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Coronavírus

Governo cancelou licitação de avião que ajudaria Manaus

Modelo de aeronave poderia levar 31 toneladas de carga no porão; Europa recorreu a transferências aéreas para desafogar hospitais

16 jan 2021 - 08h01
(atualizado às 08h52)
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Quando disse hoje que a FAB não tinha mais Boeings que poderiam ajudar a levar suprimentos para Manaus, o vice-presidente Hamilton Mourão esqueceu de contar que a Aeronáutica não tem mais esses aviões por causa de duas decisões do governo de Jair Bolsonaro. A primeira foi o cancelamento em fevereiro de 2019 de uma licitação para a compra de uma aeronave usada Boeing-767-300ER por US$ 14,4 milhões - fora o suporte. A segunda foi outro cancelamento de licitação. Desta vez ele atingiu o leasing da mesma aeronave, que estava sendo alugada desde 2016. Esta segunda decisão aconteceu em 12 de agosto de 2020, quando a pandemia de covid-19 já havia matado 100 mil pessoas no Brasil.

Presidente Jair Bolsonaro e vice-presidente Hamilton Mourão 10/12/2018 REUTERS/Adriano Machado
Presidente Jair Bolsonaro e vice-presidente Hamilton Mourão 10/12/2018 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Adriano Machado / Reuters

Só em seu porão, a aeronave poderia levar 31 toneladas de carga, fora a possibilidade de ser adaptada para o transporte de pacientes em uma emergência como a que Manaus vive. Para se ter uma ideia do que essa capacidade de carga significa, basta dizer que a maior aeronave hoje da FAB, o cargueiro KC-390, pode levar 26 toneladas de equipamento. A FAB tem quatro KC-390, mas um deles foi enviado em meio à crise para os EUA a fim de participar de treinamento militar com o Exército americano. Apesar disso, a Aeronáutica afirmou que a falta da aeronave não prejudica a logística para socorrer Manaus.

Quatro meses antes da decisão de não se comprar o Boeing 767-300ER, a cidade de Bérgamo, na Itália, e a França haviam transportado pacientes para outras regiões para desafogar hospitais. nem mesmo o exemplo do que acontecera na Europa acendeu a luz vermelha no governo para a possível necessidade de se comprar a aeronave. Um tenente-brigadeiro consultado pelo Estado que acompanhou o processo de perto creditou ao comandante da Aeronáutica, brigadeiro Antonio Carlos Moretti Bermudez, a decisão de cancelar a compra da aeronave. De acordo com o oficial ela poderia ser importante nesse momento. Na época da decisão, a FAB chegou a informar que o cancelamento da compra se devia a razões orçamentárias. Temia-se que, com a crise da covid-19, houvesse uma queda da arrecadação e, preventivamente, decidiram economizar o recurso. Além disso, alegava-se que a crise causada pela pandemia modificava os valores do mercado internacional de aeronaves.

O Estadão procurou o Comando da Aeronáutica ontem à tarde para saber as razões do cancelamento da compra. O comando informou às 20 horas que "o recebimento do cargueiro multimissão KC-390 Millennium, que aumentou a capacidade de transporte da Força" estava entre as razões para deixar de comprar o Boeing 767-300ER. Também informou que 3 dos 4 KC390 da FAB estão empenhados na operação de auxílio ao Amazonas. Na tarde de ontem, quinta-feira, dia 14, o ministro da saúde, general Eduardo Pazuello, disse que seis aviões da FAB seriam mobilizados para levar oxigênio para Manaus. O governo ainda tentava emprestar um supercargueiro com o governo americano para ajudar na ponte-aérea do oxigênio para o Amazonas. Por fim, a FAB informou ainda que na quinta-feira, dia 14, outras duas aeronaves C-130 Hércules pousaram no Amazonas com 18 toneladas de cilindros de oxigênio.

Estadão
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