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Coronavírus

Governadores pedem a Bolsonaro a imediata compra de vacinas

Carta diz que Estados estão 'no limite de suas forças e possibilidades' e cobra que presidente aja com celeridade

4 mar 2021 - 20h10
(atualizado às 21h16)
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BRASÍLIA - Um grupo de 14 governadores enviou carta ao presidente Jair Bolsonaro cobrando a "imediata adoção de providências necessárias" para viabilizar a compra de vacinas contra a covid-19. Os governadores dizem que os Estados estão envidando todos os esforços para enfrentar o aumento de casos e mortes relacionadas ao novo coronavírus e que estão "no limite de suas forças e possibilidades". Cobram do governo que aja com celeridade, afirmam que não há espaço para "procrastinar" ações e procedimentos e alertam que "o futuro não nos julgará com benevolência".

"Se não tivermos pressa, o futuro não nos julgará com benevolência. Por isso, pedimos ao governo federal, especialmente por meio dos Ministérios da Saúde e das Relações Exteriores, esforço ainda maior para obter, em curto prazo, número consideravelmente superior de doses. Caso seja possível, sugerimos também o requerimento de apoio e intermediação da Organização Mundial da Saúde", diz a carta.

Funcionários manuseiam frascos com doses da vacina contra Covid-19 CoronaVac no Instituto Butantan, em São Paulo
22/01/2021 REUTERS/Amanda Perobelli
Funcionários manuseiam frascos com doses da vacina contra Covid-19 CoronaVac no Instituto Butantan, em São Paulo 22/01/2021 REUTERS/Amanda Perobelli
Foto: Reuters

"Esses imunizantes são hoje para o Brasil e para os brasileiros muito mais do que uma alternativa ou medicamento: representam a própria esperança da população e, nesse sentido, nenhum governante pode correr o risco de não esgotar todas as possibilidades ou de procrastinar ações e procedimentos. Cada minuto, cada hora e cada dia são preciosos e decisivos, e constituem a triste diferença entre viver ou morrer."

Os Estados mencionam ter instalado nos últimos meses milhares de novas vagas em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), contratado profissionais de saúde em diversas áreas e comprado equipamentos. Além disso, destacam ter investido em orientação da população sobre medidas de distanciamento social por meio de "estratégias claras de comunicação".

"Esse conjunto de ações, ainda que indispensável, demonstra estar próximo do exaurimento. Ninguém discorda de que, nas próximas semanas, talvez meses, a pandemia seguirá ceifando vidas, ameaçando, desafiando e entristecendo todos nós", diz a carta.

"Nesse contexto, a vacinação em massa, com a maior brevidade possível, é a alternativa que se afigura como a mais recomendável, e, provavelmente, a única capaz de deter a pandemia, permitindo que o Brasil, seus Estados e Municípios, aos poucos, possa retornar à normalidade, com as devidas medidas sanitárias e econômicas."

A carta é assinada pelos governadores de Alagoas, Renan Filho; do Amapá, Waldez Góes; da Bahia, Rui Costa; do Ceará, Camilo Santana; do Espírito Santo, Renato Casagrande; do Maranhão, Flávio Dino; do Mato Grosso, Mauro Mendes; do Pará, Helder Barbalho; da Paraíba, João Azevedo; de Pernambuco, Paulo Câmara; do Piauí, Wellington Dias; do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra; do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; e do Sergipe, Belivaldo Chagas.

Na segunda-feira, 1º, 18 governadores reagiram ao movimento de Bolsonaro de tentar repassar a eles a responsabilidade pelo aumento de casos e mortes relacionadas à pandemia. No fim de semana, Bolsonaro divulgou em suas redes sociais informações sobre repasses bilionários da União aos Estados, sem deixar claro, no entanto, que a maioria das transferências era obrigatória - para custeio e pessoal, o que ocorre todos os anos - e que não havia recursos adicionais para o combate à covid-19.

Ao contrário do movimento do início desta semana, a carta de hoje não conta com a assinatura do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do Paraná, Ratinho Jr, do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, e de São Paulo, João Doria.

Nesta quarta-feira, 3, o Ministério da Saúde informou aos prefeitos que iria comprar as vacinas da Pfizer e da Janssen, após meses rejeitando as propostas dessas empresas. Na terça-feira, 2, a Câmara aprovou projeto que já tinha recebido aval do Senado e permite à União assumir responsabilidades por eventuais efeitos adversos das vacinas das duas empresas.

A maioria dos Estados enfrenta esgotamento de leitos de UTI, com ocupação superior a 80%, e diversos municípios não têm mais vacinas para aplicar. Nesta semana, o Brasil bateu recorde de mortes por covid por dois dias, com quase 2 mil mortes.

Na carta, os governadores reconhecem haver "extraordinária procura" por vacinas no mundo junto a diversos fornecedores, "mas também percebemos que é preciso agilizar mecanismos de compra, explorar e concretizar todos os meios de aquisição disponíveis, para vacinar, no menor espaço de tempo possível, a maior quantidade de brasileiros".

Eles mencionam ainda a chegada da nova variante P1, já em transmissão comunitária, "que tem se revelado ainda mais letal, prejudicando os esforços para proteger a vida de nossas cidadãs e cidadãos, bem como de suas famílias".

"O porcentual de vacinas aplicado no Brasil, a despeito do empenho de governadores, prefeitos e profissionais da saúde em todo o País, ainda é muito baixo e, no ritmo atual, infelizmente, atravessaremos o ano lamentando a irreparável perda de vidas, além da baixa expectativa de imunizar efetivamente todos os grupos prioritários", diz a carta.

"Os exemplos cada vez mais bem-sucedidos de países que estão contendo a pandemia por meio da vacinação, combinada com outras práticas de prevenção e higiene, não remete a outro caminho que não seja o esforço político e diplomático de todos -- liderado no plano das relações internacionais pelo governo brasileiro -- a fim de garantir, desde logo, novos carregamentos de vacinas."

Estadão
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