Lemann mostra confiança na recuperação da AB Inbev após o choque da covid: 'Vamos voltar a crescer'
Empresário, contudo, fez uma espécie de mea culpa durante live e disse que a companhia não tinha as pessoas certas e não prestaram atenção ao mundo consumidor que se formava
O empresário Jorge Paulo Lemann, acionista da AB Inbev, mostrou confiança na recuperação da empresa após o choque da covid-19. "Depois da pandemia, que nos freou, vamos voltar a crescer", declarou Lemann neste domingo, 7, em live com empresários e políticos intitulada "Live do Parlatório". Ele ressaltou que a companhia vive processo de mudanças no conselho, como a substituição do CEO, Carlos Brito. "Pessoas mais novas e modernas vão entrar".
Lemann, contudo, fez uma espécie de mea culpa durante o evento virtual e evitou atribuir a perda de mercado da AB Inbev exclusivamente à crise econômica trazida pela covid-19. "Nós ficamos confortáveis na posição em que estávamos. Não tínhamos as pessoas certas e não prestamos atenção ao mundo consumidor que se formava, com mais opções de escolha", reconheceu. "Estamos em fase de adaptação a uma nova realidade. Empresas com muito sucesso tem dificuldades de se adaptar", completou.
Em linha com a avaliação de economistas de diferentes correntes, Lemann afirmou que o Brasil precisa de política fiscal clara e baixar os números da covid-19 para atrair investimentos. "Precisamos ser ortodoxos e tratar bem os estrangeiros." Ele citou as recentes rusgas do governo brasileiro com líderes europeus em torno do desmatamento da Amazônia.
Em tom pessimista, Lemann mostrou desconforto com a situação política brasileira, sobretudo diante da falta de progresso nas reformas econômicas, como a tributária e a administrativa. "Não sabemos direito para que lado vai o Congresso, agora", declarou. Na última segunda-feira, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) foram eleitos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, respectivamente, com as bênçãos do Palácio do Planalto. Apesar do discurso oficial pró-reformas, abraçado pelo mercado financeiro, a nova organização do Congresso Nacional representa um avanço do centrão, historicamente avesso a pautas como privatizações e redução da máquina pública.
A paralisação de reformas é um dos diagnósticos de Lemann para o que chamou, durante o evento virtual, de "pé atrás" de investidores com o Brasil. "Hoje, há muita liquidez. A economia anda mal e as bolsas não param de subir. Mas o Brasil não tem performado bem. A legislação não é constante, a regra muda toda hora", declarou.
Lemann aproveitou a live para defender melhorias na educação pública brasileira, citando como exemplo positivo o caso de Sobral (Ceará), e para destacar o trabalho da Fundação Lemann no setor. "A economia você conserta. Mas sem educação, você não tem estabilidade social para tocar os projetos que o Brasil precisa", afirmou. "Vamos treinar pessoas que queiram ir para o governo. A solução para o Brasil é ter gente mais preparada".
A deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) é um exemplo de figura política que estudou com bolsa da Fundação Lemann - e foi citada pelo empresário, durante a live. "Ela é mais de esquerda do que eu. E a turma bolsonarista já acha que sou de esquerda", brincou com os presentes.
O ex-presidente Michel Temer participou da live e elogiou a atuação de Lemann dentro do empresariado brasileiro, que retribuiu o enaltecimento. "Saudades do seu governo. As coisas funcionavam naquela época", declarou o empresário, que hoje mora na Suíça.