General passa 'cola' a ministros durante entrevista
Braga Netto controla as perguntas que serão respondidas por demais ministros no novo formato da coletiva sobre coronavírus
No novo formato de entrevistas coletivas do Palácio do Planalto, o ministro-chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto, controla as perguntas que serão respondidas e até passa "cola" para os colegas. Foi o que ocorreu nesta terça-feira, 31, quando Braga Netto voltou a intervir para que os ministros Sérgio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) não dessem suas opiniões sobre o que acham da manutenção do isolamento social.
"Os ministros concordam plenamente com a posição do ministro Mandetta", interviu Braga Netto, em referência ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, quando jornalistas cobraram uma resposta.
Mandetta afirmou que o governo fará "o máximo de distanciamento social" possível como medida de prevenção à Covid-19, mas que o modelo não é estanque. O ministro citou Paulinho da Viola ao dizer que é preciso fazer como um velho marinheiro que, durante o nevoeiro, leva o barco devagar. "Vamos passar na marcha certa, nem tão parado que a gente possa ser arrastado, nem tão acelerado que a gente possa cair em uma cachoeira. Vamos todo mundo junto (...) que vamos chegar a um porto seguro."
Discreto, Braga Netto usa pedaços de papel durante as entrevistas para passar mensagens aos outros ministros.. Nesta terça-feira, 31, ele enviou informações para Guedes e para o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. Cuidadoso, ele toma o cuidado de dobrar o papel algumas vezes para evitar que o teor seja flagrado por câmeras.
Em mais uma tentativa de unificar o discurso, o governo determinou nesta semana que todas as informações sobre coronavírus sejam prestadas exclusivamente no Palácio do Planalto, e não mais em entrevistas no Ministério da Saúde. Na segunda-feira, no primeiro dia desse novo modelo, Braga Netto também entrou em cena quando Mandetta foi questionado por repórteres sobre a possibilidade de ser demitido pelo presidente Jair Bolsonaro, uma vez que o chefe do Executivo já o desautorizou várias vezes.
"(Vamos) deixar claro para vocês: não existe essa ideia de demissão do ministro Mandetta. Isso aí está fora de cogitação no momento. Tá certo? Não existe", disse Braga Netto. Mandetta aproveitou a deixa para fazer uma observação irônica. "Em política, quando a pessoa fala 'não existe', o professor já fala: 'Existe'."
Em outro momento, questionado sobre a atitude do presidente, Mandetta ensaiou responder, mas a assessoria do Planalto se apressou em informar que a reunião tinha acabado. Os demais ministros que participaram do encontro deixaram o Salão Oeste em silêncio. A entrevista foi encerrada repentinamente, sem que as oito perguntas previstas fossem feitas.
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