Grupo técnico do Ministério da Saúde defende vacinação de crianças contra covid-19
Em reunião um dia após a aprovação da Anvisa para aplicação da Pfizer no público de 5 a 11 anos, CTAI seguiu a decisão da agência de forma unânime: 'Benefícios são muito maiores que os riscos'
A Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI) apontada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, como responsável por avaliar a vacinação contra a covid em crianças e adolescentes de 5 a 11 anos, já se manifestou a favor da imunização nessa faixa etária. Em reunião na última sexta-feira, 17, os membros da CTAI foram unânimes em recomendar a incorporação da população pediátrica no Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Neste sábado, 18, Queiroga anunciou que a vacinação em crianças e adolescentes de 5 a 11 anos só seria decidida no Brasil em 5 de janeiro, apesar de ter sido indicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na quinta-feira, 16. O prazo seria necessária para que a CTAI analisasse o tema.
"A introdução desse produto no âmbito de uma política pública requer uma análise mais aprofundada. No caso de imunizantes, essa análise técnica é feita com apoio da CTAI", disse Queiroga, em vídeo publicado nas suas redes sociais, acrescentando que a posição do Ministério da Saúde seria apoiada no parecer da CTAI.
Um dia antes da declaração, entretanto, a CTAI já havia se manifestado favorável à vacinação de crianças a partir de 5 anos. Uma nota do órgão obtida pela reportagem do Estadão e ainda não publicada nas plataformas do Ministério da Saúde ainda afirma que os membros da Câmara seguiram "unanimemente" a decisão da Anvisa. De acordo com Queiroga, o órgão ainda avaliaria a decisão da Anvisa até o próximo dia 5.
A decisão da CTAI foi baseada e dados epidemiológicos nacionais e internacionais sobre o impacto da covid nas diferentes faixas etárias, "considerando o risco de infecção, transmissão, e agravamento (hospitalização e morte); dados de ensaios clínicos, sobre imunogenicidade, reatogenicidade, segurança e eficácia das vacinas de diferentes fabricantes na população pediátrica em distintos países do mundo, além de informações sobre a segurança desses imunizantes em larga escala, entre outros".
Pelo menos dez dos 24 integrantes da câmara técnica leram e apoiaram a nota. Entretanto, não assinaram o documento. Um dos motivos são os ataques do presidente Jair Bolsonaro contra os servidores da Anvisa, além dos ataques sofridos por pesquisadores da Fiocruz do Amazonas, no ano passado, por causa de uma pesquisa sobre covid e cloroquina.
O documento ainda traz dados do Sistema de Informação de Vigilância da Gripe (SIVEP-Gripe), segundo os quais 10.356 crianças entre 0 e 11 anos foram diagnosticadas com Síndrome Respiratória Aguda Grave por covid-19 no ano passado; destas, 722 evoluíram para óbito. Já neste ano, houve 12.921 ocorrências na mesma população, com 727 mortes.
"Destacamos, também, que as agências regulatórias e de saúde pública do Canadá, Estados Unidos da América, Israel, União Européia, dentre outras, já aprovaram o uso da vacina pediátrica da Pfizer/BioNTech em sua população, baseadas na eficácia, segurança e cenário epidemiológico local", continua a CTAI. "Até o momento, os dados disponibilizados apontam para a manutenção da avaliação favorável à vacinação dessas crianças. [...] Ou seja, os benefícios são muito maiores do que os riscos, pilar central de avaliação de qualquer vacina incorporada pelos diversos programas de vacinação, seja no Brasil ou no mundo."
Esta não foi a primeira vez que a CTAI se manifestou favorável à inclusão do público pediátrico no PNI. O calendário de aquisição das vacinas para 2022 começou a ser discutido pelo órgão em 1º de outubro. Uma semana depois, Rosana Leite de Melo, secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 do próprio Ministério da Saúde, apresentou quatro cenários de planejamento possíveis para o próximo.
Na ocasião, os membros da CTAI indicaram que fosse seguido o quarto modelo apresentado, classificado como "ideal". Nele, estava prevista a compra de doses suficientes para vacinar as crianças de 0 a 11 anos; aplicar a dose de reforço para o restante da população, até 59 anos; e doses adicionais para vacinar os idosos acima de 60 a cada seis meses. Foi estimado que, ao todo, seriam necessárias aproximadamente 282 milhões de doses para seguir o PNI nesses moldes. / COLABOROU IZAEL PEREIRA