Liberação de cloroquina para casos leves divide médicos
Conselho Federal de Medicina reconhece que ainda não há comprovação científica do tratamento
O Conselho Federal de Medicina dividiu a opinião de médicos ao determinar nesta quinta-feira a permissão para uso de cloroquina e hidroxicloroquina a pacientes com casos leves da covid-19. A entidade reconhece que ainda não há comprovação científica do tratamento, mas afirma que a liberação ocorre devido à excepcionalidade da pandemia.
A Sociedade Brasileira de Infectologia disse não comentar estudos em andamento, mas informou que continua válida sua nota de esclarecimento emitida no fim de março, em que diz ser "compreensível" o uso de cloroquina para pacientes críticos, mas manifestou "preocupação" que um tratamento possa causar mais prejuízo que benefícios. Não indica o uso preventivo nem para casos "não críticos".
Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, já defendia a cloroquina, combinada com anticoagulante, em início de tratamento contra a covid-19 e elogia a decisão. "O que vale na vida do médico é experiência. Receito cloroquina há 40 anos para pacientes com artrite reumatoide, malária, entre outras e nunca tive efeitos colaterais", afirma ele, que reforça a necessidade de prescrição médica para tratar os doentes.
Para Antonio Carlos, é fundamental que a cloroquina seja usada no tratamento para covid-19 sempre com prescrição médica e somente após os primeiros sintomas. "O medicamento tem potencial de destruir o agente invasor, mas não de regenerar o pulmão, por exemplo. E deve ser aplicada logo nos primeiros sintomas da doença associada ao Zinco, Azytromicina e ao uso de anticoagulante - talvez até Aspirina - como parte do tratamento. É urgente ressaltar que a cloroquina não pode ser utilizada como forma de prevenção, muito menos como automedicação", escreveu, em sua página do Facebook.
Irma de Godoy, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, deixa a decisão pela prescrição nas mãos de médicos. "Não há informação científica suficiente para preconizar o uso rotineiro da cloroquina ou qualquer outra forma de tratamento. O médico que assiste o doente tem liberdade de prescrever o que achar mais apropriado, sabendo de todas as limitações."
A Associação de Medicina Intensiva Brasileira atualizou em 17 de abril as recomendações para abordagem em medicina intensiva do covid-19. O conteúdo, de 77 páginas. informa que há testes sendo realizados sobre o uso desses medicamentos no tratamento do coronavírus e informa que "é incerto o benefício do uso de cloroquina/hidroxicloroquina em pacientes graves com covid-19."
A Sociedade Brasileira de Reumatologia alerta que reações colaterais mais comuns pelo uso do medicamento são relacionadas ao trato gastrointestinal, como desconforto abdominal, náuseas, vômitos e diarreia. Podem ocorrer toxicidade ocular, cardíaca, neurológica e cutâneas.
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