Infectologista alerta sobre novos casos de covid-19 no Rio
Cristiane Lamas antevê agravamento da pandemia com medidas precipitadas de flexibilização
Professora de Infectologia da Unigranrio (Universidade do Grande Rio) há 20 anos, Cristiane Lamas já começou a ouvir de colegas que trabalham em várias unidades de saúde do Estado o que ela mesma previa no início de junho, quando medidas de flexibilização passaram a ser adotadas no Rio: o relaxamento da quarentena fora de hora aumentaria os casos de covid-19.
“Talvez esses dados ainda não tenham entrado para as estatísticas. Mas, no último fim de semana, por exemplo, obtive relatos de médicos amigos sobre o aumento, novamente, do número de infectados e de óbitos nas redes pública e privada do Rio por causa do novo coronavírus”, disse Cristiane, em entrevista ao Terra.
Para a infectologista, a razão disso é simples. O Estado do Rio passou a minimizar as restrições num momento em que a contaminação na região ainda estava em alta, apesar de menos acelerada.
“O risco agora é que tenhamos pequenas marolas em cima da grande onda. Na melhor das hipóteses, vamos nos manter no mesmo platô por mais algum tempo.”
Cristiane reforçou a necessidade do uso sistemático da máscara e lembrou que países da Europa, como França e Espanha, foram muito mais severos no limite à mobilidade das pessoas antes e durante a fase aguda da doença por lá, em comparação ao Brasil e ao Rio, especificamente. E que franceses e espanhóis só resolveram flexibilizar o isolamento social dois meses depois do pico da covid-19 em seus territórios.
“Aqui (no Rio) nem chegamos ao pico e a abertura do comércio já é uma realidade. O período de incubação da doença é, em média, de cinco dias – do momento da exposição à manifestação dos primeiros sintomas. Como o agravamento da doença, quando ela acontece, se dá entre o 7º e o 12º dia do início dos sintomas, vamos começar a verificar agora o que significou essa flexibilização precipitada. Teria sido melhor agir com mais cautela.”
A infectologista advertiu os que agem com desdém quanto aos riscos de contaminação, por estarem convictos de que mais cedo ou mais tarde vão se infectar. “Sim, é uma realidade. Talvez seja preciso que 70% da população contraia o vírus para que a pandemia chegue ao fim. Mas, não custa ressaltar, mesmo nos casos mais brandos o desconforto, o mal-estar, é muito acentuado. E ninguém deve querer passar por essa experiência.”