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Coronavírus

Ivermectina não é tratamento para covid-19; saiba mais sobre o remédio

Fármaco criado na década de 70 é indicado para tratar infestações de parasitas como piolho e sarna; farmacêutica Merck, responsável pelo desenvolvimento do medicamento, disse que não há dados que sustentem o uso do remédio contra a doença

19 mar 2021 - 17h52
(atualizado em 23/3/2021 às 16h58)
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Medicamento usado para tratar infestações de parasitas como piolho e sarna, a ivermectina não tem eficácia comprovada contra a covid-19. As principais autoridades mundiais de saúde continuam ressaltando que não existe tratamento comprovadamente eficaz contra o novo coronavírus, assim como a atualização mais recente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre o assunto que também aponta que "não existem estudos conclusivos que comprovem o uso desse medicamento para o tratamento da covid-19, bem como não existem estudos que refutem esse uso".

Além disso, entidades médicas brasileiras repudiaram o suposto 'tratamento precoce' do governo federal contra o novo coronavírus, que envolve a ivermectina e outros remédios sem eficácia comprovada, como a cloroquina.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) não recomendam o uso de ivermectina para propósitos diferentes daqueles para os quais seu uso está autorizado. A FDA, órgão de vigilância sanitária dos Estados Unidos, esclarece ainda que a ivermectina não foi aprovada para prevenção e tratamento da covid-19 nos Estados Unidos e que as pessoas "não devem tomar qualquer remédio contra a doença a não ser que tenha sido prescrito por um médico e adquirido por fonte legítima".

Saiba mais sobre o remédio:

Como usar ivermectina?

Medicamentos que contenham ivermectina são sujeitos à prescrição médica, ou seja, não podem ser dispensados nas farmácias sem a apresentação do receituário médico, o que comprova que o paciente foi devidamente avaliado a respeito de sua condição clínica por profissional habilitado. A forma de uso do medicamento indicada nas orientações de bula do medicamento de referência Revectina®, consiste em administração em dose única, oral, dependendo do agente etiológico. Dessa forma, a dose irá depender da avaliação clínica de cada paciente, considerando o parasita diagnosticado.

Para que serve?

Medicamentos contendo ivermectina são registrados pela Anvisa na classe terapêutica de antiparasitários. As patologias para as quais o remédio possui indicação terapêutica comprovada cientificamente por estudos clínicos são:

  • Estrongiloidíase intestinal: infecção causada por parasita nematoide Strongyloides stercoralis.
  • Oncocercose: infecção causada por parasita nematoide Onchocerca volvulus. A ivermectina não possui atividade contra parasitas Onchocerca volvulus adultos. Os parasitas adultos residem em nódulos subcutâneos, frequentemente não palpáveis. A retirada cirúrgica desses nódulos (nodulotomia) pode ser considerada no tratamento de pacientes com oncocercose, já que esse procedimento elimina os parasitas adultos que produzem microfilárias.
  • Filariose: infecção causada por parasita Wuchereria bancrofti.
  • Ascaridíase: infecção causada por parasita Ascaris lumbricoides.
  • Escabiose: infestação da pele causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei.
  • Pediculose: dermatose causada pelo Pediculus humanus capitis.

Para as indicações de tratamento de parasitoses, conforme mencionado, a ivermectina possui eficácia e segurança comprovada, desde que utilizada de forma racional, mediante avaliação, prescrição e acompanhamento por profissionais de saúde habilitados.

Quais as reações adversas e efeitos colaterais?

A ivermectina é contraindicada para uso por pacientes com hipersensibilidade ao medicamento ou aos demais componentes da formulação. "Há contraindicação para uso por pacientes com meningite ou outras afecções do sistema nervoso central que possam afetar a barreira hematoencefálica, devido aos seus efeitos nos receptores GABA-érgicos do cérebro. Medicamentos contendo ivermectina são contraindicados para uso por crianças com menos de 15 kg ou menores de 5 anos", orienta Marcos Machado, presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP).

Conforme informações constantes do registro do medicamento de referência podem ocorrer raramente as seguintes reações: diarreia e náusea, astenia, dor abdominal, anorexia, constipação e vômitos. Relacionadas ao sistema nervoso central podem ocorrer: tontura, sonolência, vertigem e tremor. As reações epidérmicas incluem: prurido, erupções e urticária.

"As seguintes reações adversas foram relatadas com o uso da droga: edema facial e periférico, hipotensão ortostática e taquicardia. Cefaleia e mialgia relacionadas a droga ocorreram em menos de 1% dos pacientes. A hipotensão (principalmente a hipotensão ortostática) e a exacerbação da asma brônquica foram relatadas desde a comercialização da droga em vários países. Foram relatadas as seguintes anormalidades em testes de laboratório durante as experiências com o medicamento: eosinofilia transitória, elevação das transaminases e aumento da hemoglobina (1%). Leucopenia e anemia foram verificadas em um paciente", acrescenta Machado.

