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Coronavírus

Médico narra fraude do kit covid e ordem para tirar máscara

Walter Correa de Souza Neto se desligou da Prevent Senior e foi um dos profissionais que entregou um dossiê na CPI denunciando o caso

7 out 2021 - 13h48
(atualizado às 14h46)
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Walter Correa de Souza Neto
Walter Correa de Souza Neto
Foto: Pedro França / Agência Senado

O médico Walter Correa de Souza Neto relatou uma série de episódios de suposta fraudes, de incentivo a tratamento precoce e falta de autonomia dos profissionais de saúde na Prevent Senior. A empresa é alvo da CPI da Covid por ter supostamente feito experimentos com remédios sem eficácia comprovada em pacientes vítimas do novo coronavírus.

O médico se desligou da Prevent e foi um dos profissionais que entregou um dossiê na CPI denunciando o caso. Em depoimento à comissão nesta quinta-feira, 7, ele relatou ter sido pressionado a prescrever hidroxicloroquina a pacientes de covid.

"Eu não fazia isso fora da Prevent, mas, na Prevent, eu chegava a fazer e dizia e avisava sempre os pacientes de que não havia evidência", relatou o médico. "Essa coisa que foi citada de que os pacientes 'ninguém vai a óbito, ninguém intuba', isso já era muito claro, a gente sabia que era fraude."

Médico relata que foi obrigado a retirar máscara

Segundo Walter Correa de Souza Neto, a falta de autonomia dos profissionais na Prevent Senior era tanta que não tinham autonomia nem para proteger a própria vida. Ele contou que, em certa ocasião, no início da pandemia, chegou a ser obrigado a retirar a máscara para não assustar os pacientes.

Segundo o médico, a ordem partiu da Dra. Paola, a mesma que havia dito "prescreva cloroquina pra quem espirrar. Espirrou, dá cloroquina nele", numa troca de mensagens apresentada à CPI pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) na reunião de quarta-feira, 6.

O profissional da saúde também revelou um "ambiente hostil" nos hospitais do plano de saúde. "A gente vivia num ambiente assim em que todas as pessoas ficavam muito receosas de contrariar qualquer orientação."

Fui obrigado a não usar máscara, diz ex-médico da Prevent:

Prevent buscava reduzir custos

Walter Correa de Souza Neto afirmou ainda que a busca da Prevent Senior pela redução de custos no tratamento de pacientes é anterior à pandemia de coronavírus. O profissional disse ainda que a empresa cerceava a autonomia médica e restringia a realização de exames.

"Era um modelo basicamente voltado para os custos, e não para o bem-estar que o paciente precisava. Algumas situações não são exclusivas da pandemia. São coisas que acontecem na Prevent de forma crônica e estão inseridas na cultura da empresa. Existe um pequeno número de médicos, muitas vezes evolvidos com a direção, que acaba até induzindo outros médicos ao erro. Pela imposição de não ter autonomia médica, não poder pedir determinado exame. Às vezes, você tinha que negociar com quem era seu superior para fazer determinada coisa e aquilo não era autorizado. Às vezes, o paciente evoluía com gravidade ao óbito. Isso era uma política antiga da empresa".

Omissão de mortes

O ex-funcionário da Prevent Senior disse que o motivo da morte de Anthony Wong foi de fato omitido. Segundo o médico, seria ruim para a política da empresa que todos soubessem que Wong — um pediatra e toxicologista se notabilizou por defender o 'tratamento precoce' — morreu de covid-19. A testemunha, que trabalhou na empresa por 7 anos, negou ainda ter tido acesso ao prontuário da vítima de forma ilegal.

Em resposta a Renan Calheiros (MDB-AL), o médico Walter Correa de Souza Neto disse que não sabe a razão de não constar covid-19 no atestado de óbito de Regina Hang. Ela era mãe do empresário Luciano Hang e ficou internada no hospital Sancta Maggiore, da rede Prevent Senior.

Declarações de Bolsonaro podem ter influenciado pacientes

Questionado novamente por Renan Calheiros se as declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre o chamado 'kit covid' podem ter influenciado pacientes, o médico Walter Correa de Souza Neto disse que sim. Anteriormente, Renan exibiu vídeos em que Bolsonaro estimula o uso de medicamentos como cloroquina e hidroxicloroquina.

"Pode induzir as pessoas ao erro. É uma desinformação que pode fazer com que as pessoas deixem de tomar outras medidas. Acreditando que há um tratamento inicial eficaz, podem deixar de se proteger, evitar vacinas e outras condições que podem acabar levando a pessoa ao óbito", afirmou o médico.

* Com informações da Agência Senado

Estadão
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