Governo resume carta de economistas a "ato contra Bolsonaro"
Documento, que defende o uso de medidas efetivas no combate à pandemia, causou desconforto no presidente, mas não vai alterar seu discurso anti-lockdown, apoiado por vários setores empresariais
A carta aberta que juntou banqueiros e economistas em defesa de medidas efetivas de combate à pandemia foi interpretada no governo como um "movimento político" contra o governo Jair Bolsonaro nessa fase mais dura da pandemia da covid-19. Num momento de queda da popularidade, o documento, que começou a ser construído em conversas de economistas em grupos WhatsApp, ganhou força no fim de semana com mais de 500 assinaturas, causou enorme desconforto, mas o presidente não mudou a estratégia de repetir o discurso contrário ao lockdown, que tem apoio nos setores empresariais que dão sustentação ao governo.
Para auxiliares do presidente, aqueles que assinaram a carta são mais "dos mesmos críticos de sempre" para desgastar o governo e reforçar o discurso de uma saída de centro no quadro de polarização política entre Bolsonaro e o ex-presidente Lula, com a pandemia da covid-19 por trás.
Na equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, que recebeu uma versão da carta, a ordem é ficar em silêncio. Auxiliares, do ministro, avaliam, porém, como "injustas" as críticas de que não houve ação com medidas de combate à pandemia. Citam, por exemplo, o auxílio emergencial. Eles lembram que o pedido na carta dos economistas pedindo vacinação em massa e cuidados é defendido por Guedes.
A expectativa do governo é que outros setores também se posicionem contrários às medidas de restrição de mobilidade, apontadas por autoridades sanitárias como essenciais para que eviar que o colapso hospitalar seja disseminado por todo o País. Não há sinais de que Bolsonaro vai abandonar esse discurso porque ele está convencido de que as medidas de isolamento são uma "armadilha" de afundar ainda mais a economia sem chances de recuperação para garantir a sua reeleição.
Bolsonaro já foi avisado do quadro extremamente ruim da economia, com impacto na arrecadação, das vendas e queda do PIB no primeiro semestre. O presidente vê nas medidas de restrições um entrave a mais.
O governo prevê que a situação da pandemia no País vai piorar muito ainda nas próximas três semanas e até lá o presidente terá que administrar a "fervura" política que vai aumentar no setor produtivo e no Congresso. Em 30 dias, a expectativa no governo é de que o avanço da pandemia comece a ser travado e, em 60 dias, o quadro já seja outro com a aceleração da vacinação da população pelo aumento da produção no Brasil e da chegada das novas vacinas que estão sendo compradas, entre elas 138 milhões de da Pfizer e Janssen.