Na intoxicação acidental ou na exposição significativa a quantidades desconhecidas de formulações veterinárias de ivermectina em humanos, seja por ingestão, inalação, injeção ou exposição de áreas do corpo, os seguintes efeitos adversos foram relatados com maior frequência: erupção cutânea, edema, dor de cabeça, tontura, astenia, náusea, vômito e diarreia.

Entre outros efeitos adversos relatados estão convulsões, ataxia, dispneia, dor abdominal, parestesia e urticária. Para mais informações .

Não há eficácia comprovada cientificamente sobre o uso de ivermectina no tratamento de covid-19

Segundo o CRF-SP, é importante ressaltar que, até o momento, "não existem evidências científicas que comprovem a eficácia de ivermectina para tratamento e/ou prevenção de covid-19, portanto, o seu uso deverá ser resguardado apenas para as indicações constantes em sua bula", alertou a entidade.

"A American Society of Health System Pharmacists - ASHP, publicou documento com informações sobre as principais evidências científicas para tratamentos medicamentosos da covid-19. Segundo a última atualização do documento mencionado (em 11 de março deste ano), não há dados publicados até o momento de ensaios clínicos randomizados e controlados para apoiar o uso no tratamento ou prevenção da covid-19", acrescenta o presidente do CRF-SP. Acesse aqui.

"Sendo assim, até o presente momento não há protocolos recomendados por autoridades sanitárias regulatórias que fundamentem doses indicadas de ivermectina em humanos para tratamento da covid-19 ou posologia a ser seguida", alertou Machado.

Posso beber álcool com ivermectina?

Os efeitos da alimentação na disponibilidade sistêmica da ivermectina não foram estudados. "Consumir álcool com ivermectina pode aumentar os níveis sanguíneos ou aumentar os efeitos colaterais da ivermectina. Isso pode causar erupção cutânea, inchaço, dor de cabeça, tontura, fraqueza, náusea, vômito, diarreia, dor de estômago, convulsões, falta de ar e dormência ou formigamento", segundo consta no Drugs Interactions.

A ivermectina ataca o fígado?

Na descrição feita na base de dados Drugs Interactions sobre efeitos colaterais em sistemas/órgãos cita o seguinte sobre o sistema hepático: os efeitos colaterais hepáticos incluíram ALT e/ou AST elevados.

Uso de ivermectina como profilaxia (termo que denomina medidas utilizadas na prevenção ou atenuação de doenças)

Não há evidências de eficácia e segurança da ivermectina para prevenção de covid-19 em humanos. A American Society of Health System Pharmacists publicou ainda um documento com informações sobre as principais evidências científicas para tratamentos medicamentosos na covid-19. para saber mais.

Bula da ivermectina

para acessar a bula do medicamento de referência que possui ivermectina.

Por que a ivermectina foi associada como tratamento da covid-19?

Conforme o Estadão Verifica apurou, o fármaco entrou no panorama da pandemia depois que uma pesquisa da Universidade Monash, da Austrália, identificou que uma dose muito acima do recomendável do medicamento eliminou o novo coronavírus em uma cultura de células - ou seja, em testes de laboratório. Os próprios pesquisadores, no entanto, dizem que o remédio não pode ser usado para tratamento da covid-19 até que testes clínicos comprovem a sua eficácia mediante dosagens seguras em humanos.

Merck divulgou comunicado dizendo que o remédio que ela mesma produz não funciona contra a covid-19

A farmacêutica Merck, que no Brasil opera com o nome MSD e é responsável pelo desenvolvimento do medicamento ivermectina, informou em comunicado em fevereiro que não há dados que sustentem o uso do remédio contra a covid-19.

A declaração da empresa de que não existe base científica para a recomendação do vermífugo contra a covid-19 está em linha com as orientações das principais autoridades mundiais de saúde pública, para as quais a doença causada pelo novo coronavírus não tem cura conhecida até o momento.

Merck criou a ivermectina na década de 1970 e continua no mercado

O Estadão Verifica checou as informações sobre a origem e a fabricação da ivermectina em dois artigos. O primeiro foi publicado pela American Chemical Society em sua página oficial, e o segundo por cientistas do Instituto Kitasato de Tóquio no periódico Proceedings of the Japan Academy.

De acordo com essas fontes, o desenvolvimento da ivermectina começou com o pesquisador japonês Satoshi Omura, que firmou uma parceria com laboratórios da Merck, ainda na década de 1970, para coletar e enviar amostras de compostos medicinais promissores. Após inúmeros testes, os cientistas obtiveram um antiparasitário eficiente a partir de uma substância chamada avermectina, produzida por uma bactéria presente no solo da cidade japonesa de Kawana.

A ivermectina entrou no mercado em 1981, destinada ao uso veterinário. Mais tarde, a Merck testou o remédio em humanos, em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), e obteve a aprovação em 1987. A patente da farmacêutica sobre a ivermectina expirou em 1996, permitindo a outras indústrias comercializarem produtos com a fórmula, com mostra outro artigo divulgado por pesquisadores da James Cook University, da Austrália.

Estadão
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