FSC Brasil faz alerta para importância do consumo consciente de produtos florestais
Organização de certificação promove evento virtual sobre o tema nesta sexta, 25, às 17h, no Youtube
Em um momento em que desmatamentos e incêndios são destaque no mundo, o FSC - organização de certificação de mercado que verifica as boas práticas do uso de florestas - quer reforçar a importância do manuseio responsável e da necessidade da preservação de ecossistemas.
"O maior desafio é engajar o consumidor. A roda só vai girar e apontar para o futuro sustentável quando ele ficar mais consciente e procurar saber de onde vem a madeira que está na sua lista de desejos", diz a diretora executiva do FSC Brasil, Aline Tristão.
Criado em 1993, o FSC verifica as boas práticas do uso de florestas, tanto nativas como de plantações florestais. Quando organizações, povos indígenas e ribeirinhos ou empresas se propõem a fazer o manejo da floresta, o FSC verifica se está de acordo com a legislação ambiental e trabalhista.
Para reforçar a importância do manuseio responsável de florestas, a organização promove nesta sexta-feira, 25, na chamada FSC Friday, um debate virtual sobre o consumo consciente de produtos florestais. O evento será no Youtube, às 17h.
A seguir, a diretora executiva do FSC Brasil fala dos desafios do combate ao desmatamento e da necessidade de se comunicar uma agenda positiva do uso da floresta.
O presidente Jair Bolsonaro disse na ONU que quem coloca fogo na floresta é o "índio e o caboclo"; e o vice-presidente Hamilton Mourão, que também é presidente do Conselho da Amazônia, disse que a divulgação das queimadas está sendo superdimensionada. O quanto a postura do governo federal atrapalha no combate ao desmatamento?
Não adianta ser negacionista. As informações são de domínio público. A gente está deixando um problema grande ficar ainda maior. Já estamos vendo sinais de organizações internacionais que não querem comprar daqui por causa da insegurança. Vai impactar no território que depende daquela cadeia produtiva, empregos que vão ser perdidos. A gente está demonstrando não ter a capacidade de Estado para resolver o problema de controlar e combater o desmatamento e os focos de incêndio. O que se espera do governo é que ele faça a parte dele: fiscalizar. Quando o presidente aponta dedos para os potenciais culpados, é pior ainda. Temos muitos bons exemplos de povos indígenas e ribeirinhos, cooperados e comunitários certificados pelo FSC que estão dando um duro danado para fazer tudo direito. Essas comunidades vão ter que dar um duro maior ainda para comunicar que não fazem parte do grupo que estão desmatando e destruindo o meio ambiente.
Se o próprio Executivo federal sinaliza que o desmatamento não é um problema tão grande assim, como fazer para combater a mensagem de que crimes ambientais não vão ser punidos?
Comunicando a agenda positiva do uso da floresta, que é como eu chamo os bons exemplos de quem usa a floresta e mantém ela de pé. Infelizmente o que aparece é esse lado do crime, e isso impacta toda a sociedade. É preciso contrapor essas questões com o que existe de positivo. Toda vez que falarem que é o "índio, ribeirinho ou caboclo" (que está desmatando) é importante mostrar o que de fato eles estão fazendo, inclusive em tempos desafiadores como este de pandemia.
Como demonstrar que a árvore vale tanto ou até mais que o solo desmatado para pastagem?
Quando você diz "árvore", é a floresta como um todo, né? Com as plantas e os bichos dentro. Eu diria que é com ciência, tecnologia e inovação. Muitas organizações trabalham nisso, não é novo. A palavra da moda agora é bioeconomia, que estuda os ativos da floresta e inclusive os animais para o desenvolvimento econômico do País. Quem vai te garantir, por exemplo, que o remédio contra o coronavírus não pode vir de um sapinho da Amazônia?
Quais são desafios que estão por vir?
A gente tem como transformar o negacionismo em oportunidade. O FSC é uma certificação de mercado. E mercado é o que? Produtos. O maior desafio é engajar os consumidores no consumo consciente. A roda só vai girar e apontar para o futuro sustentável quando o consumidor ficar cada vez mais consciente e procurar saber de onde vem aquela madeira de ipê que está na lista de desejos dele. Esses desmatamentos e queimadas são enormes, não pense que não vai haver impacto na agricultura, nas colheitas, nos anos que estão por vir. Essas queimadas e desmatamento afetam o regime de chuva. Curitiba está passando por um período de seca, São Paulo já passou por isso.