o número de adeptos a receitas de sucos de limão e de cachaça que, na visão deles, seria o melhor remédio para a cura. Não contavam, no entanto, com o apoio de médicos e cientistas.

Já o governo central fazia campanha para que a população evitasse aglomerações e determinou o fechamento de escolas, proibindo ainda reuniões em grupos. As autoridades do país consideravam que visitas e passeios seriam o modo mais rápido de espalhar a moléstia. Portanto, o mantra ‘fique em casa!’ não nasceu com a vinda do coronavírus.

Outro ponto a se destacar é a liderança de casos em São Paulo de acometidos pela gripe espanhola naqueles primeiros 30 dias da peste no Brasil. Sanitaristas atestaram que isso se dava, em parte, pelo clima variável do Estado, o que proporcionaria mais problemas pulmonares.

Em entrevistas aos jornais da época, os homens de confiança do presidente Rodrigues Alves, que morreria em 1920 por causa da gripe, explicavam a sucessão de decisões para minimizar a propagação do vírus. Uma delas era impedir que as crianças, sem aula, se encontrassem com colegas. Tinham de ficar em casa com os pais.

No Rio, nesse período, o número de casos também foi expressivo e isso trouxe transtornos para a rede de saúde, que chegou a um colapso, pois muitos enfermeiros e médicos tiveram de ser internados, vítimas da doença. Não havia lugares para acomodar os pacientes nem mesmo nos corredores dos hospitais. Farmácias, padarias e hotéis fecharam na cidade em razão do número de funcionários infectados.

Os serviços de telefonia também acusaram o golpe, com a quantidade de atendentes acamados. Famílias inteiras adoeceram no Rio sem que houvesse médicos para atendê-las.

Os sintomas não eram tão diferentes de quem contrai o coronavírus com manifestações: febre, dor de cabeça e coriza, em geral. Para se recuperar, a orientação seguia os preceitos atuais para a pandemia que começou na China: boa alimentação e passar o dia em locais arejados (quarto e sala com janelas abertas ou no quintal ou varanda de casa).

Nos hospitais de todo o Brasil, caldo de galinha e caldo de carne sem gordura eram servidos. Às vezes, faltavam galinhas e a iguaria era preparada com carne de pombo.

Na edição de 18 de outubro de 1918, o Jornal O Estado de S. Paulo registrou que a “grippe hespanhola” se alastrou com velocidade “espantosa” na cidade de Niterói – coincidentemente o município do Rio que registrou há poucos dias a primeira morte pelo novo coronavírus no Estado.

A peste só se despediria do Brasil em 1920, deixando um rastro de cerca de 38 mil mortos. Estima-se que no mundo todo, esse número de vítimas tenha sido entre 50 milhões e 100 milhões.

Fonte: Silvio Alves Barsetti
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