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Coronavírus

Motoristas de aplicativos devolvem 160 mil carros alugados

Crise provocada pela pandemia de coronavírus derrubou movimento dos aplicativos de transporte, que puxaram os ganhos das locadoras nos últimos anos; para frear devoluções, preço da locação caiu para até R$ 10 por semana

18 mai 2020 - 08h06
(atualizado às 08h43)
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Responsáveis por terem puxado os ganhos das locadoras nos últimos anos, cerca de 160 mil motoristas de aplicativos devolveram os carros alugados por causa do baixo movimento após a crise do coronavírus. Sem ter espaço para guardar os veículos, empresas estão alugando áreas de estacionamento. Para frear devoluções, o preço da locação foi reduzido à metade. E, para quem insiste na entrega do carro, são oferecidas tarifas de R$ 10 por semana para mantê-lo, ainda que parado.

27/07/2018. REUTERS/Mike Segar
27/07/2018. REUTERS/Mike Segar
Foto: Reuters

"É como se a empresa alugasse minha garagem e eu ainda tenho de pagar", diz Daniel Marcílio, de 42 anos. Motorista do Uber desde outubro, ele aluga um modelo Fiat Argo da Localiza e pagava R$ 494 por semana, preço que caiu para R$ 247.

Ainda assim Marcílio quis devolver o carro, pois estava fazendo em média cinco corridas por semana. Antes da crise eram dez por dia. "Me ofereceram ficar com o carro por R$ 10 e decidi esperar mais um pouco. Mas, se a situação não melhorar, vou devolver na próxima semana."

Paulo Miguel Junior, presidente do conselho da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), confirma que os pátios estão lotados e muitas empresas tiveram de alugar pavilhões e fazer acordos com estacionamentos e supermercados que estão com áreas ociosas para guardar parte das frotas. O setor abriga cerca de 10 mil empresas, com 75 mil funcionários.

"Temos frota de 997 mil veículos que normalmente estão em circulação, e ninguém estava estruturado para essa situação inusitada", diz Miguel. Segundo ele, só para uso de aplicativos havia 200 mil carros alugados, e 80% foram devolvidos. A locação diária, para consumidores comuns, caiu 90%. Para frotas terceirizadas, a queda foi de 20%.

Segundo o executivo, cada empresa passou a adotar estratégias de acordo com seu fluxo de caixa, mas, mesmo com promoções como a de tarifas de R$ 15 a R$ 50 para locação diária o movimento segue fraco.

A Localiza informa apenas que "conta com estrutura logística robusta para alocar sua frota" e que "em sua rotina de atividades já utiliza espaços de terceiros para abrigar temporariamente parte de seus carros em função da sazonalidade de demandas". Em relação às tarifas, afirma que a média diária por carro caiu de R$ 69,22 no primeiro trimestre para R$ 47 em abril.

Freio no crescimento

A pandemia de coronavírus também vai frear o crescimento das locadoras. O setor saltou de faturamento de R$ 13,8 bilhões em 2016 para R$ 21,8 bilhões no ano passado. Neste ano, o resultado deve, no máximo, repetir o de 2019. A previsão inicial era crescer até 10%, diz o presidente da Abla.

Maior locadora do País, com frota de 323,3 mil carros, a Localiza divulgou sexta-feira que obteve lucro de R$ 230,9 milhões no primeiro trimestre, 9,5% superior ao de igual período de 2019. Mas admite que abril já foi fortemente impactado pelos efeitos da pandemia. A frota média alugada no mês passado teve redução de 33% em relação à media do primeiro trimestre, caindo para 105,2 mil veículos. O número de carros seminovos vendidos baixou de 38,3 mil ao mês no primeiro trimestre para 2,46 mil em abril. No período, várias das 652 lojas do grupo ficaram fechadas.

"Em razão da queda nos volumes do aluguel e da venda de seminovos, a companhia vem adotando medidas de redução de custos, despesas e investimentos" informa a Localiza. Também efetuou suspensões de contratos de trabalho e redução de jornada e salários de funcionários, além de ajuste de quadro. O grupo informa, contudo, que mantém caixa de R$ 2 bilhões.

A Movida, que também divulgou balanço na semana passada, registrou seu primeiro prejuízo trimestral desde a abertura do capital, em fevereiro de 2017. O grupo teve perda de R$ 114,4 milhões, ante lucro de R$ 42 milhões em igual intervalo de 2019.

Segundo o diretor financeiro da Movida, Edmar Lopes, o prejuízo é resultado da previsão de depreciação do valor da frota de 119 mil veículos, em razão da crise e da demora na retomada do mercado. "Antes desse efeito, nosso resultado era de R$ 55 milhões de lucro", ressalta. A empresa tem R$ 1,1 bilhão de caixa.

Segundo Lopes, o número de carros devolvidos não é tão significativo, pois a empresa, logo no início da pandemia, reduziu preços e criou novas tarifas de acordo com a quilometragem rodada. Também lançou tarifas reduzidas para a locação diária e vendas de seminovos pela internet, com entrega na casa do cliente. Ele acredita que, no pós-pandemia, haverá demanda maior de serviços por aplicativos e de locação individual, pois a tendência é de que, por algum período, muitas pessoas vão evitar o transporte público.

Estadão
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